sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

As formas de se despedir.

A gota de sereno na calada da noite.
A madrugada rebuscada de mistérios
As gotas que fervilham algum escarlate.
Uma dor, um martírio.
Gotas de um pulsar.
Gotas que escorrem livremente sobre o rosto.
Ainda sinto o salgado gosto.
Gotas que cintilam o ar das manhãs.
A relva fresca de orvalho no freixo dos pólens.
Gota a gota em sua unidade à forma algum dilúvio
que invade cada terra ressequida como um espaço esquecido em mim.
Gotas de aguas que pingam como uma música de relógio
Cantando os minutos que nos transpassa.
Minutos esses que nos feriu cada gota sobre a testa.
Mas ainda sim, sentirei outra suave gota mais brilhante indo sem volta.
Partindo-me os contornos dos lábios e escoando a pele da alma.
Cada gota nos vai, e nunca nos damos conta delas.
Mas, jamais devemos saber o destino dessa ultima gota.




















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Um mundo nos olhos.

O poeta lê o mundo,
mas não conhece a fundo.
O que vê desconhece,
Leva consigo uma prece.

O poeta desperta a dor,
por ser tal criador
De seu próprio verbo.
Ele ama a dor.

O despertador toca.
Um momento passar.
Cri a dor.
Sem pressa já se é sonhador.

Dói a dor lendo-se nela.
Ler é escrever em outras mãos.
Além de uma razão, amador, sonha a dor o poeta.



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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Folhas secas.

Essa é uma das poucas estórias que tenho em mente...São muitas coisas das quais preciso me lembrar. Mais é uma estória digna de muita magia. Eu, com o poder de cromos, ainda me perco nesses pequenos fragmentos.
Era uma praça da qual se podia dizer que o tempo havia esquecido, perto de um vilarejo em algum lugar do mundo. Uma praça que surgia várias lendas que habitava o imaginário humano. Nela, bem ao centro, existia uma árvore- um elegante e velho carvalho. Árvore dos mestres druidas a fazer seus ritos à natureza, onde o espírito guardião de cada árvore- dríades- bailava aos ventos que dançavam um balé de folhas secas. Árvore gravada com uma marca de um “T”, e que muitas pessoas amarravam fitas vermelhas em busca de ter seus pedidos realizados. Em outros tempos diziam que ali nos enormes caules jorravam uma fonte de águas, nesse tempo a praça era um enorme bosque, que muitos diziam que se podia ser eterno. E havia contos com passar dos anos que se ouvia dos lábios dos anciões que aquela árvore era maldita, e levava a outros mundos onde a vida não podia ser compreendida.
Mas é nesse estranho mundo místico que começa nossa estória, num tempo contemporâneo... Ainda resistia ao tempo aquele frondoso carvalho, e naquela praça uma mãe levava seu filho para passear. A mãe, uma jovem bonita, sentou em um banco de concreto e começou a folhear uma revista de fofocas. Ali entretida em mundo de celebridades e glamour, ela ia. Enquanto seu filhinho brincava com seu carrinho, foi quando se aproximou da árvore. O vento passou como assim que se vê a vida, e arrancava da ponta dos galhos as folhas ressequidas. Sobre o chão as folhas voavam ao ar, foi quando o menino se permitiu.

Faz de conta acordado de um jovenzinho: A semente e o pó.
Eu sou um pássaro, posso voar? Estou em outro mundo, e preciso resgatar a princesa dos grandes troll’s e orc’s. Vou pegar minha espada. Meu deus será que posso vencer o grande senhor das trevas? Mas o mestre Loui me disse que era só descobri o segredo de viver para sempre. Será que minha mamãe pode me vê? Quantas folhas!!! Acho que é a magia do mestre... Ele dá me dando forças. Papai, você deve está em outro mundo atrás da árvore, eu vou atravessar para te ajudar. Meu paizinho. As folhas são passarinhos de uma asa só, e as borboletas são apenas aquelas flores que o vento tirou para dançar. O céu é o telhado de um mundo inteiro. Papai me ensinou a fechar os olhos quando tiver medo. O sonho não tá só no travesseiro, tá aqui... Posso sentir.

Era uma primavera... Sonhos podia se deixar cortar, e voltar inteiro novamente.
Havia flores na vegetação.
O menino esticava os braços e começa a girar no meio das folhas. Numa das mãos tinha um graveto. Ele se fazia de avião. Por de traz da árvore havia uma figura que nenhum mortal poderia apreciar. Era um ser esquelético e maltrapilho, trajava uns farrapos negros como a crosta de sua pele. Tinha uma capa que cobria seu rosto, parecia não querer ser vista... Ninguém poderia vê-la , somente eu. Eu sabia o que ela procurava, ela era ausente de cor. E havia um fascínio pelas cores e pelo que lhe era a vontade de pertencer das coisas vivas. Ela era inanimada, apática e fria. Ela sentiu o cheiro fresco do menino, ele queria vê o pai. Mas ela rodou pela árvore.
Fazia calor. O sol radiava a pele quente... O gramado não era mais verde, mas marrom palha. Já não podia pensar na vida sem amor. E não cabe o amor nesse pequeno espaço amarelo.
Era outro tempo, remoto quem sabe... Não lhe importa o tempo na narração. Afinal, te dou uma literatura fresca de seus espaços! Ali naquela praça havia um córrego perto, a senhora sombria pensava, e olhava as águas. Foi quando um mancebo sentou na margem. Levantou-se, parecia triste e desejava a morte. O jovem foi e sentou perto do caule do carvalho, começou a passar os dedos pelas folhas secas sobre o solo. E jogar no ar sem nenhum proposito de sentido. Com os olhos longe de seu corpo.

Fruto verde.
Que tempo o quê! Droga minha mãe não me entende... Só sabe me cobrar! O que eles querem também: prender-me para sempre? Família idiota! Quero crescer e sumir de perto deles. Queria morrer... Se eu tivesse coragem para me matar. Doce aninha... Pelo menos se você me amasse, nunca olharia para um estranho como eu. Meu rosto coberto de espinhas... Minha família só tem um bando de atrasados, nasci em um lugar errado! Preciso esfriar a cabeça... As folhas poderiam me ajudar! Se elas caírem para lá eu vou embora, e se elas caírem para ali vou encarar eles e vou dizer que não vou fazer direito! Quero é ser piloto de avião! Droga! É melhor fechar meus olhos! Acho que posso chorar, ninguém vai vê aqui.

A senhora ainda ergue o queixo para sentir o fresco daquela alma. Sentiu uma fragrância escarlate de cor azeda. Ele queria, mas havia muito ar de confusão. Ela apenas rodeou pelo carvalho arrastando sua capa pelas folhas. Até eu temia aquele olhar que ela escondia sobre um capuz.
O carvalho perdeu completamente as folhas. Uma árvore despida, a beleza já não existia. Ali a feiura.
A senhora já era o tédio como uma torneira quebrada que só faz pingar. No carvalho, havia um homem aflito que mexia sentado nas folhas. Eram inúmeras, uma piscina de folhas!

Colhendo maduro no pé.
Ahh... Como o tempo passa, hoje posso compreender o que mamãe dizia. Saudades! Queria trabalhar menos, queria poder está mais perto de meu filho. Hoje tento entender esse ser que sou. Vim aqui e sentar ter um pensar nas mudanças... Acho que preciso tentar outro casamento. Saudade da juventude: mulheres!!! Amores! Passou tudo... Acho que somente meu filho será para sempre. Errei mas é preciso melhorar, e tentar mostra o meu filho onde ele pode ir.
Antes eu não percebia que na aparência existia o vazio. É claro, folhas caem e ficam secas: nada fica igual para sempre... Hoje já não fecho os olhos.

O homem havia chegado no que ele mesmo não pudera ver, mas chegará tão perto de si como nunca antes. Ele se achou. A vida será sempre um achado e perdido.
A senhora trevosa rodeou ele, e sentiu um acre perfume de fruto pronto para mordida. Ela não pensou outra coisa a não ser o outro lado do carvalho. E foi lá.
Chovia... Em algumas partes caia uma névoa. Ali era o clima de que a senhora já estava habituada, nada era fatal, nada era pronto, ela podia seguir o percurso. Ela sentia suas mãos o que tremeu, qualquer hora era para ela mesma. Nada de intervalos, as mãos só tinha que tremer! Ela sentiu sede, era seu dever! Ela apenas existia para essa tarefa... É um idoso, ele já parecia esperar. Ela tirou o capuz de vez.

Não há inverno para aqueles que entendem a pausa do renascer da primavera.
Eu olhava... Eu entendi, ali podia ver cada parte como filme. Claramente, a vida me fez um aluno que mal sabe, só queria aprender. Senti-la pulsar firme em minhas mãos.
Passei tantos momentos de que pensei não poder resisti, mas vivi! Entrei nos personagens que me couberam, e entendi que nem sempre há aplausos. E meio a plateia, berrei no mais puro de teatro de mim. Despi de toda lágrima e fui escancarando as cortinas da alma sem medo de errar as falas do roteiro. Entendi com o tempo que não há rimas e nem marcações. As marcas da alma são vistas de longe, e essas pesarão mais do que as de perto, não há idade que nos mostre. Elas são mais transparentes que estas minhas rugas sobre a face. Só assim penetrei no mistério de vida, esse mistério me engoliu como todas as coisas. Nunca mais fechei os olhos. Abri outros. Seria para sempre um folha seca no ar, mas cheia de vida.

O que a senhora pensou quando idoso olhou para ela.
Eles me chamam de morte! Eu não mato ninguém, ou eles fazem isso, ou se acabam. Sinceramente, não entendo porque o medo de mim. Sou mansa e derradeira. Mas esse homem é diferente, não fechou os olhos e nem tinha medo! Esse momento é leve para aqueles que não temem. O homem me perguntou pelo pai, mas eram tantos iguais, todos eram os mesmos para mim. Foi quando me lembrei de um homem que também não fechou os olhos. E perguntei a ele: o que faz você não temer? Ele me disse que a vida era aquele córrego fluído. Nunca o entendi. Até que teve um dia, Sempre estive perto do córrego, e notei que para eles que não fecham os olhos: as águas eram outras, sempre eram outras, corriam para outro rio e para outro mar. Para mim, o córrego era parado no mesmo lugar. Para outros as águas eram vistas de longe, enquanto uns se banhavam, outros iam juntos com as águas. Essas águas jamais eram as mesmas, por mais que o córrego seja o mesmo. Mas naqueles olhos abertos havia um rio dentro de um mar. Doeu-me saber que eu era uma pedra parada sempre na beira de um córrego.

Eu sei que naquele dia a senhora trevosa desejou poder estar no lugar daquele ancião.
Assim como eu, que não tenho mais ânimo. Queria me findar junto com essas páginas.
As folhas caem, pássaros vão e vem. Borboletas voam em busca do pólen. Para alguns o tempo passa rápido, para outros lentamente e há aqueles que ele nem existe. O carvalho continua lá. E suas folhas nutrem e vive no solo fértil de outras flores. Você não precisa temer a morte, as coisas apenas completam um ciclo. Tudo que perdemos de algum modo retornar para seu lugar. Tudo nos encontra de outra forma. Você não precisa ser imortal para viver, mas a vida passa ser eterna quando é vivida. E aquele homem entendeu isso, se tornou piloto de avião e alçou um vôo para eternidade.



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domingo, 7 de novembro de 2010

A cor da alma.

Sentimentos são como chuva de verão,
e há não quem possa esperar.
As gotas tingindo a terra seca.
O cheiro de nostalgia retoma a outro lugar.

Sentimentos são como carvão
a quem diga que não há rimas.
De repente queima a brasa
a se torna cinzas.

Sentimentos são essas cinzas
que se vai ao caos do ar.
Mistura-se ao solo já esquecidas
para se nutrir em semente a brotar.



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Pedra no caminho.

Quando não há uma palavra
e notamos nossa pequenez.
Quando o real nos impede
de atravessar o imaginário.
Quando o corpo estiver em
outro lugar em qualquer espaço.
Quando um sentido vão nos
impede as frases de sair da boca.
Não há o quê e nem como:
Vendo o Golias à frente,
procuro a pedra.
Tudo em volta pode ser grande,
mas não atiro pedras.
Vou guardando, desviando,
Ardo caminho.
Quando as sombras me deixam sozinho
tem sempre o quê me impedindo de chegar.
Procuro a pedra como um poema.
A poesia é dura, rochosa,
E preciso tentar lapidar.



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sábado, 30 de outubro de 2010

Uma estrela e dois atos.

Coisas que nem ela hoje deve se lembrar. Ato um.
Luna gostava de ouvir sua mãe contar história antes de dormir. Sua preferida era aquela de um soldado de chumbo que se apaixonava por uma boneca bailarina, um soldado perneta e uma linda bailarina - um amor impossível. Luna era uma menina que sonhava encontrar um príncipe, e todas as noites escolhia uma estrela e imaginava o senhor de seus sonhos.
Em algum lugar perdido na memória.
-Até que tivemos uma boa ideia em se esconder encima do telhado, né Lucas?
-olha Luna, aquela não é as Três Marias?
-claro que não seu manê, aquilo é a Ursa maior.
- Gosto daquela que brilha mais forte.
-Não aponta, mamãe disse que dá verruga!
-não acredito nisso...
-Devia pelo menos ter respeito.
- Você sabia que algumas estrelas já morreram?
-E estrela vive?
-O que a gente vê é o brilho delas.
-Lucas, você amanhã brinca comigo?Só sabe jogar bola!
-sim, você é minha melhor amiga. Tá vendo aquela estrela ali... É a nossa estrela. Eu vou lembrar de você toda vez que olhar para ela.

Nesta rua, nesta rua, tem um bosque que se chama que se chama Solidão dentro dele, dentro dele mora um anjo que roubou, que roubou meu coração. Se eu roubei, se eu roubei seu coração. É porque tu roubaste o meu também, se eu roubei, se eu roubei teu coração. É porque eu te quero tanto bem.

Numa tarde quente de janeiro, Luna troca figurinhas de uma banda do momento numa roda de meninas. Elas falavam da beleza do vocalista e coisas que aconteceram na festa. Foi quando uma delas se lembra do Lucas, que havia se mudado há muito tempo. Luna sentiu o coração pulsar mais forte, e olhou o céu que começava a escurecer.
O que se perde no silêncio de um dia de trabalho.
-Nossa você viu a novela ontem? Nem acredito que a Ana clara foi desmascarada...
- Nossa o capítulo de hoje estar imperdível, adoro aquele ator qual é o nome dele?
- hei Luna!!! Ta quietinha aí... O que foi?
- Tava pensando os homens são todos iguais...
- Como foi o encontro com o gerente bonitão?
- Ele só queria me comer... E eu dei pra ele, e só. Nada tão especial, só deu uma de cavaleiro até chegar ao que queria. To meio cansada!
- Pelo menos ele fez o serviço direitinho?

Folha de uma agenda velha.
Objetivos:
- me formar em jornalismo.
-viajar de mochileiro pela Europa.
-casar.
- ter duas filhas.
-morar numa casinha de campo, e morrer com meu marido cultivando flores.
Domingo. O que ela pensava quando revia a fita de casamento num dia depressivo em que ficou em casa sozinha.
Por que tinha de ser assim... Não entendo por que o Rogério tirava tantos ciúmes?Eu queria forma uma família, queria amá-lo, mas ele fez tudo chegar aonde chegou. Acho que nenhuma mulher suporta a dor de imaginar seu marido preferindo outra. O que eu não podia fornecê-lo?Ainda me dói olhar tudo isso, não suportaria vê-lo. Dói-me cada tabefe que ele me ofereceu, cada palavra e meu silêncio durante cinco anos. Como é cruel vê cada decoração, cada convidado sorrindo e lembrar os preparativos. Minhas expectativas. Meu Deus, como sou idiota!Deveria ta lá fora, rindo, me divertindo. Mas não consigo parar de chorar... Então o cravo briga com a rosa debaixo de uma sacada. O cravo ferido, a rosa despedaçada. Dói-me o corpo todo.
Terça. Depois de assistir uma peça de teatro com seu novo ficante.
-E ai o que achou da peça? Já sabe o que vai escrever na coluna amanhã?
- Achei tão incrível! Lembrou-me o teatro de Bertold Brecht, aqueles cenários neo-surreais... Nossa a Noelle Franco estava impecável na sua interpretação!Só preciso acertar com o editor alguns pequenos detalhes. Talvez eu saia da revista.
- É uma pena, gosto muito de trabalhar com você. É uma enorme perda, você é uma excelente profissional!Mas pra onde vai trabalhar?
- Vou publicar livros de romance na editora Compondo, e preciso fazer um contrato. Lembra daquele livro que te mostrei?Gostaram dele.
-legal... Era o que você sempre queria!! Olha, tenho uma surpresa pra você.
- Madama Butterfly... Como gosto dessa ópera. Will, até casaria com você.
O que ela pensava quando chegava de uma coletiva de imprensa. No Banheiro. Olhando pro espelho, e limpando a maquiagem.
Aonde cheguei?O que sou? E isso que sou capaz de dar ao mundo?Enquanto todas aquelas pessoas sorriam para mim, e sei que não era um riso vivo e sincero. Por que todos esperam algo a mais, sou uma humana. Preciso tirar essa máscara de super-mulher. Vou lavar meu rosto. Posso vê minhas lágrimas do fracasso indo junto com cada cor ao ralo. Eles não sabem mais tenho medos, dores, sonhos incompletos. Eles querem ser como eu?Quantas vezes botei essa mascara de carnaval para que os machos pudessem me notar.Queria ser a mais fêmea, a mais colorida.Eles nunca souberam me traduzir, só me induzir.Eles nunca me deram atenção, o sentimento tão simples que pedi.Não quero mais ser essa máscara.
Na mente, fragmentos perdidos:
O que ela pensava enquanto beijava um desconhecido numa boate.

Eu sei. Será mais um. Dessa vez não quero mais embromações. Acho que somos adultos o suficiente, sou uma vadia e preciso de atenções, não precisamos falar do tempo e a chuva que vira sobre o rio de janeiro. Quero apenas entrar em seu corpo, possuir sua carne por uma noite. Os dois corpos ocupam lugar num mesmo espaço. Quero sentir seu corpo, seus músculos em único movimento. Nossos suores impregnados e um só afagar. Depois vamos sussurrar qualquer frase já morta. Ele vai acordar, e iremos prometer ligar um pro outro.
O que ela pensava enquanto um casal de amigos se beijava. Feriado. Quinta da boa vista.
É bonito. Precisava descansar. Mas que merda, como posso ter o azar de ter vindo para esse encontro sozinha e mais esses dois. Logo agora que Anita começou namorar, e eu posso sentir minha cabeça pegando fogo. Imaginei eu, uma enorme vela de promessa. Aposto que eles um dia não vão ser como agora. No início são flores!Engraçado, escrevo sobre o amor, mas não acredito nele. Dar-me nojo vê essas cenas, ou seria inveja?
Guardado numa caixa velha num dia de mudança, ela encontra um caderno o qual costumava escrever quando criança.

Um bilhete mais ao fundo.
Filha,
Mamãe sempre vai estar com você. Hoje você completa quinze anos. Mas pra mim, você será sempre aquela menina. Ainda lembro-me das bonecas e dos contos de fada. Um dia você terá uma filha, e vera o quanto é difícil vê pouco a pouco eles indo embora. Sabe, entro no porão e vejo os brinquedos, as roupinhas, olho as fotos. Que saudade das mãozinhas unida com as minhas. Mas onde estiver mamãe vai estar com você como uma estrela.
Te amo.
Mamãe
Escrito no caderno.
“As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!”
Antoine de Saint-Exupéry
Na mesma caixa. Uma foto e um mapa de astrologia.
No mapa, ela tinha riscado com caneta vermelha uma estrela perto da constelação ursa maior. Na, foto ela olha uma menina vestida de bailarina já esquecida junto de um menino, magro, cabelos negros e vivos olhos azuis. Atrás, estava escrito: De Lucas, que nossa estrela sempre nos guie. 1988.

Escrito no mesmo caderno.
Rio de janeiro, 8 de fevereiro de 1989.
E vem você com seus bons ventos me faz flutuar. É você que pode fazer meu mundo delirar.
E vem você fantasiando minhas noites em contos. É você que me faz ter sentimentos puros.
E vem me fazer sorrir e sonhar, não vou mais acordar, no peito vou morar.
E vem você me fazer poesia. É você que me faz um teatro de meus personagens que são seus.
É você meu ar e chão, perco o firmamento, vou além da imaginação.
É você o faz de conta que me acontece. A realidade que emudece.
E vem você me fazer silêncio. É você meu cada momento, do mundo, meu centro. E vem você, do mundo mal me guarda. Em teu peito morar.
Olha pra mim desse jeito. Vou estar guardado no peito. Escondido em secreto.
Para lucas

Ultimo ato
Ela vai por a musica lembranças de Tereza Cristina, vai sentir o cheiro de chuva cair. Em cada partícula era chuva, então, quando não podia mas sentir o saldado. Dentro dos olhos d água dele, ela pode novamente se encontrar. Ela não era uma chuva qualquer de verão. A chuva lavava os sonhos, degraus, calçadas. A Terra molhada subia as narinas, e ali ela era cada gota sobre o rosto. Ela só sossegava quando tocava os lábios do quebra nozes. E ela já se perdia. Mas não era mais aquela seca, vendo a vida passar sobre a janela. E então ela se torna chuva, e se deixa viver. E esse cheiro a leva a algum lugar da infância. Um sobrado apertado, uma casinha pequena: Uma bailarina sem o soldado. Por um momento ela vai escutar as meninas cirandarem a cantar “O Anel que tu me destes era vidro e se quebrou; o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou.” Por um momento, ela vai apagar as magoas. Ela esta no telhado, sentindo a mão do soldado de chumbo. Eles derretem à tornam-se um coração. E ela finalmente compreende que mesmo depois de morta, lá longe, a estrela continua a brilhar.

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O quadro de uma família nobre.

Se junta os elementos num domingo de churrasco. Algumas ave-marias, outros pai-nossos e distribuição de afetos. Um quadro bonito para se pendurar na parede, principalmente quando se cantam juntos “Derrama senhor, derrama senhor sobre fulano seu amor”, muito bem, tudo ótimo e obrigado. Amém.
Mas na família, existe uma idosa com câncer terminal. Todos a ama, todos a quê. Então, a família nobre distribui palavras. A maioria esquece que palavras só são fortes nos atributo de seus atos.
Começo pela filha e os netos. A idosa não pode estar lá junto deles porque não poderá ser atendida pelos seus. O que adiantou uma vida de atenção e amor de uma idosa?A idosa só precisa ter saúde para melhor servir seus netos e sua filha.
Passa dia, um elemento não quer a idosa em sua casa. Alguns empurram para cá. Outros empurram para lá. Foi então que um deles deu a ideia de pôr-la em uma casa desativada ao fundo do quintal. Mas sobe um medo, e quando ela passar mal?Quem cuidará dela?É como se a velha tivesse uma doença contagiosa.
É claro, os netos são ocupados e estudiosos não possuem tempo. As meninas precisam de concentração para os concursos, não podem escutar gemidos e toses. Isso atrapalha.
De uma casa com espaço, logo se torna pequena. A idosa não tem chão. Não há rumo. Mas todos a ama.
Ama. Todos a querem de ama. Agora ela não pode mais. O que se pode fazer: uma esmola daqui, outra ali. A filha com algumas cenas de assistencialismo. Que tel levar mamãe para o hospital de carro?Mas é cansativo, a filhinha não é compreendida existem tantas tarefas para se realizar. Tarefas de se ter mais dinheiro.
Talvez num domingo qualquer. SANTO DIA, Deus resolve descansar. Eles vão à missa. Depois, vão mostrar o amor das aves. Uma piadinha daqui, outro rancor de lá, uma fofoquinha daqui, e depois vão pousar para uma foto. Um exibe sua roupa daqui, outro mostra a carteira de lá, a filha com seus carros, o menino médico, a menina passou nos concursos, o rapaz é um jogador famoso. E a velha?
O cacareco tá lá, apenas aguardando o momento e guarda com unhas e dentes o pouco que tem. Com sua força viril, materialista e egoísta: ela sempre mantém umas economias escondidas pelos colchões. Ajuntando traça por traça, ela que passa a mão enrugada nos olhos lagrimejentos. Entoa cânticos e suas novenas. Quem sabe ela pode ser curada?Mas não é só ela a doente.
De pouco a pouco, foram esquecendo a velha. Ninguém mais liga ninguém mais diz. Os netos?A idosa os ama. De manhã na missa, o padre diz o sermão: amei o próximo como a ti mesmo. E a família fecha os olhos e contempla os céus.
A velha sem asilo, sem amor foi de vez esquecida. Afinal de contas, para a sociedade só tem valor aqueles que trabalham. ahh... De vez enquanto liga um neto, pois a velha caco ainda tem uma aposentadoria. E para a maioria, o valor é associado ao ter.
O tempo só se faz em passar, as visitas diminuem, as festas não fazem barulho, as cervejas e os fumos. Todos esperam por esse momento. A velha ficará só, fraca, com dores fortes, reclamará mais uma vez da vida. Por fim, gemera. Suspiro. Fim.
Lá no sepulcro, irão derramar lágrimas e irão dizer frases de uma bíblia. E Jesus vai ser lembrado, e só nessas horas que ele aparece, né?Escreveram uma frase clichê, irão por uma foto sobre um quadro na parede. A sagrada família, e para sempre Jazira.
Chega um tempo, que o céu fecha as portas, sentimentos nada dizem, as coquistas se perdem e não há mais sentido em estátuas e roupas. A incapacidade existe para um ser do mesmo sangue, não quero nem pensar para os estranhos. Desconhecidos. Vemos não só uma velha doente, mas uma família, uma sociedade com falsos retratos e vaga moralidade.
A doença aumenta sustentada pela maior epidemia do egoísmo. Camuflada pelo puritanismo, pela intolerância e indiferença. Finalmente a doença se espalha, destrói células, causa rancores e tumores.Esses que vão apagando os filamentos de amor. E para que tantos valores?Se Chega um ponto que toda família apodrece.

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domingo, 26 de setembro de 2010

Ligar o ser.

Nascemos incompletos, nus e já sentimos a falta. Por essa razão já choramos assim que saímos do ventre materno. Mas o que faz essa intensa busca do nosso preenchimento? É o que me faz por a mão nessa caneta sobre o papel. É o que me fez lembrar-se de um dos tabus da sociedade- a religião. Sim, isso mesmo!
Geralmente, quando se toca nesse assunto metade sai da roda, e a outra meia dúzia de gatos pingados caem na mão aos berros. Mas não é esse meu propósito.
A palavra religião em sua origem etimológica significa “religar”. Isso já nos dar um rumo ao texto. O ser nasce desligado de alguma coisa que não sei o nome. Afinal, se soubesse não seria esse simples ”mortal”. O fato de sermos desligados buscamos uma nova integração. Então, faço uma analise de como a religião se encaixa nesse papel e sua importância na formação pessoal. Seja qual for o credo, ou até mesmo não o tendo já é uma forma de crer em alguma coisa. De qualquer forma temos todo algum em comum: acreditamos no inicio de algo que originou nossas existências.
A religião é erroneamente associada em nossos meios, e infelizmente acaba mostrando a linha tênue das nossas indiferenças e intolerâncias. Tentamos sempre convencer ou converter o outro as nossas crenças. Seja essa um estilo musical, um modo de literatura, o modo de se vestir, o comportamento alternativo. Nos não nos importamos com os sentimentos alheios, querendo ou não, o meio e a cultura estão entrelaçados na tentativa pessoal de religar. E a maioria despercebe e acaba desrespeitando. E assim aumenta o nível de desligamento.
Para mim, uma das frases mais sábias que já foi feita no mundo e dita pelos iniciados da filosofia na Grécia: “conhecer-te a ti mesmo, e verás a Deus.” Nos faz ter uma maior interpretação do nosso desligamento, e o quanto precisamos nos conhecer. E é tão simples.
Seja qual for o credo oriental ou ocidental sempre se tentou pregar uma mensagem: a verdade que liberta. E assim o ser tenta dar forma o contorno. Em toda a história evolutiva do homem percebe-se a tentativa de encontrar o deus- o teu deus. O homem das cavernas e suas pinturas- como explicar a chuva, o fogo sem a ciência? As civilizações- os astecas, os incas, os egípcios e os gregos com seu teatro. O ator que se transforma inteiramente através do êxtase ( sair de si.). Então, o métron (ultrapassar a medida) e híbris (medida dos deuses e dos homens). Os africanos ligados com seus orixás, os pagãos e o contato maior com a natureza. As inscrições nos templos como traduzidos “nada em excesso”- o equilíbrio entre o bem e o mal. A criação de vários deuses e a unificação de um só.
Apesar dos avanços tecnológicos e científicos, ainda existem muitas coisas que não podemos explicar. E outras que não podemos fazer. Aí entra a fé. Esse fundamento que nos faz ir além e ultrapassar as medidas e os limites. A religião é importante na vida da humanidade. Muitos atos e coisas que se dizia impossível foram feitas através da fé por grandes homens. Esquece-se de que coisas que são feitas para si mesmo morrem conosco, e coisas feitas para a humanidade se eterniza.
Por fim, o que quero dizer com tudo isso? O mais importante da religião é interação com o próximo. E a entrega ao mundo, e modo de não olhar mais para si mesmo. É doer com a dor do outro. A busca que é quase em volta, e acaba sendo. É Isso é comum a todos os credos: amor, a unidade, o doar-se, a renúncia. Mais ainda somos muitos desligados da caridade- o calar-se dos defeitos alheios, a capacidade de alteridade. E o deus mora nessas pequenas coisas.
O homem olha o mundo. E sempre busca resposta fora de si, mas não está lá. Talvez os orientais já entendam e praticam isso pela meditação. O desligar do mundo lá fora dos quês dos problemas, nossas dissoluções, nossos preconceito. Tudo isso está dentro de nos. Conhecer-te a ti mesmo... A verdade que liberta...
A questão não é se o deus pensa assim ou assado. Ou como o deus é ou como quer. E deus não está somente na chuva e nem no vento. Ele não está nos templos. Somos o templo. E o deus está dentro de nos, só esperando que nós possamos descobrir para fazer o ligamento desfeito.
Quando estamos bem conosco isso se reflete em volta e para todos. É dentro de nós que devemos buscar o deus. Então, passamos a nos entender e encontramos repostas dos quês internos, assim como descobrimos que há muito mais sentido nisso que chamamos de vida.

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A obra Ligar o ser. de Vinícius Luiz foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada.
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Carvalho de um tempo.

A cadeira de balanço a frente.
O balanço das horas que falta.
Cadê a aurora de outrora?
Caminhos caminham em mente.

O peso de pesar cansado.
Os pés no rastear do tempo.
Flor admira ao lado.
Encontro cascas sobre o sofrimento.

Então o carvalho de anos
E resquícios de um vento
Faz o acaso no ar.

E essas folhas sem destino
Vão ao encontro do pó, ao solo com sono.
Completo-me natureza. Volto ao meu lugar.




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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

“Se podes olhar, vê .Se podes vê, repara”( José Saramago- Ensaio sobre a cegueira)

Ainda lembro o dia que estive em Dogville, seus habitantes não foi tão hospedeiro, não foi e nunca foi. Sim, eu sou superior a todos, posso superar tudo que eles fizeram comigo assim como Cristo perdoou toda a humanidade. Eles realmente não sabem o que fazem.
Eu não queria lembrar, mas disso, sinceramente, Dogville ainda mora em mim. Recordo os olhos de Tom gentis e quase altruístas, confesso, eles por pouco me tocaram. Eu poderia ir embora de Dogville, afinal, nunca tive motivos para andar fugida por ai. E que tive muita misericórdia de todas aquelas crianças que não mal sabiam escrever seus nomes, aquelas mulheres que só haviam provado o gosto falso de seus próprios homens, aqueles homens que não sabiam que existia outra realidade além daquela cidade tão simples. Eu senti que poderia contribuir para a vida daquelas pessoas e da cidade. Tom queria inspiração para seu livro, dei a ele. Não somente a ele, mas a toda cidade.
No começo, todos tinham medo de mim. Ninguém me quis lá, nunca me quiseram. Somente tom, até sua alma foi corrompida. Acho que o pecado estava sobre aquela cidade e toda fúria dos deuses como se fosse um episódio de tragédia grega. Todos tinha que pagar, todos pagaram como se fossem juízes de seu próprio julgamento.Os respeitáveis moradores de Dogville cavaram suas sepulturas de olhos fechados para a realidade, e eu fui capaz de perdoá-los? Creio que não consegui. Vou tentar reviver as tristes lembranças, que preferiria que se queimasse junto das chamas daquela cidade, onde apenas um ser totalmente animal conseguiu enxergar todas aquelas coisas-um cachorro preço em um corrente.
Tudo começou quando Tom pediu esmolas aquela cidade miserável, para que eu pudesse lá ficar como toda relação humana é repleta de interesses pessoais ou não, tive que conquistar meu espaço naquele vilarejo mal curtido e feito. Em troca de ficar naquela cidade tive de fazer pequenas tarefas, os habitantes são amáveis... Claro! Tudo é visto pelos olhos, nossa arruinada criação dessa forma débil que consegue enxergar as coisas ao redor. O mais cego seria Ben Gazzara, ele não admitia sua cegueira, pelo menos sua cegueira era notável, ou contrario do restante do povoado. Eles não me queriam apesar de eu estar sempre presente, me oferecendo em troca se possível, mas eu sabia que seria capaz de perdoá-los. Assim se anuncia a tragédia.
As coisas mudaram no dia da independência, que irônico!!!Parecia que alguma coisa do além anunciava minha dependência, minha situação total de escravidão, de podridão, de animalização. Assim que somos. Os moradores mudaram comigo, exigiram mais. Queriam mais. Pois eu era uma possível fugitiva, o que eles não sabiam é que eu fugia de mim mesma. Mas como se foge de si mesmo? Isso nenhuma filosofia poderia me responder, e nem mesmo poesias mais profundas e nem nenhum texto sagrado. As mulheres invejavam minha beleza, queria que os homens as desejam-se, assim como me desejavam. Elas queriam ter o tom de minha pele, a postura elegante que provinha de minha refinada educação. Os arrogantes são pessoais com complexo de inferioridade, desta forma elas me humilhavam para não se sentirem humilhadas. Seus maridos mal as tocavam, Chuck me violentou. Lembro quando seu desejo sexual prevaleceu em troca de calar-se diante de um possível denuncia as autoridades sobre mim. Não havia paredes em Dogville. Nunca houve. Todos sabiam, mas vigia que existia. Às vezes é mais fácil pintar a realidade do que encará-la. Tentei fugir, fiquei cativa, fui escrava sexual e física. Os habitantes se viram obrigados a me prender como um animal feroz. Esse povo nunca sabe o quer dizer, eles acham que se comunicam. Quanto Tom os questionava, eu sentia que eles mudavam de assunto.
Quando pensei que tive alguém que me amava naquela cidade, quando quase me vi prisioneira de uma paixão. Tom, aquele o qual me entreguei por amor, me entrega feito um objeto descartável. Ele sempre foi covarde, podia ser altruístas até aquele momento, mas nunca admitiu que me amasse para a cidade do pecado. Ele teve que escolher entre eu ou sua Dogville. Tom escolheu Dogville. Ele aceitou tudo calado, todas minhas humilhações, todas as imoralidades. Eu era a estrangeira. Talvez você, leitor, acha que eu fugia de meu marido gângster cruel. Não. Lembra que eu disse que Dogville morava em mim? Ela ainda mora, sempre morou. Sem piedade e sem amor cristão, pedi ao meu pai que fizesse o massacre em toda a cidade. Com minhas próprias mãos assassinei Tom. Eles mereciam, era um final digno a Dogville. Posso ouvir a morte, fria e crua ter que levar as almas daqueles seres indignos e dizendo a si mesma: os seres humanos me assombram.
Querida amiga, não sou Grace, mas acredito que ela mora em algum lugar em mim. Assim como a pequena cidade da história. Resolvi iniciar essa carta com os olhos de Grace, assim se baseia a trama: um circo de humanos. Retratos de pessoas cruéis, masoquistas, egoístas. Somos iguais em desgraça, somos iguais em todos os sentidos. Tentamos separar o que seriamos, entre: o bem e o mal, mas isso não existe. Estamos nos equilibrando todos os dias, numa corda banda onde as circunstâncias, as pessoas e lugares tentam desmascarar o nosso rótulo. Vamos além do bem e do mal, muito mais do que pensamos que somos.
Ali, me vi em Grace. Queria que todos fossem punidos pelo que fez, pois eu me acho superior. Essa carta merece o azedume humano, merece toda a minha escuridão. Todos mereciam ser mutilados, esquartejados e queimados. Vi aqueles bebes gritando, aquelas crianças chorando, aquelas mães pedindo misericórdia por seus filhos. Fiquei com pena.
Senti o meio termo, nem pena e nem revolta. Um estranhamento. Será que eu faria o mesmo? Sim, faria. E você?Eu sei que não há bem e nem mal, só existe um coisa que ultrapassa nossas medidas: o desejo de poder e de querer ser mais.


Em busca de respostas...

domingo, 12 de setembro de 2010

Rir e chorar em duas vezes.

A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe." (Charles Chaplin).

Lembro a primeira vez que pisei no teatro, para assistir uma peça cômica. Aquele símbolo de duas máscaras: um com um rosto triste e outra com um sorriso bem largo me chamaram atenção. Interessante isso, e talvez umas das coisas mais bela da arte é a semelhança com a vida. E aí, a vida imita a arte ou arte imita a vida?
Talvez, a vida não tenha roteiro prévio como a arte. E a arte tem seus caminhos tortuosos pela própria vida. Só sei que ambas estão tão entrelaçadas que às vezes parece uma coisa única. Imagine se você pudesse contar sua vida de duas formas numa mesa de bar, pense que nesse jogo você poderia contar da forma que quisesse desde que seja uma comédia e um drama. Assim, perceberíamos que a vida tem seus altos e baixos, risos e choros, razão e emoção, teoria e prática. Se a vida não segue roteiros, então podemos comparar a um dos conceitos de Kant de que a razão tem seus limites. A razão tende a se basear somente em conceitos, embora as órbitas de todos os planetas devam girar em torno dela. Esses conceitos especulativos deram-se o nome de “idéias”, podendo apenas a razão deduzir a existência de Deus, Alma, mundo, Ser. Então tudo pode ser mudado, dependendo da forma como vemos a vida. A vida seria mais prática se fosse teórica, mas tudo tem que ser feito assim e na hora, nada de muito pensamento, nada de falas ensaiadas, nada de mundo das idéias, nada de nada. Então como podemos vê-la? Ela pode ser uma comédia ou uma tragédia, tudo só depende da maneira como você vê e sente. Se nascermos liso sem nada de essência, e adquirimos tudo isso com o tempo em vida, conforme caminhamos rindo ou não estará lá. A vida é uma grande loteria, na qual só quem participa são os que foram sorteados. E não me venha pensar em destino, só quem sobrevive a ele é aquele que pode explicá-lo, um dia li uma frase que dizia que o destino é uma cobra faminta que come a si mesmo. Ri, pensei na tragédia de Édipo – Rei e sabia que ele(Édipo) podia sair da estória sem danos nenhum. Ele escolheu ser engolido por um destino que ele mesmo pensou, era só ele aceitar ser o convite de ser rei de colono. Sabe, não quero ser muito sensacionalista, mas a vida tem muitos mistérios, agora quero saber quem formou esse baralho de cartas, e também quero saber por que existe um coringa. E você pode perceber a possibilidade de não existência sempre será maior do que de vida, se estamos vivos temos alguma coisa a acrescentar, seja tragédia ou comédia. Sim, ri é muito bom, mas conhecemos virtudes que não sabíamos que estava ali em dramas, e nele aprendemos à prática que antes era apenas teórica. E por que não? Conhecemo-nos muito mais em momentos difíceis do que em momentos felizes, eu, Como amante de um bom drama, não me rendo às meninices que a vida faz. Cara amiga vai dizer que você nunca rui no momento que não é para tal ato? Tem gente que ri em enterros, outros que ri em igrejas. Existem aqueles que riem dos próprios problemas. Eu decidi que será da forma mais simples, as coisas não são tão ruins. Embora ainda exista um mundo tão maldoso e perverso, finjo que esse não existe. Somos os curingas das cartas, temos que responder as questões. Dependendo do jogo, podemos ser um trunfo nas mãos do jogador. A vida é um jogo, ninguém perde e nem ganha demais. Embora, tenha muita coisa que me faz pensar que esse não é meu lugar. Tenho muita vontade de fazer valer para a platéia que me assiste, mesmo sem aplausos. Chorando ou não, vou apostar em risos e de qualquer forma tudo no final termina em piada.
Em busca de respostas...

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