domingo, 26 de setembro de 2010

Ligar o ser.

Nascemos incompletos, nus e já sentimos a falta. Por essa razão já choramos assim que saímos do ventre materno. Mas o que faz essa intensa busca do nosso preenchimento? É o que me faz por a mão nessa caneta sobre o papel. É o que me fez lembrar-se de um dos tabus da sociedade- a religião. Sim, isso mesmo!
Geralmente, quando se toca nesse assunto metade sai da roda, e a outra meia dúzia de gatos pingados caem na mão aos berros. Mas não é esse meu propósito.
A palavra religião em sua origem etimológica significa “religar”. Isso já nos dar um rumo ao texto. O ser nasce desligado de alguma coisa que não sei o nome. Afinal, se soubesse não seria esse simples ”mortal”. O fato de sermos desligados buscamos uma nova integração. Então, faço uma analise de como a religião se encaixa nesse papel e sua importância na formação pessoal. Seja qual for o credo, ou até mesmo não o tendo já é uma forma de crer em alguma coisa. De qualquer forma temos todo algum em comum: acreditamos no inicio de algo que originou nossas existências.
A religião é erroneamente associada em nossos meios, e infelizmente acaba mostrando a linha tênue das nossas indiferenças e intolerâncias. Tentamos sempre convencer ou converter o outro as nossas crenças. Seja essa um estilo musical, um modo de literatura, o modo de se vestir, o comportamento alternativo. Nos não nos importamos com os sentimentos alheios, querendo ou não, o meio e a cultura estão entrelaçados na tentativa pessoal de religar. E a maioria despercebe e acaba desrespeitando. E assim aumenta o nível de desligamento.
Para mim, uma das frases mais sábias que já foi feita no mundo e dita pelos iniciados da filosofia na Grécia: “conhecer-te a ti mesmo, e verás a Deus.” Nos faz ter uma maior interpretação do nosso desligamento, e o quanto precisamos nos conhecer. E é tão simples.
Seja qual for o credo oriental ou ocidental sempre se tentou pregar uma mensagem: a verdade que liberta. E assim o ser tenta dar forma o contorno. Em toda a história evolutiva do homem percebe-se a tentativa de encontrar o deus- o teu deus. O homem das cavernas e suas pinturas- como explicar a chuva, o fogo sem a ciência? As civilizações- os astecas, os incas, os egípcios e os gregos com seu teatro. O ator que se transforma inteiramente através do êxtase ( sair de si.). Então, o métron (ultrapassar a medida) e híbris (medida dos deuses e dos homens). Os africanos ligados com seus orixás, os pagãos e o contato maior com a natureza. As inscrições nos templos como traduzidos “nada em excesso”- o equilíbrio entre o bem e o mal. A criação de vários deuses e a unificação de um só.
Apesar dos avanços tecnológicos e científicos, ainda existem muitas coisas que não podemos explicar. E outras que não podemos fazer. Aí entra a fé. Esse fundamento que nos faz ir além e ultrapassar as medidas e os limites. A religião é importante na vida da humanidade. Muitos atos e coisas que se dizia impossível foram feitas através da fé por grandes homens. Esquece-se de que coisas que são feitas para si mesmo morrem conosco, e coisas feitas para a humanidade se eterniza.
Por fim, o que quero dizer com tudo isso? O mais importante da religião é interação com o próximo. E a entrega ao mundo, e modo de não olhar mais para si mesmo. É doer com a dor do outro. A busca que é quase em volta, e acaba sendo. É Isso é comum a todos os credos: amor, a unidade, o doar-se, a renúncia. Mais ainda somos muitos desligados da caridade- o calar-se dos defeitos alheios, a capacidade de alteridade. E o deus mora nessas pequenas coisas.
O homem olha o mundo. E sempre busca resposta fora de si, mas não está lá. Talvez os orientais já entendam e praticam isso pela meditação. O desligar do mundo lá fora dos quês dos problemas, nossas dissoluções, nossos preconceito. Tudo isso está dentro de nos. Conhecer-te a ti mesmo... A verdade que liberta...
A questão não é se o deus pensa assim ou assado. Ou como o deus é ou como quer. E deus não está somente na chuva e nem no vento. Ele não está nos templos. Somos o templo. E o deus está dentro de nos, só esperando que nós possamos descobrir para fazer o ligamento desfeito.
Quando estamos bem conosco isso se reflete em volta e para todos. É dentro de nós que devemos buscar o deus. Então, passamos a nos entender e encontramos repostas dos quês internos, assim como descobrimos que há muito mais sentido nisso que chamamos de vida.

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A obra Ligar o ser. de Vinícius Luiz foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada.
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Carvalho de um tempo.

A cadeira de balanço a frente.
O balanço das horas que falta.
Cadê a aurora de outrora?
Caminhos caminham em mente.

O peso de pesar cansado.
Os pés no rastear do tempo.
Flor admira ao lado.
Encontro cascas sobre o sofrimento.

Então o carvalho de anos
E resquícios de um vento
Faz o acaso no ar.

E essas folhas sem destino
Vão ao encontro do pó, ao solo com sono.
Completo-me natureza. Volto ao meu lugar.




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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

“Se podes olhar, vê .Se podes vê, repara”( José Saramago- Ensaio sobre a cegueira)

Ainda lembro o dia que estive em Dogville, seus habitantes não foi tão hospedeiro, não foi e nunca foi. Sim, eu sou superior a todos, posso superar tudo que eles fizeram comigo assim como Cristo perdoou toda a humanidade. Eles realmente não sabem o que fazem.
Eu não queria lembrar, mas disso, sinceramente, Dogville ainda mora em mim. Recordo os olhos de Tom gentis e quase altruístas, confesso, eles por pouco me tocaram. Eu poderia ir embora de Dogville, afinal, nunca tive motivos para andar fugida por ai. E que tive muita misericórdia de todas aquelas crianças que não mal sabiam escrever seus nomes, aquelas mulheres que só haviam provado o gosto falso de seus próprios homens, aqueles homens que não sabiam que existia outra realidade além daquela cidade tão simples. Eu senti que poderia contribuir para a vida daquelas pessoas e da cidade. Tom queria inspiração para seu livro, dei a ele. Não somente a ele, mas a toda cidade.
No começo, todos tinham medo de mim. Ninguém me quis lá, nunca me quiseram. Somente tom, até sua alma foi corrompida. Acho que o pecado estava sobre aquela cidade e toda fúria dos deuses como se fosse um episódio de tragédia grega. Todos tinha que pagar, todos pagaram como se fossem juízes de seu próprio julgamento.Os respeitáveis moradores de Dogville cavaram suas sepulturas de olhos fechados para a realidade, e eu fui capaz de perdoá-los? Creio que não consegui. Vou tentar reviver as tristes lembranças, que preferiria que se queimasse junto das chamas daquela cidade, onde apenas um ser totalmente animal conseguiu enxergar todas aquelas coisas-um cachorro preço em um corrente.
Tudo começou quando Tom pediu esmolas aquela cidade miserável, para que eu pudesse lá ficar como toda relação humana é repleta de interesses pessoais ou não, tive que conquistar meu espaço naquele vilarejo mal curtido e feito. Em troca de ficar naquela cidade tive de fazer pequenas tarefas, os habitantes são amáveis... Claro! Tudo é visto pelos olhos, nossa arruinada criação dessa forma débil que consegue enxergar as coisas ao redor. O mais cego seria Ben Gazzara, ele não admitia sua cegueira, pelo menos sua cegueira era notável, ou contrario do restante do povoado. Eles não me queriam apesar de eu estar sempre presente, me oferecendo em troca se possível, mas eu sabia que seria capaz de perdoá-los. Assim se anuncia a tragédia.
As coisas mudaram no dia da independência, que irônico!!!Parecia que alguma coisa do além anunciava minha dependência, minha situação total de escravidão, de podridão, de animalização. Assim que somos. Os moradores mudaram comigo, exigiram mais. Queriam mais. Pois eu era uma possível fugitiva, o que eles não sabiam é que eu fugia de mim mesma. Mas como se foge de si mesmo? Isso nenhuma filosofia poderia me responder, e nem mesmo poesias mais profundas e nem nenhum texto sagrado. As mulheres invejavam minha beleza, queria que os homens as desejam-se, assim como me desejavam. Elas queriam ter o tom de minha pele, a postura elegante que provinha de minha refinada educação. Os arrogantes são pessoais com complexo de inferioridade, desta forma elas me humilhavam para não se sentirem humilhadas. Seus maridos mal as tocavam, Chuck me violentou. Lembro quando seu desejo sexual prevaleceu em troca de calar-se diante de um possível denuncia as autoridades sobre mim. Não havia paredes em Dogville. Nunca houve. Todos sabiam, mas vigia que existia. Às vezes é mais fácil pintar a realidade do que encará-la. Tentei fugir, fiquei cativa, fui escrava sexual e física. Os habitantes se viram obrigados a me prender como um animal feroz. Esse povo nunca sabe o quer dizer, eles acham que se comunicam. Quanto Tom os questionava, eu sentia que eles mudavam de assunto.
Quando pensei que tive alguém que me amava naquela cidade, quando quase me vi prisioneira de uma paixão. Tom, aquele o qual me entreguei por amor, me entrega feito um objeto descartável. Ele sempre foi covarde, podia ser altruístas até aquele momento, mas nunca admitiu que me amasse para a cidade do pecado. Ele teve que escolher entre eu ou sua Dogville. Tom escolheu Dogville. Ele aceitou tudo calado, todas minhas humilhações, todas as imoralidades. Eu era a estrangeira. Talvez você, leitor, acha que eu fugia de meu marido gângster cruel. Não. Lembra que eu disse que Dogville morava em mim? Ela ainda mora, sempre morou. Sem piedade e sem amor cristão, pedi ao meu pai que fizesse o massacre em toda a cidade. Com minhas próprias mãos assassinei Tom. Eles mereciam, era um final digno a Dogville. Posso ouvir a morte, fria e crua ter que levar as almas daqueles seres indignos e dizendo a si mesma: os seres humanos me assombram.
Querida amiga, não sou Grace, mas acredito que ela mora em algum lugar em mim. Assim como a pequena cidade da história. Resolvi iniciar essa carta com os olhos de Grace, assim se baseia a trama: um circo de humanos. Retratos de pessoas cruéis, masoquistas, egoístas. Somos iguais em desgraça, somos iguais em todos os sentidos. Tentamos separar o que seriamos, entre: o bem e o mal, mas isso não existe. Estamos nos equilibrando todos os dias, numa corda banda onde as circunstâncias, as pessoas e lugares tentam desmascarar o nosso rótulo. Vamos além do bem e do mal, muito mais do que pensamos que somos.
Ali, me vi em Grace. Queria que todos fossem punidos pelo que fez, pois eu me acho superior. Essa carta merece o azedume humano, merece toda a minha escuridão. Todos mereciam ser mutilados, esquartejados e queimados. Vi aqueles bebes gritando, aquelas crianças chorando, aquelas mães pedindo misericórdia por seus filhos. Fiquei com pena.
Senti o meio termo, nem pena e nem revolta. Um estranhamento. Será que eu faria o mesmo? Sim, faria. E você?Eu sei que não há bem e nem mal, só existe um coisa que ultrapassa nossas medidas: o desejo de poder e de querer ser mais.


Em busca de respostas...

domingo, 12 de setembro de 2010

Rir e chorar em duas vezes.

A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe." (Charles Chaplin).

Lembro a primeira vez que pisei no teatro, para assistir uma peça cômica. Aquele símbolo de duas máscaras: um com um rosto triste e outra com um sorriso bem largo me chamaram atenção. Interessante isso, e talvez umas das coisas mais bela da arte é a semelhança com a vida. E aí, a vida imita a arte ou arte imita a vida?
Talvez, a vida não tenha roteiro prévio como a arte. E a arte tem seus caminhos tortuosos pela própria vida. Só sei que ambas estão tão entrelaçadas que às vezes parece uma coisa única. Imagine se você pudesse contar sua vida de duas formas numa mesa de bar, pense que nesse jogo você poderia contar da forma que quisesse desde que seja uma comédia e um drama. Assim, perceberíamos que a vida tem seus altos e baixos, risos e choros, razão e emoção, teoria e prática. Se a vida não segue roteiros, então podemos comparar a um dos conceitos de Kant de que a razão tem seus limites. A razão tende a se basear somente em conceitos, embora as órbitas de todos os planetas devam girar em torno dela. Esses conceitos especulativos deram-se o nome de “idéias”, podendo apenas a razão deduzir a existência de Deus, Alma, mundo, Ser. Então tudo pode ser mudado, dependendo da forma como vemos a vida. A vida seria mais prática se fosse teórica, mas tudo tem que ser feito assim e na hora, nada de muito pensamento, nada de falas ensaiadas, nada de mundo das idéias, nada de nada. Então como podemos vê-la? Ela pode ser uma comédia ou uma tragédia, tudo só depende da maneira como você vê e sente. Se nascermos liso sem nada de essência, e adquirimos tudo isso com o tempo em vida, conforme caminhamos rindo ou não estará lá. A vida é uma grande loteria, na qual só quem participa são os que foram sorteados. E não me venha pensar em destino, só quem sobrevive a ele é aquele que pode explicá-lo, um dia li uma frase que dizia que o destino é uma cobra faminta que come a si mesmo. Ri, pensei na tragédia de Édipo – Rei e sabia que ele(Édipo) podia sair da estória sem danos nenhum. Ele escolheu ser engolido por um destino que ele mesmo pensou, era só ele aceitar ser o convite de ser rei de colono. Sabe, não quero ser muito sensacionalista, mas a vida tem muitos mistérios, agora quero saber quem formou esse baralho de cartas, e também quero saber por que existe um coringa. E você pode perceber a possibilidade de não existência sempre será maior do que de vida, se estamos vivos temos alguma coisa a acrescentar, seja tragédia ou comédia. Sim, ri é muito bom, mas conhecemos virtudes que não sabíamos que estava ali em dramas, e nele aprendemos à prática que antes era apenas teórica. E por que não? Conhecemo-nos muito mais em momentos difíceis do que em momentos felizes, eu, Como amante de um bom drama, não me rendo às meninices que a vida faz. Cara amiga vai dizer que você nunca rui no momento que não é para tal ato? Tem gente que ri em enterros, outros que ri em igrejas. Existem aqueles que riem dos próprios problemas. Eu decidi que será da forma mais simples, as coisas não são tão ruins. Embora ainda exista um mundo tão maldoso e perverso, finjo que esse não existe. Somos os curingas das cartas, temos que responder as questões. Dependendo do jogo, podemos ser um trunfo nas mãos do jogador. A vida é um jogo, ninguém perde e nem ganha demais. Embora, tenha muita coisa que me faz pensar que esse não é meu lugar. Tenho muita vontade de fazer valer para a platéia que me assiste, mesmo sem aplausos. Chorando ou não, vou apostar em risos e de qualquer forma tudo no final termina em piada.
Em busca de respostas...

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