segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Folhas secas.

Essa é uma das poucas estórias que tenho em mente...São muitas coisas das quais preciso me lembrar. Mais é uma estória digna de muita magia. Eu, com o poder de cromos, ainda me perco nesses pequenos fragmentos.
Era uma praça da qual se podia dizer que o tempo havia esquecido, perto de um vilarejo em algum lugar do mundo. Uma praça que surgia várias lendas que habitava o imaginário humano. Nela, bem ao centro, existia uma árvore- um elegante e velho carvalho. Árvore dos mestres druidas a fazer seus ritos à natureza, onde o espírito guardião de cada árvore- dríades- bailava aos ventos que dançavam um balé de folhas secas. Árvore gravada com uma marca de um “T”, e que muitas pessoas amarravam fitas vermelhas em busca de ter seus pedidos realizados. Em outros tempos diziam que ali nos enormes caules jorravam uma fonte de águas, nesse tempo a praça era um enorme bosque, que muitos diziam que se podia ser eterno. E havia contos com passar dos anos que se ouvia dos lábios dos anciões que aquela árvore era maldita, e levava a outros mundos onde a vida não podia ser compreendida.
Mas é nesse estranho mundo místico que começa nossa estória, num tempo contemporâneo... Ainda resistia ao tempo aquele frondoso carvalho, e naquela praça uma mãe levava seu filho para passear. A mãe, uma jovem bonita, sentou em um banco de concreto e começou a folhear uma revista de fofocas. Ali entretida em mundo de celebridades e glamour, ela ia. Enquanto seu filhinho brincava com seu carrinho, foi quando se aproximou da árvore. O vento passou como assim que se vê a vida, e arrancava da ponta dos galhos as folhas ressequidas. Sobre o chão as folhas voavam ao ar, foi quando o menino se permitiu.

Faz de conta acordado de um jovenzinho: A semente e o pó.
Eu sou um pássaro, posso voar? Estou em outro mundo, e preciso resgatar a princesa dos grandes troll’s e orc’s. Vou pegar minha espada. Meu deus será que posso vencer o grande senhor das trevas? Mas o mestre Loui me disse que era só descobri o segredo de viver para sempre. Será que minha mamãe pode me vê? Quantas folhas!!! Acho que é a magia do mestre... Ele dá me dando forças. Papai, você deve está em outro mundo atrás da árvore, eu vou atravessar para te ajudar. Meu paizinho. As folhas são passarinhos de uma asa só, e as borboletas são apenas aquelas flores que o vento tirou para dançar. O céu é o telhado de um mundo inteiro. Papai me ensinou a fechar os olhos quando tiver medo. O sonho não tá só no travesseiro, tá aqui... Posso sentir.

Era uma primavera... Sonhos podia se deixar cortar, e voltar inteiro novamente.
Havia flores na vegetação.
O menino esticava os braços e começa a girar no meio das folhas. Numa das mãos tinha um graveto. Ele se fazia de avião. Por de traz da árvore havia uma figura que nenhum mortal poderia apreciar. Era um ser esquelético e maltrapilho, trajava uns farrapos negros como a crosta de sua pele. Tinha uma capa que cobria seu rosto, parecia não querer ser vista... Ninguém poderia vê-la , somente eu. Eu sabia o que ela procurava, ela era ausente de cor. E havia um fascínio pelas cores e pelo que lhe era a vontade de pertencer das coisas vivas. Ela era inanimada, apática e fria. Ela sentiu o cheiro fresco do menino, ele queria vê o pai. Mas ela rodou pela árvore.
Fazia calor. O sol radiava a pele quente... O gramado não era mais verde, mas marrom palha. Já não podia pensar na vida sem amor. E não cabe o amor nesse pequeno espaço amarelo.
Era outro tempo, remoto quem sabe... Não lhe importa o tempo na narração. Afinal, te dou uma literatura fresca de seus espaços! Ali naquela praça havia um córrego perto, a senhora sombria pensava, e olhava as águas. Foi quando um mancebo sentou na margem. Levantou-se, parecia triste e desejava a morte. O jovem foi e sentou perto do caule do carvalho, começou a passar os dedos pelas folhas secas sobre o solo. E jogar no ar sem nenhum proposito de sentido. Com os olhos longe de seu corpo.

Fruto verde.
Que tempo o quê! Droga minha mãe não me entende... Só sabe me cobrar! O que eles querem também: prender-me para sempre? Família idiota! Quero crescer e sumir de perto deles. Queria morrer... Se eu tivesse coragem para me matar. Doce aninha... Pelo menos se você me amasse, nunca olharia para um estranho como eu. Meu rosto coberto de espinhas... Minha família só tem um bando de atrasados, nasci em um lugar errado! Preciso esfriar a cabeça... As folhas poderiam me ajudar! Se elas caírem para lá eu vou embora, e se elas caírem para ali vou encarar eles e vou dizer que não vou fazer direito! Quero é ser piloto de avião! Droga! É melhor fechar meus olhos! Acho que posso chorar, ninguém vai vê aqui.

A senhora ainda ergue o queixo para sentir o fresco daquela alma. Sentiu uma fragrância escarlate de cor azeda. Ele queria, mas havia muito ar de confusão. Ela apenas rodeou pelo carvalho arrastando sua capa pelas folhas. Até eu temia aquele olhar que ela escondia sobre um capuz.
O carvalho perdeu completamente as folhas. Uma árvore despida, a beleza já não existia. Ali a feiura.
A senhora já era o tédio como uma torneira quebrada que só faz pingar. No carvalho, havia um homem aflito que mexia sentado nas folhas. Eram inúmeras, uma piscina de folhas!

Colhendo maduro no pé.
Ahh... Como o tempo passa, hoje posso compreender o que mamãe dizia. Saudades! Queria trabalhar menos, queria poder está mais perto de meu filho. Hoje tento entender esse ser que sou. Vim aqui e sentar ter um pensar nas mudanças... Acho que preciso tentar outro casamento. Saudade da juventude: mulheres!!! Amores! Passou tudo... Acho que somente meu filho será para sempre. Errei mas é preciso melhorar, e tentar mostra o meu filho onde ele pode ir.
Antes eu não percebia que na aparência existia o vazio. É claro, folhas caem e ficam secas: nada fica igual para sempre... Hoje já não fecho os olhos.

O homem havia chegado no que ele mesmo não pudera ver, mas chegará tão perto de si como nunca antes. Ele se achou. A vida será sempre um achado e perdido.
A senhora trevosa rodeou ele, e sentiu um acre perfume de fruto pronto para mordida. Ela não pensou outra coisa a não ser o outro lado do carvalho. E foi lá.
Chovia... Em algumas partes caia uma névoa. Ali era o clima de que a senhora já estava habituada, nada era fatal, nada era pronto, ela podia seguir o percurso. Ela sentia suas mãos o que tremeu, qualquer hora era para ela mesma. Nada de intervalos, as mãos só tinha que tremer! Ela sentiu sede, era seu dever! Ela apenas existia para essa tarefa... É um idoso, ele já parecia esperar. Ela tirou o capuz de vez.

Não há inverno para aqueles que entendem a pausa do renascer da primavera.
Eu olhava... Eu entendi, ali podia ver cada parte como filme. Claramente, a vida me fez um aluno que mal sabe, só queria aprender. Senti-la pulsar firme em minhas mãos.
Passei tantos momentos de que pensei não poder resisti, mas vivi! Entrei nos personagens que me couberam, e entendi que nem sempre há aplausos. E meio a plateia, berrei no mais puro de teatro de mim. Despi de toda lágrima e fui escancarando as cortinas da alma sem medo de errar as falas do roteiro. Entendi com o tempo que não há rimas e nem marcações. As marcas da alma são vistas de longe, e essas pesarão mais do que as de perto, não há idade que nos mostre. Elas são mais transparentes que estas minhas rugas sobre a face. Só assim penetrei no mistério de vida, esse mistério me engoliu como todas as coisas. Nunca mais fechei os olhos. Abri outros. Seria para sempre um folha seca no ar, mas cheia de vida.

O que a senhora pensou quando idoso olhou para ela.
Eles me chamam de morte! Eu não mato ninguém, ou eles fazem isso, ou se acabam. Sinceramente, não entendo porque o medo de mim. Sou mansa e derradeira. Mas esse homem é diferente, não fechou os olhos e nem tinha medo! Esse momento é leve para aqueles que não temem. O homem me perguntou pelo pai, mas eram tantos iguais, todos eram os mesmos para mim. Foi quando me lembrei de um homem que também não fechou os olhos. E perguntei a ele: o que faz você não temer? Ele me disse que a vida era aquele córrego fluído. Nunca o entendi. Até que teve um dia, Sempre estive perto do córrego, e notei que para eles que não fecham os olhos: as águas eram outras, sempre eram outras, corriam para outro rio e para outro mar. Para mim, o córrego era parado no mesmo lugar. Para outros as águas eram vistas de longe, enquanto uns se banhavam, outros iam juntos com as águas. Essas águas jamais eram as mesmas, por mais que o córrego seja o mesmo. Mas naqueles olhos abertos havia um rio dentro de um mar. Doeu-me saber que eu era uma pedra parada sempre na beira de um córrego.

Eu sei que naquele dia a senhora trevosa desejou poder estar no lugar daquele ancião.
Assim como eu, que não tenho mais ânimo. Queria me findar junto com essas páginas.
As folhas caem, pássaros vão e vem. Borboletas voam em busca do pólen. Para alguns o tempo passa rápido, para outros lentamente e há aqueles que ele nem existe. O carvalho continua lá. E suas folhas nutrem e vive no solo fértil de outras flores. Você não precisa temer a morte, as coisas apenas completam um ciclo. Tudo que perdemos de algum modo retornar para seu lugar. Tudo nos encontra de outra forma. Você não precisa ser imortal para viver, mas a vida passa ser eterna quando é vivida. E aquele homem entendeu isso, se tornou piloto de avião e alçou um vôo para eternidade.



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A obra Folhas secas. de Vinícius Luiz foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada.
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domingo, 7 de novembro de 2010

A cor da alma.

Sentimentos são como chuva de verão,
e há não quem possa esperar.
As gotas tingindo a terra seca.
O cheiro de nostalgia retoma a outro lugar.

Sentimentos são como carvão
a quem diga que não há rimas.
De repente queima a brasa
a se torna cinzas.

Sentimentos são essas cinzas
que se vai ao caos do ar.
Mistura-se ao solo já esquecidas
para se nutrir em semente a brotar.



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Pedra no caminho.

Quando não há uma palavra
e notamos nossa pequenez.
Quando o real nos impede
de atravessar o imaginário.
Quando o corpo estiver em
outro lugar em qualquer espaço.
Quando um sentido vão nos
impede as frases de sair da boca.
Não há o quê e nem como:
Vendo o Golias à frente,
procuro a pedra.
Tudo em volta pode ser grande,
mas não atiro pedras.
Vou guardando, desviando,
Ardo caminho.
Quando as sombras me deixam sozinho
tem sempre o quê me impedindo de chegar.
Procuro a pedra como um poema.
A poesia é dura, rochosa,
E preciso tentar lapidar.



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