sábado, 27 de outubro de 2012

Dona Magnólia

“Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam...” (Mateus 6)

Se você parasse diante de um jardim, poderia vê uma velha falando com uma planta. Diria até que ela está ficando caduca, porém são justamente os frutos desses atos que provem tal amor. As raízes do chão estão fincadas sobre a sutil simplicidade. Quando a senhora fala com delicadeza com sua flor, ela parece entender ao ganhar a cor da criação sobre tons peculiares da natureza. Todo barro do chão faz a origem de quase tudo. Sincronicamente, as flores de magnólia nasciam no jardim no tom escaldante da primavera.

Dona magnólia é seu nome. Ela acordou cedo preparou a mesa. O cheiro de café tingiu as narinas das crianças e elas acordaram. O Tilintar das xícaras. Magnólia sentia o prazer das coisas frescas do nascer do sol, especialmente de olhar seus filhos comendo, sobretudo, de vê-los estudando. Então com graça, prepara suas matérias, mesmo não entendo o que era aquelas lições, olhava, pedia que eles refizessem. O seu desejo e sua esperança estavam ali nos rabisco de cadernos, na nomenclatura, na tímida mancha dos dedos sobre folhas, sua salvação era os coloridos livros. Pegava a mochila das crianças e levavam elas até a porta da escola. A escola por sua vez era o jardim ideal de Dona Magnólia. Jogariam pequenas sementes, com o esperar e paciência de admirá-las. E as flores foram feitas para isso, serem admiradas. Não se tem uma flor, não se guarda como uma joia dentro de um cofre. Apenas cultiva-se, espera-se com paciência, e o produto final é o mirar, contemplar com devoção e por fim fazer das coisas pouco notáveis o lugar da poesia. Era isso a beleza que exalava o mundo.

Conhecia todos os professores, Dona Magnólia fazia questão de ali estar presente. Gostava de preparar tudo com suas próprias mãos. Sentia-se cada vez mais viva ao preparar vasos de plantas, mexer os dedos nas terras, meter a mão na massa, lavar toda a louça e preparar pratos aos amigos. Quando a diretora fazia alguma festa, ali estava Magnólia fazendo parte dos preparativos. Levava rifas para vender, porque pensava que a educação era necessária e importante. As oportunidades para Magnólia foram poucas, bem menores. Jogada no trabalho desde muito nova, no fundo, ela lutou para manter-se viva. Depois presenteada com duas filhas e um marido. Prendada, o pulsar do seu sangue estava concentrados nos dedos que engomavam com carinho a blusa do marido, dos patrões e as camisetas das meninas. Seus dedos passavam pelo preparo do lanchinho que jamais em hipótese alguma poderia faltar. Nesse mesmo pensamento, jamais poderia faltar um lápis ou borracha. Seus pensamentos sobre o caprichado branco do travesseiro era a preocupação de não ter as coisas para seus filhos. Com o tempo, Magnólia via que todos esses pensamentos eram desnecessários e que a vida poderia ser mais leve se olhasse as aves no céu. Elas não se preocupam com essas coisas e mantem-se vivas assim como toda natureza era preparada pelos dedos do grande cultivador. E no dia seguinte seus dedos calejados passavam profundas digitais nas vidas daquelas crianças.

Certo dia, uma das filhas de Magnólia apresentou sinais de dificuldade no aprendizado, tinha baixas notas. Para o desespero de Magnólia, ela não poderia ajudar já que pouco entendia das disciplinas escolares. A professora Tânia assim fez, todos os dias, fazia aula extra quando acaba seu expediente. Tudo isso era pela pessoa que magnólia era. O peito de magnólia encheu-se de gratidão. Os pensamentos de magnólia inveteram-se no travesseiro, agora eram sonhos dos mais sonhados. Imaginava suas filhas vestidas de uma beca azul com um canudo na mão, formadas numa universidade. Pedia a Deus que lhe dê-se vida suficiente para chegar a tal dia. Com o passar do tempo, suas filhas saíram da escola primaria, nessa formatura todo corpo docente prestou homenagem à mãe Magnólia. Nesse mesmo dia, foi regado com muitas lágrimas. Mesmo assim, Magnólia continuou indo a escola. Participando das feiras dos livros, comprando quase todas as rifas para ajudar a fazer festas das crianças e ajudando a estimular crianças com baixa estima que refletia na pouca e dificultosa produção na aula.

Era dia dos professores, e para comemorar na mesma semana, haveria uma reunião comemorativa somente dos funcionários. Magnólia sabia disso, nesse dia levantou-se tão cedo, e com suas próprias mãos preparou um bolo. Seus dedos tocavam os ingredientes e fundiam-se todos num recipiente como a mistura perfeita da cultivação. Como qualquer coisa anotável, magnólia tinha seus pequenos e simplórios feitos, mas era como o sol que todos os dias dava vida as coisas e quase ninguém notava sua presença. Fazia questão de fazer, de ir como suas próprias pernas até a porta da secretária e deixar seu presente com um bilhete. Nesse dia a diretora chegou, ficou emocionada ao ler o bilhete porque sabia do significado daquelas letras tortas. Ao começar a reunião, os professores sentavam-se um perto um dos outros num circulo. A diretora falava dos planos pedagógicos e parou. Falou de Dona Magnólia. Disse que se todas as mães dos alunos fossem como Magnólia a educação brasileira estaria salva pelas mãos do povo. Contou que Magnólia havia finalmente aprendido a ler e escrever. Então em voz alta leu seu bilhete.

Queridos mestres,
Uma vez escutei que tínhamos muitas vidas passadas e que reencarnávamos. Não sei se acreditei nisso, mas eu gostaria que nas minhas vidas futuras eu seja professora. Obrigado por esse dia. Magnólia.

Todos eles pensavam o como eram esquecidos, o quanto as pessoas não davam valor a sua profissão e aquela simples mulher disse aquilo. Todos realmente perceberam que era por essas pessoas que eles estavam ali. Educar é um ato mais simples de amor, é cultivar, esperar com paciência e sempre comtemplar a beleza das pequenas coisas. Sem querer, sem ser visto, sem que haja um grande espetáculo e sem grandes números de reconhecimentos, Dona magnólia passou seus dedos na vida daquelas pessoas. Suas marcas são de terras infinitas. E o mais irônico da vida, é que de repente, os mestres aprendem a cultivar com Magnólias.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Um rio desperta sobre as margens.

Poucas coisas me fazem ter vontade de escrever, mas não poderia deixar passar despercebido esse motivo que é mais que uma razão. Não meu leitor, não terá nenhum efeito literário ou super grandioso. Será apenas mais um assunto ignorado. Vivi intensamente a política esses meses. Temos 68% aprovando a gestão do nosso atual prefeito do rio de janeiro contra expressivos 28% da candidatura de Marcelo Freixo. O que nos traz certa apreensão ou tristeza, porque esperávamos um segundo turno e mais chances de democracia. Mas não ocorreu, foi exatamente isso que me fez refletir: qual é o balanço disso tudo?

A diferença é essa palavra chamada balanço. São os 68% que dizem o balanceamento dos cálculos, números, porcentagens, protocolos contratuais, vinte partidos, quinze minutos de TV, milhões em campanha mais que publicitaria, interesses pessoais, ceticismo, aparências, efeitos visuais, copa, estratégico, automobilismo, olímpiadas e a velha forma de fazer acontecer para os que dizem que tem algo acontecendo, os que lucram com algo e os que acham que política é time de futebol. Os que insistem em dizer existir apenas uma força jovem torcida que ganha e a outra que perde, ignoram que todos perdem ou todos ganham, ignoram o espaço, as outras visões e até mesmo as experiências de vida.

Por outro lado temos grande numero de rejeição, votos nulos e 28% que somados passariam tranquilamente o balanço anterior. Uma campanha movida por um único partido social, articuladora, sem interesses pessoais e totalmente voluntária, sem salários de 1.500 reais aos militantes (maior até que um professor do município), movida pela força de mudar, pelo cansaço de não fazer nada e olhar calado greves, mensalões; uma campanha que enche a lapa com 15 mil espontaneamente de baixo de chuva, que move artistas que se calaram durante muito tempo, um campanha que era invisível no horário eleitoral, um minuto de televisão e que talvez não tenha mais de 2 milhões ao todo. Essa campanha movida pela emoção, pela ética de não sujar o que está imundo, de não calar o que se faz silencio comprado, de ascender o que aparentemente apagou-se.

Pensei tudo isso e fiquei um tempo parado, escutando todos os militantes falarem. E pensei o que isso tudo mudou em mim? Quem é os verdadeiros perdedores? Lembrei-me de umas das coisas que essa campanha me trouxe: lágrimas, sonhos e amigos. Quando pequeno, tudo era mais fácil de acreditar... Bastava falar de um velhinho que trazia presentes e logo eu era capaz de sonhar num noite em que todos sorriam. Quando cresci, o sistema e todo esse balanceamento que rege o mundo me trouxe certo ceticismo. Será que o mundo vai mudar? Será mesmo que o humano tem valor? Será que um pequeno grupo é capaz de mudar todo balanço de números, dinheiro, empreiteira e empresários? Tudo que eu passei a esperar do futuro era uma espécie de “sonho” que eles mesmos balanceavam, vontades teriam que ser por meio de um estudo ou razão que faria sonhar um número de casas, roupas, carros e aparelhos que mudariam com o tempo estipulado por eles. Quanto maior o quantitativo mais vencedor seria. Ao vê a figura dessa campanha de Freixo, pensar em todos numa sociedade, num futuro, ao vê muitos jovens acreditando, participando, deixando de estar apenas numa rede social, abrindo mão de um domingo parar panfletar no sol quente do Rio, vendo senhoras como Dona Deia, que teve muitas decepções politicas com força e vontade. Tudo isso ascendeu em mim à capacidade de sonhar perdida na infância. Esse sonho com candura e inocência.

Essa campanha me reaproximou de muitas pessoas que não via a tempo, estive frente ao passado, relembrei minhas origens, me fez perceber o que existe a minha volta. Não sou os 68% que ignora o mundo, os olhares, a corrupção, a desigualdade e a esperança. Faço parte da nova geração que se levanta, de um rio rebelde por varias causas, coisas que eu só lia em livros de histórias como caras pintadas e diretas já. Pude vê no meu comitê fotos de um PT antigo, de um sonho que significou uma vitória perdida, movimentos como o teatro de Boal surgirem lá dentro, pessoas que fundaram uma corrente socialista e viram morrer no mantado de Lula. Pessoas que fundaram o partido socialista e liberdade, incapazes de matar um inseto, com os olhos mais radiantes de brilho, são eles que dizem: “não sou homem para chorar, mas sou menino para apreciar as lágrimas” ou “não ganho um real, estou na rua pelo ideal”. Um ideal maior que o partido, maior que uma figura de Freixo, esse mesmo ideal que é a alma vencendo o limite do corpo e morte. São essas pessoas que abrem as portas de sua casa, gastam gasolinas de seus carros, vestem uma camisa soando nela, pingam lágrimas a finco e vê de perto renascer das cinzas um novo movimento social que aparentemente tinha fechado suas portas ou pendurado suas chuteiras. Quem é o perdedor? São esses que ignoram o que poderiam viver, fecham os olhos para o que acontece a sua volta, que evitam discutir assuntos tão atuais na sua cidade, são esses que se deixam vencidos pelo numero, que conhecem os problemas mas dizem que eles não existem. Perdedores são esses que perdem todo tempo ignorando que existe algo maior que interesse e seu próprio mundinho. Perdedores são esses que se esquecem dos outros, dos sonhos e da capacidade de contemplar o outro. O que nos movimenta é essa linha do horizonte inatingível, mas que nos faz caminhar ao nosso melhor lado. E vencer é chegar próximo ao nosso melhor, sendo também, conhecer uma faceta do amor. Só os vencedores não se cansam de caminhar, só os vencedores sabem que seu sonho de vê um mundo igual não há balanço matemático, quantitativo e real que o supere. Porque coisas de vencedores são muito menores e grandiosas suficientes para silenciar o tempo.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um crescido esquecimento.

Que sombras de homem percutem essas olheiras?
Qual percurso retoma esse semblante?

Um senhor que esconde
o sentimento em aparente sentido.
Um cara refém dos esconde-escondes do que sou.
O pique-pega das rotinas que lhe fecha a cara.

Os medos dos monstros do armário
remetem-se ao medo de acreditar.
Um doutor é a fé e a ponta ao ofício.
A doutrina adestrada ao delírio sonho.

Os risos pintados com os dedos
são os amarelos dos dentes.
Troca protocolos descentes
afagados ao sigilo contrato.

Que homem é esse que vejo ao espelho?
Brinca de peão com as datas
Empina um balão que sobe esquecido.
O calvo obrigatório tecido guardado no escritório fingido.

Um cara que de cara de pau
troca o vermelho das tardes
e tinge ao opaco verniz.
O senhor que esconde a sobriedade
em tons de cinzas no nariz.

Nos reflexos de agora vejo
um cara trancado fechado por dentro,
Lá para fora dos outros o cara de aberto ego.

Aos poucos esse homem
esquece o toque dos amigos
Os caminhos das amarelinhas
O corres das campainhas.

Aos poucos a vida é de muitos.
As Poucas pessoas
e coragem de apenas uma multidão.

Aos poucos,
Bem aos poucos...
É comum um “desculpa, foi mal!”
pelo anormal esperança nas manhãs de natal.

Aos poucos, fica bem pequenininho
o esquecer de como é dar as mãos ao desconhecido,
Caído do ninho, se perde o primeiro voo do passarinho.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O encontro das órbitas: do caos à criação.

Coração em duas fronteiras. Eu habitado em tantos lugares, formas regulares e retangulares de vê a vida. Cigarro sobre os dedos formatando delírios de fumaças ao ar sobre o punho a bússola marcada por um vinho barato. Um pulsar viajante cronometrado pelas milhas da estrada. Vias, pontes, placas, escalas e aquedutos. Becos vielas ruas estradas morros vias avenidas saídas

Em parte estava eu ali, naquela cidade que não tinha visto, naquela parte do mundo que não conhecia olhando um desconhecido que me era tão familiar, fitando seus olhos, o seco comendo minhas palavras sobre a nostalgia de um tempo.

Cinelândia. Num restaurante que ele escolheu de vista para a rua, fitava os passantes tomando um café expresso com croissant semi-quente, quando sua presença se faz presente, fazia tempo que não via e estava bem mudado. Sua pele estava com tom típico daqueles que amavam e assim consequentemente era correspondido. Voltava de Paris mais saudável e me explicava alegremente à viagem. Eu suspeitava do que ele iria me dizer e meu coração palpitava asperamente por aquela noticia que me causava ciúmes ou náuseas de fugir. O pianista tocava algum blues que deixava o ambiente mais aconchegante e ao mesmo tempo o pesar do próximo enunciado era chumbo sobre meus ouvidos, peito e sentido- eu sabia o que ele iria anunciar, sabia prever cada sílaba dele porque o conhecia feito à palma de minhas mãos. Ficava bem quieta, porque sempre tive medo se ser engolida por sua inteligente e cultura. Sua calma de homem maduro e sábio. A forma como estuda meus movimentos quando me perguntava coisas, essa sim, era pertinente de uma fera dominando sua presa. Seus cabelos grisalhos estavam mais vivo na tonalidade do prateado cintilante. Sentia-me pequena, tão ínfima diante daquela figura que eu queria chegar próximo de ser. Agora o piano vibrava as notas de Chopin, semifusas cortavam minhas entranhas, era o preludio daquele outro concerto. Ele finalmente disse que tinha conhecido outra pessoa e que estava apaixonado e devíamos ser apenas amigos.

Violino, Bach, um simples Minuet que encheu as ruas de Porto alegre. Um mimico argentino exalava as cordas daquele instrumento.

Então ela desembaçava o óculos de aro fino e esperava por aquele desconhecido. Ele por sua vez escova os dentes com pressa, se arrumou rápido, pois teve uma noite dura perto do seu passado. Atrasado atravessa a avenida. Julia punha os óculos e escolhia um lugar fixo num modesto restaurante que não conhecia, enquanto Dan chegava à entrada e identificava a camisa vermelha que ela usaria. Finalmente os dois de frente um ao outro, dos lábios saia “você é a Julia”, “Nossa, finalmente nos conhecemos!”. Depois de longas conversas no facebook e trocas de cartas, para eles, as expectativas não existiam, Dan achava Julia linda até mais que poderia imaginar enquanto Julia não sabia calcular o balanço daquilo- só sentia uma leve sensação de preciso me entregar o mais depressa possível.

Ao fechar a porta do apartamento, os dois estavam sozinhos, a escuridão foi rompida quando Dan clica no botão na parede da entrada. Ele tenta se segurar para não beija-la, deixando a mais confortável. Julia desejava apenas um guia turístico, pois se perderia naquelas terras de um rapaz que tremia seu corpo.

Eu estava ali, era tudo ou nada. Estava pronta para por fim naquela saga de longas conversas com um estranho que desejava vê meu corpo na webcam, sempre discordava, mas estava ali para sacia-lo de uma só vez e, por fim, ele iria me esquecer. Faria exatamente como os outros, conquistaria seu objeto e depois se convenceria de que não valeria mais. Estava eu pronta para por fim, ele certamente me daria qualquer desculpa e finalmente estaria livre seguindo sem pensar mais nele. Ele poderia exerce toda sua vingança guardada sobre orgulho e me expulsar dali já que fui totalmente rude e grossa algumas vezes ao lidar com ele. Mas não o fez. Como uma cria de pasto estava pronta ao abatedouro, como um sacrifício, iria morrer de alguma forma, afinal sexo não faz parte daquelas pequenas mortes? Sentamos juntos na cama para assistimos TV, e eu só queria beija-lo, provar dos seus lábios e capitar qualquer saliva de sentimento antes que seja tarde. Beijamos, era forte, avido, químico, milhões de reações palpitando, adrenalina, algumas enzimas libertas, batimentos, sangue circulando, pele sobre pele, pelos rasando, finalmente o olhar sobre o olhar fixo- exatamente esse mesmo com poder de espelho mágico capaz de entrar na alma e arrancar partículas e fragmentos de espelhos sentidos, um trem-bala de sentimentos derrubando vias, pontes, placas, escalas e aquedutos. Becos vielas ruas estradas morros vias avenidas saídas

Os dois eram um “S” numa visão de projeto arquitetônico. Deitados na cama, colados como um, exercendo as posições sagradas do yoga. Quando Julia provava dos seus lábios poderia recordar a primeira prova da culinária alemã, ou quando um forasteiro prova de uma culinária totalmente afrodisíaca oriental ou mexicana. Daqueles lábios a mistura era agridoce, apimentada antes das interrupções do sindico do apartamento na campainha. Sua insegurança era apitada como alarme quando Dan olhava com frequência seu celular. Ela não queria atrapalhar, então resolveu dizer que achava melhor não rolar aquilo, os dois tomaram banho e foram à festa. Já podíamos dizer como dois desconhecidos naturais.

Eu olhava a ele e podia sentir a indiferença. Ele conversava muito com outras pessoas, uma conversa me parou especificamente era com a outra- ela parecida abalada e ele também, eu sentia que tinha havido algo entre eles. Depois daquele episódio, ele não mais me encarava, era como se eu não existisse. E eu nem sabia ao certo se era o desconserto dos últimos acontecimentos ou se era aquela conversa. Eu estava olhando, tentando decifrar um código de uma bomba atômica ou os mistérios da esfinge. Ele era um gringo agora. Falava outra língua que eu não dominava. Só queria ir embora daquela situação, mas algo me encorajava a ser forte e manter a situação como algo natural mesmo havendo uma fronteira entre nós. Duas fronteiras no mesmo lugar, dois lugares ao mesmo tempo. Agora eu era um forasteiro em terras que ninguém habitou, tentando sobreviver a lugares perigosos e desconhecidos. Tentando achar um mapa de sobrevivência daquela ex-mulher que marcou ou quem sabe de um tesouro que ninguém descobriu. Já não sabia se desejava não ser aquela estrangeira, mas tinha certeza que precisava fugir dali antes que seja tarde demais.

Julia estava sentada na praça olhando as arquiteturas que se assemelhava aos humanos. Homens que querem chegar aos céus, pessoas que tem paredes quebradas pelo tempo, pequenas plantas que nasciam no concreto de uma cidade como atrevida esperança. Os Museus que guardavam suas relíquias que teimavam de sobreviver ao tempo. O tempo de tentar conhecer todos os lugares mais remotos da cidade. As estatuas de lendas que assim por assim dizer sobreviviam ao tumulto das falas compulsivas do cotidiano. Prédios grandes e pequenos, juntos e separados, antigos e novos. Poluições visuais de cartazes políticos e publicitários, alguns tentando convencer que aquele produto mesmo testado em animais e causando sofrimento era o melhor. Pessoas de ternos e gravatas presas no seu próprio mundo tentando convencê-las que elas eram mais ou menos superiores que as outras, de que não valia a pena um olhar ao desconhecido, todos os dias podia Julia imaginar uma fotografia. Aquela capitação do tempo perdido. As cores do brilho da noite que tapavam o brilho natural das estrelas. Os múrmuros que aos poucos se silenciavam. As esquinas entupidas de bares e amantes, insistia no céu, uma lua que ainda procurava corações estarrecidos de paixões, então, essa lua cheia de si iluminava pequenas escuridões da cidade e quando encontrava ressalvas de corações embriagados de amor essa mesma cheia lua esvazia o a mar se recolhia como modo de respeito ao leito de um mar.

O ultimo encontro. Dan novamente convidou Julia. Seria sua ultima noite naquela cidade antes de voltar. Ele estava mais ali, parecia que as fronteiras não mais existiam, os olhares se encontravam com frequências como uma coreografia espontânea. Dali daquelas festas os dois iriam mergulhar num mundo desconhecido, num mundo de sonhos e encantos. Num mundo onde os que entram não sabem se retornarão, só sabem que ficaram mais vivos. Vivos sem qualquer ressalva de um acidente.

Ali estava eu, não queria pensar em nada, não queria o calculo como eu fazia da vida. Estávamos prontos para enterrar todas nossas questões, anular todo passado que ainda visitava como fantasma e sabendo que remorsos e rancores eram velhos amigos. Pegamos na mão um do outro no embalado dos movimentos. A combinação do toque daquelas mãos maiores que as minhas, da pele alva que clareava o escuro e de sua pele parda que se apagava. Explorando cada curva, cada atalho, cada silhueta perdida no escuro do seu corpo, uma criança brincando pela primeira vez com o presente seminovo. Sua respiração ofegante e limitada de gripe. O gosto da saliva, o toque dos dentes ao morder de leve os lábios, o fechar dos olhos e o sentir da sua língua percorrer meu corpo, o tremer dos ossos, o nariz que passa bem de leve no pescoço causando arrepio dos pelos, os dedos que passavam de vagamente enquanto ele me falava de seu passado e sua família. Ele me falava da sua infância e de suas melhores e piores lembranças, aos poucos, já não era desconhecida e nem tampouco estrangeira. E eu tentando dominar a situação, beijar seu pescoço , ele se encolhendo, revirando o jogo. Revertendo-me ao avesso, o avesso do avesso, de outro lado de mim. As últimas palavras, lampejos de confiança e esperança. Era a noite mais escura na madrugada e minha pele sentia o pior frio. Ele tentava me aquecer encolhendo em mim, eu estava entregue como um bebê em seus braços maiores e então apaguei em outros sonhos. Janelas do quarto anunciava o amanhecer. Algo dizia liberte-se. Então cansados de nossos corações sem graça, arrancamos fora. Procurando o paraíso nas curvas da vida encontramos os demônios. Se iriamos sofrer ou não, já não importava, mergulhamos no nosso mundo de sonhos dançando com os demônios e os anjos porque isso era o nascer do amor. Nossos corpos se tornando inocentes, respeitando os limites, contornando os espaços misturando ao som das confissões que o orgulho apagou e agora o sentimento que surgia ressuscitava como milagre da existência. O corpo aos poucos apagava aquela imagem do arpoador. Naquela noite tão fria em que os corpos queriam resistir ao tempo. Apagava as decepções amorosas e todos os demônios do medo, apagava as tentações e o limite da carne. Éramos duas crianças que brindavam o corpo e que não tínhamos medo do amanhã, do raiar da janela do quarto ou do avião e da despedida. Apenas duas crianças.

Então, Dan acordou para beber água, já não conseguia dormir. Resolveu olhar Julia apagada. Como Julia fazia quando não se entregava tanto. Talvez ele olhasse com tanta serenidade e calma daqueles que dominam a situação. Daqueles que sabem o que querem sentir. Mas ele olhava sua obra final. Quando amanheceu, Julia se arrumou, os dois caminhavam pelo centro até o ponto. O ultimo olhar da janela de um carro.

O vagão do metro é a perfeita metáfora para isso tudo, pensei eu, depois de um dia de trabalho cansativo e diversas perturbações no escritório. Aos poucos começava a fazer piadas das minhas situações atrapalhadas. Aos poucos me pegava rindo sozinha, aos poucos. De uma lado estava eu no vagão e de outro um enorme outdoor com a publicidade do cartão de credito- uma enorme praia paradisíaca dos sonhos, aguas tão azuis, areia branca e fina e um sol tão radiante amarelo ouro. Aquela campanha me convidava a uma viagem se eu comprasse tanto no cartão, e eu me vi ali, de férias do cotidiano, de férias da minha família, férias do pensamento repetitivo. Estaria eu por um tempo distante do que me é comum. Naquela praia perfeita estilo os filmes de Hollywood, vivenciando um sonho, talvez conhecendo um rapaz sarado e educado que me encantaria e me faria perder a cabeça. Conhecendo pessoas tão incríveis que moram léguas de distancia. Debaixo de um coqueiro bebendo daquela agua de seus frutos. Ao som de alguma musica do Hawaii e perto de Deus. Mas o vagão é o limite entre nós. O vagão é a realidade que me chama para voltar. O meu objetivo de profissão, o meu limite de cartão, as contas que chegaram ao próximo mês, à saudade daqueles que ficou, o compromisso que deixei com outras pessoas, deixei vago um espaço no meu quarto onde pessoas pedem que eu volte, deixei um rastro onde gravidade me puxa ao chão. Então, alguns diriam “mas o sonho é meu lugar”. Que mundo é esse onde você não é desafiado? Que mundo é esse onde você não conhece seus limites? Porque viver num mundo longe dos choros, onde tudo é perfeito. Qual o sentido disso tudo? É justamente no vagão que sei o meu limite e me conheço bem perto da noite. Nos momentos mais difíceis que sei o que sou é no vagão. Os sonhos nos motivam a viver, mas o vagão, ele sim é o vapor que nos alimenta.

Quando conversava com Dan na internet, ele me disse que sonhou comigo. Eu comecei a ri das possíveis coincidências. No sonho, eu o visitava na sua casa. Ele me mostrava os lugares que mais gostava de sua cidade, trocávamos carinhos, me carregava no colo e riamos. Dan me pedia que eu ficasse, mas eu dizia que teria que ir embora, pois notariam minha falta se eu não fosse. Que precisava ir. Eu sei perfeitamente disso. Escrevia qualquer coisa no teclado, mas adorando a coincidência daquele fato. Dan sempre me assustava de alguma forma com suas palavras espontâneas, até um te amo, coisa bem rara na minha vida. Nesse dia, parei, fiquei um bom tempo parada diante de uma máquina. Ponderei bastante e me perguntei: esse menino sabe o que está dizendo? O que ele quer de mim? Não tenho dinheiro. Disse que existia qualquer tipo de amor, tentando fazer a gentileza legal, mas não era qualquer tipo dizia ele. Era aquele de fugir comigo para a praia paradisíaca, era aquele do outdoor, era aquele amor do voo do pássaro. Para ele tão legitimo e real, para mim intocável, puro, atormentado, platônico e juvenil. A essa altura do campeonato precisava de coisas apalpáveis e maduras. Vivíamos em mundos diferentes novamente. De uma ponta do mapa do Brasil estava eu, num estado quente, solido, aos poucos as crateras de gelo derretia, de outro lado, estava Dan, num estado frio, gasoso nos ares, sobre o vento, quente como um vulcão. Éramos assim, comuns na arte, sensíveis ao toque de um artista, mas em mundos diferentes. Ele precisava de mim para suas criações. E eu, o tempo inteiro mantendo-me em cordas sobre o chão. Impossibilitada de qualquer entrega. Se no sonho eu fosse até a ele, quando terminava o fim do encanto, eu precisava voltar, pois aquela não era minha natureza. Dan gostava disso, mas eu queria um tiro no pé. Sou dessas pessoas que cortam o mal pela raiz, sou fria e crua. Só alimento possibilidades reais. Mas por um momento percebia que o sonho é real, pois quando se sonha tudo é capaz de ser realizar dentro de nós.

Aos sons de um ilustre desconhecido, o violino estendia-se pelo largo da carioca. Nunca tinha escutado aquilo no Rio de Janeiro. Aos poucos tudo ia ficando mais calmo numa cidade que sempre samba no pé, aos poucos as favelas iam ficando acesas. Os bares iam ficando cheios de ternos e gravatas, as luzes ganhavam a cidade e morros. O cristo cheio de luz aberto sobre meu sorriso. A fumaça de alguma grelha tampava as luzes das estrelas. Enquanto luzes de todas as janelas era da novela das nove ou dos pc’s logados no facebook. Nesse mesmo instante, as coisas ganham tamanha velocidade e tudo está próximo. Meu ser esvaziara-se e sentia tamanha indiferença, amores se formavam, pessoas conversavam umas com as outras na frente do computador mesmo morando no mesmo prédio e casa. Noticias da greve, de tantos protocolos e mensalões se perdiam com anúncios políticos e passivos dos direitos morais. Meu feed de notícias, reclamações, piadas, amores, minha única frase de expressão se perdendo num caos de um grupo, memes, musicas, pensamentos aleatórios, fotos, exibições e blábláblá. Aquela frase que postei pensando no Dan se foi como aquela ultima palavra. Talvez ele nem visse. Talvez estivesse ocupado demais com tudo isso, com todo caos de solicitações, de e-mail e de acessos.

E assim num circulo meio parecido, numa plataforma, pessoas embarcam todos os dias. Outros que acabaram de chegar, outros que receberam um abraço, pessoas que apenas partem sem planos, pessoas que ficam perdidas, pessoas que querem abraços, pessoas que a rua leva numa cidade cheias de luzes, pessoas que só querem voltar quando querem, pessoas que vão para nunca voltarem. Assim choros, despedidas, risos e alegrias, promoções, vantagens, fugas, pessoas que apenas estão olhando, vai e vem de coisas que se repetem, gente que vai, mas que desejam voltar. Nesse mesmo instante, aviões e trens vêm e vão, esses mesmos que chegam é que oferecem a partida, encontro e despedida. Amores vêm e vão. Alegrias vão e vêm como uma roda gigante. O destino ou sorte nos impulsa e nos retém ao caos. Um encontro apenas é acaso, dois encontros numa via o que chamaria os deuses de destino.

O que me restará se não for engolida por esse buraco negro da vida? Ou tentar marcar meu espaço ou ir de vez nessa única viagem? Sabe aquele momento que você marca um encontro e é recebida com um bolo. E você se pergunta: onde errei em acreditar demais? Eu ser eu mesma? Parabéns para você! Bolo de aniversário, êêê...

Então, você gasta todo aquele tempo acreditando, vivenciando aquilo, percebe que foi uma completa idiota ao cancelar todos os compromissos, ao pegar um ônibus lotado, talvez me preparado num dia de chuva e fim. Aquela viagem perdida. Ninguém apareceu no encontro. Mas acredito que a viagem perdida sofre aqueles que estão na vida e nem sabe o porquê. Esses mesmo que não levam nada a serio- medo de compromissos, de relacionamentos e de expor suas opiniões. Esses que já não querem lembrar-se de nada, qualquer sentimento é pueril demais, frágil o suficiente, respirar já é demais. Perdendo viagem, estão aqueles que tudo pode esperar, aquele livro, aquele amigo, aquela semana de mudar de roupa e de fazer aquela dieta. Aqueles que gastam mais tempo com a vida dos outros do que com a sua. Lembra-se de um passado e esquecendo coisas por medo de doar-se demais. E lamentavelmente estão perdendo a viagem àqueles que estão prontos para serem engolidos por esse caos, por essa timeline e destino. Esses que estão sempre reclamando do tedio a mercê das garras do tempo.

Outro dia, estava eu em casa com minha solidão assistindo um filme da Julia Roberts sobre uma mulher que cansada de sua vida que viaja para Itália para comer, para índia para rezar e na indonésia encontrava seu amor. No fim das contas era uma viagem dentro dela mesma. Imaginei que aqueles que lessem um livro fossem capazes de fazer outra viagem, mas sem sair do lugar. Fiquei imaginado que às vezes as pessoas nem precisam viajar fisicamente. Algumas viagens que faço e ir aos domingos na feira. Sobre aquele mundo de pessoas desesperadas por promoções e roupas. Olhos sobre pousados nas prateleiras e no mar colorido das barracas, no meu caminho, crianças, idosos, pessoas que param do nada e que conversam sem presa sem pensar nos outros passantes, engarrafamento de gente, todas ali sem estar, quando uma senhora me confunde com Beatriz falando como se eu fosse essa tal, quando se tocou que eu não era Beatriz continuou sem estar ali. Talvez seja como ir ao Shopping, um lugar fechado como uma caverna onde você só tem a opção de olhar as vitrines e o ideal social. É um desligar do mundo, uma nova forma de terapia. Talvez Dan fosse assim, desligado e esquecido porque tem muitas opções. Tantas vitrines, tantas barracas, produtos coloridos e pequenos, roupas largas, baratas ou caras. As pessoas andam esquecendo com facilidade, andam perdidas como o tempo, largadas ao leu desse caos de feira e caverna. Então, a sua importância e todo seu legado são medidos por essa enorme quantidade ou essa avidez assombrosa de querer as coisas com mais facilidade e rapidez. Toda vez que olha para as pessoas vejo um pouco disso e não seria diferente ao Dan- sempre distraído suficiente dentro de uma caverna de barracas e vitrines.

Hoje peguei as coisas que Dan me deu por carta, hoje reli tudo que conversamos no histórico e tentei traçar uma explicação totalmente inútil. Pensei em quantos casais e amigos que se tornam estranhos naturais um ao outro, pessoas que passam perto das outras sem nem ao menos dizer “bom dia”, mas que num tempo remoto foram tão amigos inseparáveis. Pessoas que dividem o mesmo teto e são incapazes de saber como são os outros moradores. Pessoas que se olham normal, sem nenhum olhar de curiosidade e surpresa. Casais que se tornaram tão comuns quanto a luzes da cidade na noite de sexta. Filhos e pais que não se tocam. Que diminuem o numero de postagens e status intermináveis de relacionamentos. Pessoas que numa noite de bar, num estado diferente, num mundo oposto se tocaram e ao acabar a magia dos sonhos que unia os dois mundos fingem mais que não se conhecem. Como se nada tivesse acontecido. Todos estão prontos a oferecer a indiferença porque ela é superior e normal. E naturalmente Dan irá fingir não se importar, o tempo dirá que não sente nada, talvez irei lembrar menos dele, dizendo a mim mesma que ele era a pessoa errada, mas aos poucos, tudo isso fica mesclado em mim. Aos poucos Dan não ligará, mas nunca dirá que não sente nada. Sempre muito simpático e diplomático para isso, quanto a mim, uma péssima jogadora que nem sabe ser a manipuladora. O pouco poderá ser muito ou o muito poderá ser nada. Disso pouca importa, as coisas ganham proporções grandiosas quando quero. E dentro dessas superfícies espelhadas estarão lá, esperando o momento do meu embarque. O momento que fecharei os olhos para seu encontro.

Dou uma pequena pausa e respiro. Espalhadas pela minha mesa de escritório estão minha planilha, uma maquete, meus desenhos e a pauta. De repente me dou conta do tempo e vejo que trabalhei demais- planejar detalhes de uma casa não é a mesma coisa do que ter nas mãos a vida. Vou até a cozinha e pego um café para fumar e ao voltar à sala ligo a TV para zapear. Paro num documentário sobre cometas. Gosto desse tema, milhões de galáxias e planetas. Fico imaginando que não sou a única, que além dos meus problemas e decepções medíocres existe uma infinidade estrelas que nascem. Que não só existe meu mundo. Fico imaginando o cometa Halley viajando todos esses buracos negros de galáxias. E que nenhuma estrela tem a preocupação de lutar contra o buraco negro que irá engoli-la, pelo contrario, ela deixa de existir e seu brilho continua ecoando no tempo até chegar ao nosso céu. Dizem que o universo contrai e que descontrai, e quando ele encolher, seremos engolidos pelo caos, ao contrair surgirá outro big bang. Fico pensando que dentro de meu sangue deve ter o mesmo material que formou uma estrela. E algumas estrelas se encontram uma com a outra milhões e milhões de anos. Por exemplo, o Halley com sua órbita passará pela superfície da terra há alguma década bem distante no futuro. Então às vezes os encontros amorosos são parecidos com o espaço, existe um buraco negro que quer nos engolir, mas o brilho de uma estrela ultrapassa um tempo que não existe no vaco, ou seja, lá o que for. Para um cometa encontrar sua órbita isso pode ser um único encontro, visto por poucos, em determinadas horas de eclipse com uma luneta especial. Esse mesmo cometa que o pequeno príncipe pegou carona em busca de algo que lhe cativasse. Essas mesmas estrelas que são tão mais vivas e cheias numa cidade do interior onde fico deitada olhando da janela do ônibus numa viagem, pensando onde estaria àquela pessoa que dará algum sentido, pensando nos milhões e milhões de chances, mínima chance, porcentagem distantes umas das outras. Na cidade do interior onde os habitantes dizem observar discos voadores com certo olhar ingênuo sobre o que é vida. Logo, boa parte desse nosso interior ainda acredita na existência de vida, mesmo não havendo possibilidade em espaços desertos. Será que existe vida fora dessa terra? Ficamos contemplando os céus estrelados acreditando sempre nesses encontros e viagens imaginárias que nos salvaram dos buracos negros. Os planetas meio que esperam esse momento de realinhar, um momento que para os que vivemos a base de um padrão chamado tempo é quase eterno, mas talvez no espaço nada seja longo, talvez tudo passe como a velocidade da luz. Talvez um dia Dan e eu possamos nos encontrar como dois cometas, nossas orbitas possam se colidir e dessa explosão surgi novas estrelas nos espaços vazios. E desse encontro que se estenderá a uma eternidade, depois de milhões de anos, essa mesma estrela passará pela terra inspirando poetas e apaixonados.

As digitais de Dan ainda estão em minhas mãos. Interminavelmente toco naquelas cartas. E quem dirá, surgirá um som de um violino na viela. As luzes se acenderão como vagalumes. O vento será brisa. O sonho me convida para um embarque. Horas intermináveis para planejar novamente aquele sonho e aquela viagem. De tentar o que não deu certo, de se permitir. No meu apartamento desligo o PC e começo a uma viagem em mim mesma. Sinto que não tenho tempo para adiar. A saudade é o passaporte para a utopia.

E essas tentativas vans de esquecimento, de tampar a ausência, de reviver um passado e aparentar a frieza são abafadas pelas palavras sentidas. Porque é exatamente esse mesmo olhar que reflete a criança perdida que penetra no escuro nos lados mais trevoso e chama todo caos para brincar. Sem medo eles vão tremendo nas linhas do destino, sem se importar se estão embolados, picotados, amarrados ou triturados. As crianças vão inocentes na noite mais fria do ano chamar os monstros para se libertarem. E quando estou de frente para todas essas lembranças me sinto pronta para reviver aqueles olhares que descobrem as cortinas da alma me revelando um palco onde Dan vai estar me esperando. Estaremos calmos e serenos para partir numa única viagem de algo preso no olhar que se solta sem que nada peça. Unindo pontas e mais ponta da distancia, revelando ausência tão presente em mim e preenchendo as lacunas com uma enorme cascata. O encontro das órbitas das nossas retinas.

Então as luzes acendem as cidades e outras luzes saem dos nossos olhos somente dentro de tal espelho surge uma estrela cadente que transpassa vias, pontes, placas, escalas e aquedutos. Becos vielas ruas estradas morros vias avenidas saídas

quarta-feira, 11 de julho de 2012

(des)Classificados

Trago o amado em dois dias,
porque apenas um mentia.
Trago em mil e uma noites;
alguns meses e uns contos de reais;
segundos de torpedos e risos sobre a cara
e setes dias de terror perto da Samara.

Agora só restará um amor que é distante.

Trago o amado em um dia,
e deixo sobre os teus pés.
Faço trabalho e mandinga.
e dentro de alguns minutos assinará todos os papeis.

Agora o amor é tão longe sobre um tanto que é de monte!

Poesia, traga meu amor seja noite ou dia.
Faça o amador essa coisa amada,
não apenas água de dengue parada,
ferir em vão assim por nada
por essa Mágoa mal plantada.
Deixa quieta a mente para que o amor
se vá trazendo o amador a cada dia

que o feitiço funcione
que eu pouco ame
O amor que se dane!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Amor e seus outros saberes ou outros sabores?

Muito tem me intrigado, durante algumas semanas, esse assunto sobre o Amor. Algumas coincidências de livros comuns ao tema, aulas de literatura sobre Camões e o velho e tradicional estilo romantismo-E agora mais nitidamente o famoso dia dos namorados.

O que é o Amor? Seria equivalente a pergunta do o que é Deus, ninguém ao certo chegará perto dessa resposta, que acredito eu, nunca deveria ser respondida. Pois ao certo essa pergunta se mistura na nossa história da humanidade. Se ao nascermos, saímos do útero materno ao que poderíamos comparar com a figura do paraíso. Quente, confortável, protegido e sem consciência- já que o bebê está totalmente nú, ignorante e inocente. Pelo rosto do bebê, percebemos que é uma dor sair do ventre materno, pois naquele primeiro choro ele tem contato com o frio, o desconfortável, a eterna insegurança, a convenção social. Daí, o homem sempre será incompleto e ao perder essa figura materna irá procurar no Amor o preenchimento.

Antigamente, o homem das cavernas precisa se reproduzir. O sentimento era mais instintivo, talvez no sentido de direção à sobrevivência da espécie. Com o tempo, passou-se a existência de tribos e mitos. As coisas necessitavam serem explicadas, ao surgir a palavra, para o pensamento de Rousseau, o homem ganhou o atributo do sentimento ao lugar e ao próximo. Falando o homem necessitava explicar o que sentia e precisava organizar a sociedade. Então, o amor passou a ser código, era necessário o cortejo, os atributos nobres, as etiquetas. Durante o tempo, o mito das almas gêmeas ganhava mais espaço no pensamento dos homens, os Deuses zangados por inveja das relações dos homens resolveram dividi-los em duas partes espalhadas bem distantes uns dos outros. Ou então a divindade Amor com letra maiúscula para se referir a Eros, o Deus pagão, ou cupido, aquele anjinho que flechava os amantes. O mais comum a nossa sociedade e o sem duvida alguma, digo com total certeza, seria o amor platônico esse pilar dos nossos sentimentos sociais. Seria aquele sentimento forte intenso que o amador deposita no objeto amado, de forma que só será amor se ele não tocar ou não realizar esse sentimento. O sentimento só é puro e real se estiver no plano imaginário, se houver toque é impuro e logo não poderá ser amor, pois perderá o sentido que só era forte quando foi impossível. Podemos observar isso claramente em Dante e o poeta Petrarca, idealizavam mulheres como Deusas, mulheres com quem nunca trocaram palavras e nem toques, mas que obtinham sentimentos no campo imaginário.

Entretanto, podemos observar nessas mulheres, o maior símbolo de pureza e padrão de beleza. Sempre loiras, de olhos claros, pele alva como a neve e passivas de espera eternamente. O cristianismo tratou logo de adestrar esses conceitos, no pagão havia rituais visando o sentido de buscar os deuses pelo contato da natureza, logo o sexo era algo sagrado. Com a Ascenção da igreja Católica, o corpo tornou-se impuro, o homem eterno pegador que precisava reparar sua condição de culpa sobre a terra. O amor e o sexo misturaram-se, e ainda mais, o amor precisava vencer o sexo que era sentimento pecaminoso e terreno. O amor vinha de Deus, já o sexo era obra satânica. Alguns estudiosos apontam esse fenômeno como tentativa primaria do estado e da igreja de educar sexualmente e evitar a superpopulação. No fundo a instituição casamento tanto defendida pela tradição nada mais é que uma troca de interesses comum e antiga.


Agora, gostaria de impor a vocês, leitores, outro conceito que tem muito a vê com a relação que a igreja estabelece ao amor versus sexo. Pensemos no oposto de prazer, seria repressão? Seria desgosto? Seria a falta de vontade? Que tal pensarmos no oposto como criação, o proposito. O prazer seria aquilo que nasceu para destruir as coisas. Imagine um cozinheiro que tem o proposito de fazer um bolo, ele criou. Mas do que adiantaria o bolo somente para ser visto? Então, surge o prazer de degustá-lo em fatias ou o prazer da gula de comê-lo sozinho, logo notaremos que o prazer destruiu a criação do bolo. Assim é a livro, alguém cria, mas do que serviria o livro para está na instante para ser visto? Então o leitor lê e logo o prazer da leitura destrói todo o pensamento anterior. Pablo Picasso como um dos maiores gênios artístico disse que só conseguia vê a arte como destruidora, não existe criação sem haver destruição. Sendo que arte busca a imitação do gênesis e o fim apocalítico do amor.

Pensando assim, surgi o renascimento, era das pesquisas, da razão. Podemos notar num dos maiores poetas que canta o Amor, Luís de Camões, o conflito do amor platônico idealista com um novo amor, ao melhor, novo amores- aqueles que necessitam de experimentos carnais. Pois como provar se gosto se nunca experimentei? Como Deus criou o homem e dotou da faculdade do prazer se não queria que nós pecássemos? Sendo o homem um dos poucos seres vivos que faz sexo e tem prazer. Camões reconheceu que era homem e precisava desse amor baixo para chegar ao autoconhecimento e ao divino. Eis que entra na sociedade um grande revolucionário, Jesus que diz que ninguém herdará os céus se não amar. Mas esse amor era diferente de todos os moldes de antes, era um amor a qualquer um, amando a si mesmo como amar ao próximo. Jesus não estava propondo amar sua família, seus amiguinhos, era mais além, um amor universal na mesma proporção de amar a si mesmo até mesmo as pessoas que se dizem nossos inimigos. Se Buda ou outros seres de luz, viviam uma vida de reclusa, Jesus não, foi ao povo e serviu de exemplo maior de entrega ao mundo. Fundou-se um novo modo de preencher o ser, todos os outros amores eram menores diante do amor pela entrega. O amor como chagas de uma cruz que deveria carregar a vida inteira.

Agora vou desmontar tudo que escrevi para vocês, vou tentar explicar o pensamento de Nietzsche, para esse filosofo do século dezenove, os homens criavam outras realidade idealista e não vivam o mundo. Seja de maneira positivista, como a religiosa, o homem viva na terra visando o campo de Jerusalém, o paraíso ou Sião, sendo que precisava para chegar lá vivenciar as coisas relativas de lá. Mas como fazer isso se nunca esteve lá? E como se o homem vivenciasse o extremo do platonismo, viver aquilo que de um mundo imaginário. A ciência veio e causou um trauma novo na humanidade, agora o homem vivia na terra visando outro paraíso que é o futuro com sua tecnologia, com sua logística da razão que explicaria e preencheria seus vazios. Deus estaria morto, a ciência explicaria tudo. Ambos os modos são idealista e afasta o homem do proposito do mundo e o instante agora. Então, tudo isso fez o homem ser idealizador demais. A situação mais fofinha e bela dos contos de fadas, como se todos fossem educados a amar outro só se acontecer coisas parecidas com esse segmento. A escolha do parceiro que lembre e remete traços maternos, já que a mãe foi à figura castrada pela psicanalise. Era necessário o super-homem aquele que se bastasse sem qualquer plano imaginário e que vivencia toda potencialidade da terra, aquele pronto para qualquer adversidade do presente e capaz de assumir o risco da “Errância”-Esse homem senhor do próprio destino que não culpa mais sua vida a qualquer divindade.

É como se nunca fossemos atingir o que fomos educados, a ser melhor tendo o amor dos sonhos, a chegada do príncipe encantado dos livros. E essas situações frustraram gerações a gerações, e ainda, mais uma das maiores confusões que o homem já fez e ainda faz é a relação entre amor e sexo que ainda faz muitas pessoas sofrerem. Quando penso nisso, me vem à mente a música brilhante feita pela Rita Lee e Arnaldo Jabor, se você quer viver bem separe essas coisas. Sexo é algo racional pela escolha, amor é irracional pelo sentimento. Sexo é satisfatório, amor é doação que quase sempre é insatisfação. Percebemos o índice de confusão pela expressão “fazer amor”, sexo e amor não andam juntos. Tanto que os casais que muito se completam não oferecem bom desempenho sexual. O que vejo diariamente é um conflito social, amar ou deixar que o império sexual capital me possua? Fortemente a mídia para alcançar audiência bombardeia na TV esses assuntos apelando para bundas, cenas picantes e amores sem compromissos. Acho que o primeiro passo para um ser humano sem crises é separar essas duas coisas e descobrir em cada fase qual dos dois lados é o seu caminho. Sendo que o caminho do sexo é quase sempre solitário e egoísta, diferentemente, o amor é caminho a dois. Você não precisa de outra pessoa para saber o que é prazer e seus sabores. Outra enorme confusão, é deixar o sexo no campo da moralidade, é comum notar bem no íntimo das pessoas o achismo que pessoas que pensam em sexo são safadas ou nem possuem caráter. Como assim? Diria um comercial, sexo é vida. É onde começa o primeiro ato de criação. Aqui vejo outro problema social, separe de vez sexo de qualquer princípio religioso, viva sua religião, mas tenha certeza que você é humano e que os outros também o são. Como na escola, os professores falam de sexo de modo preventivo e de ordem biológica, ninguém é capaz de tocar nesse assunto de ordem psicológica, porque será? Vê a vida de ordem moral, muitas vezes é ser o cúmulo do platonismo. É idealizar demais, acho que ninguém é completamente mal por querer somente uma vida sexual, por mais que seja um vício, assim como a pessoa não é completamente a santa desejando encontrar o amor da sua vida. SEPARE ESSAS COISAS! Como diria o poeta Manuel Bandeira: Esquece a alma, almas não se entendem, deixe o corpo falar. Corpos sim, eles se entendem. Talvez a comunidade que mais entenda disso são os gays. Por quê? É obvio, eles aprenderam na marra a diferença principal entre sexualidade e gênero. Aqui também existe outra polêmica: seria essa classe a mais promiscua? Seria ela a divisora dos valores cristões e da família? Mais para frente pretendo chegar nessa polêmica contemporânea.

Depois disso tudo, os homens e mulheres passam por outra etapa: a escolha. Somos nós que escolhemos ou somos escolhidos? Escolhemos por aquilo que não temos ou por aquilo que tem dentro da gente? Quando me vem essa questão, lembro-me do programa da Eliana, onde tem um quadro de homens que rolam numa esteira que muito me lembra das técnicas de mercado do Fordismo. Sério, não temos mais o que disfarçar, o amor é um bom negócio à sociedade como todo e a tudo que sentimos. O que diria dos filmes de comédia romântica que fazem bilhões no cinema, o que dizer de uma saga platônica surreal entre um vampiro e uma humana? Eu tenho uma boa certeza que oitenta por cento dos casais estão juntos pelos status, por aquilo que o outro oferece de benefício. Os mais idealistas, que ainda são mais exigentes na escolha do produto, depositam sua espera no amor platônico por uma estrela de televisão. Aquele ser intocável que nem sabe que a pessoa existe. Vejo na sociedade um fenômeno que sem duvidas não é novidade e com certeza é influencia do mundo que cada vez mais é proposito de reinventar um produto, uma marca nova e os novos meios de venderem as caixas. As pessoas estão exigentes, cada vez mais insatisfeitas, sempre trocando, procurando mais funções nas outras e olhando mais o padrão. Porque namorar se posso ter vários produtos? Ou não quero mais namorar, porque fulaninho tem mais funções como celulares da Apple têm. Vender a ideia de você um dia vai encontrar o amor dos seus sonhos é a mesma coisa de você vai conseguir o corpo dos seus sonhos, só assim você será feliz! As pessoas acreditam nisso e gastam todo seu dinheiro com esse mercado. É óbvio que quem lucra com as datas comemorativas são os empresários do ramo. Quem perde é quem entra no jogo!

Com o passar do tempo, até para aqueles que não são tão consumistas, é notório o conflito. Existem pensamentos divergentes, alguns criam ciúmes como bichinho de estimação achando que é tempero, esquece-se da ordem inicial que é a entrega, e faz parte dela a confiança, pois ambas andam juntas. Como naquele exercício de teatro primordial para saber se você será um bom ator, aquele que o ator testado deve ser jogar de olhos fechados para trás na esperança que o parceiro de cena o segure pelos braços. Nem todos estão prontos para isso, vivemos num mundo ditado ao medo. A convivência muitas vezes é a perda da admiração até dos mais completos, dos mais afins, pois agora é necessário vivenciar com problemas, situações de teste e provas, agora ninguém mais vai para sua casinha de sapê, todos estão no mesmo espaço, dividindo as mesmas coisas. Agora todos sabem como é o lado escatológico, o lado acordar cedo e os desafios. Quando a perda da admiração acontece, o amor cai. Desse lado, vejo outro problema antigo: o comodismo. Noto isso pela simples frase: EU TE AMO, EU TAMBÉM. Desde muito menor sempre achei isso o ápice da falta de cinismo, como os seres humanos gostam de serem enganados? É muito mais prático uma mentira inventada do que a dura realidade. Existe um puta vazio nesse “Eu também”, um abismo enorme e uma ponte que eu chamaria de roupas lavadas e pratos feitos, filhos para criar, casa bem arrumada e o medo da solidão. A maioria tem pavor da solidão, as pessoas sempre enxergam a solidão como tristeza, pois em alguns momentos acredito que ela é essencial. As pessoas buscam as coisas porque a TV diz, porque a Disney diz, porque a mamãe diz, porque o padre diz. Mas gente, porque a solidão? Para você tentar uma vez na sua vida descobrir o que você quer. É difícil, mais é muito melhor do que a insatisfação de fazer outra pessoa sofrer por conta de seu egoísmo. Nesse momento, algumas pessoas ainda tem esperança de mudar o outro. Tá aí outro mal do “amor”.

Por que diabos, sempre queremos transformar o outro? Porque aquilo que nos incomoda é aquilo que temos? Queremos criar um modelo de alguém que seja o nosso parceiro ideal? Esquecemos que a mudança mais eficaz do mundo é aquela mudança de ordem pessoal, se eu realmente mudar, naturalmente as pessoas em volta irão notar e começaram a refletir sobre algumas questões. A maioria dos outros precisam impor, um modulo, uma teoria maçante, um modelo de mercado pronto, esquecendo que os seres humanos são plurais e não singulares. Ninguém é parecido com ninguém. As pessoas querem pessoas iguais a elas, mais o ponto mais marcante do viver é a diferença, e muito mais, saber lidar com elas. Aqui tá a maior prova que a intuição religiosa é uma enorme bagaceira, porque é justamente ela que trouxe esse lado do humano mais escrachado que é o de impor uma mudança. Uma ordem quase que necessária, o proibir. Sendo que proibir é o caminho mais fácil para fazer escondido. Quando você diz não pode, com certeza, você tá inventando uma regra para que a pessoa faça necessariamente.

Por tanto, vem à separação que não é mais a expectativa, é o resultado, a máxima da frustração. Nunca passei por isso, mas acredito que deva ser triste para qualquer nível de sentimento. Aquela razão por agua a baixo, a sensação de não ter dado certo, dos planos que acabaram. Imagina a sensação dupla de separação do casamento com filhos? Nosso o maior problema é que depositamos nosso ideal de felicidade numa vida a dois. Dentro desse escopo, sofremos sem necessidade.

Hoje existem novos fenômenos sociais, não muito diferentes dos antigos, visto que o grande eixo de conflito é o amor sublime e o amor carnal. Na atualidade, existem maior evidências nas relações homoafetiva, essas que nos fazem questionar o valor dos laços. Serão os laços sanguíneos e visíveis totalmente? O que mais impulsiona o amar? Será família aquela coisa que não escolhemos desde muitos pequenos? Dentro dessa comunidade, ainda existe mais conflitos, porque será que os gays são tão sexuais e banais? Será que são somente os gays? Ou os ditos normais são seres que conseguem camuflar essas questões tão melhor já que não entendem a diferença de gênero e sexualidade? Logo, surge um novo modo de pensar mais individual. O homem que não é mais protagonista e que pensa na carreira acima de qualquer coisa. Surge o amor mais egoísta e próprio, algo mais narcísico e sem qualquer obrigação com a vida a dois ou com o ideal antigo de casamento. Provavelmente, surgirá mais forte o movimento dos solteiros que não tem mais necessidade de levantar a bandeira da família e dos filhos, agora se esse fenômeno é fruto de um medo de não dá certo, isso não sei. Pode ser da necessidade de sobrevivência, é mais duro viver o mercado de trabalho ou a sustentação de outro ser. Talvez seja por outra questão, as pessoas são educadas no ideal dos Estados unidos de serem os melhores acima de qualquer coisa, eles estão mais preocupadas com essa questão, daí surge outra idealização platônica. O que é ser melhor? Será isso coisa generalizada ou elitismo? No fundo o homem passa por um fenômeno chamado a indiferença do pós-modernismo, as pessoas estão cagando para questões da vida e soluções para o mundo. As pessoas sempre só pensaram no seu próprio umbigo, eu vejo isso como o maior mal da humanidade. Se antes o amor era um ritual, na qual pelo código de cavalaria e nobreza se conquistava uma dama. Hoje o código é trocado pelos sinais da internet, as pessoas aprendem com os comercias a fazer campanha sobre elas mesmas nas redes sociais, um foto artificial ajeitada por algum programa, funções a mais nas informações pessoais. Se antes os sinais do amor eram demorados, hoje é muito fácil à primeira relação amorosa, o primeiro toque, a primeira troca, o visual da Web can e outras coisas. Tornando as coisas mais desgastas e transitórias. Se antes havia um esconder sensualizado, hoje tudo é mais nítido. Há os que defendam isso como bom, ou os que defendam como algo mal. A única coisa que não defendo é sentimento fingido ou coisa do gênero- Imagina você conhecer Derpina na sala de Bate-papo, ela te mostra uma foto linda capa de Play Boy e quando finalmente vocês se conhecem vê aquela coisa que não condiz com a propaganda. Nessas horas cadê o Procon?

Podemos também classificar a globalização como conflito principal, antes o sonho do homem era juntar as pontas da distância. Para a grande ironia do destino, ele conseguiu criar meios de comunicação muito eficazes como a internet, redes sociais e tecnologias eletrônicas que conseguiram deixar os humanos mais próximos em um clique, mas que causou o maior distanciamento da história. No fundo essas informações deixam os humanos mais próximos do modelo de escolha, tudo se tornou muito rápido, várias opções de consumo e de entretenimento. As pessoas só querem ocupar a mente, esquecendo-se do toque e do outro.
As pessoas estão indiferentes ao olhar, ao encontro, ao notar, ao gesto. Os amores são rápidos como a noticias do portal da web. Eu sinto o mundo mais próximo e as pessoas mais distantes das outras, frias e individuais ao que sente. E cada vez mais o amor é algo abstrato, uma mentira mal contada, melhor ainda, o amor é uma mentira contada várias vezes que se tornou uma verdade. Então com isso tudo surge um novo amor artificial como a vida de um robô, um novo modelo de pressão social. Na rede a maioria levanta questões antigas não praticadas como algo bonito, mas que no fundo a ordem do mundo não permitiria que elas vivenciassem. Os status no facebook, as datas comemorativas, a pressão familiar, o modelo dito é uma nova forma de dizer as pessoas: você é um merda por não ter ninguém ao seu lado. Muitos caem nesse conflito e pior, buscam com a velocidade da banda larga preencher isso sem pensar muito, até sendo de maneira errada para sua personalidade, causando mais dor e sofrimento.

Cheguei a um ponto a me questionar será que esse amar existe? Vou ser platônico ainda mais, o amor é coisa desse mundo? Dizem que o amor é Deus, por tanto Deus está em todos os lugares. Será o amor coisa mais simples do mundo e nós, seres humanos, é que complicamos? Será ele o brilhar do sol nas manhãs, a nova oportunidade que deita sobre os solos que nos diz todos os dias: “faça seu melhor, todo dia é dia de recomeçar”, seria a relva que corta a noite deixando a lua cheia e apaixonada e tal. Será ele a língua dos anjos que nos diz tudo suporta onde tudo é possível, será ele a inocência das crianças no seio materno sem saber de nada? Talvez eu seja muito romântico ao dizer isso, mas acredito que amor é coisa que é construída. Certa vez eu vi o amor na rua, era um velho bêbado caído no chão passando vergonha. Todo mundo olhava,mas quem ia amar essa coisa medonha? Suja, eca! Não existe um molde para isso... Lá estava uma senhora que pegou ele pelos braços e levou para casa. Porque ela fez isso? Naturalmente ninguém iria se apaixonar por aquilo daquela forma e situação, ela só fez aquilo porque eles construíram alguma coisa juntos. Por tanto, não existe amor à primeira vista, existe isso, ela pegou ele pelos braços quando ele não era digno. Talvez eu deva perguntar as crianças, elas me diriam qualquer coisa, e logo esqueceriam. O amor seria o esquecimento? Seria o amor; eu me doer a tal ponto, como Clarice se doeu por mineirinho, que aquela ultima bala cortou nosso peito como se fossemos um só? Seria o amor à dor de não ter, de vê a fome e a injustiça sem fim e do cume do monte o imperador chamado Egoísmo está a reinar eternamente? Enfim, não estou aqui para definir o que é o amor, mas uma coisa tenho certeza; à forma mais pratica de dizer que estou vivo é dizer a mim mesmo, sim, em algum lugar deve existir o amor. Sinto o amor nas simples coisas que a vida pode me oferecer sem qualquer obrigação de ser feliz. Mas com a completo obrigação de tentar,pois ser feliz é um risco eterno. O amor é esse verde, pequeno filhete verde na densa escuridão. :)

domingo, 25 de março de 2012

Lição da poesia.

Percebi a pouco tempo
que não é na aula de poesia
que aprenderei a ser poeta.

Assim como
para ser mãe não necessita de parir filhos.
Prega peças de laços de sangue que não é contrato.

E nesse ventre universo,
a poesia pousa nos mundos.
Imundo caos, filhos da necessidade, nascidos do acaso.

Enquanto a professora falava
de constelações
e Gregório de Matos

No casulo de mim
se fazia uma única
estrela cadente.

E dessa maneira, estende
poesia no mundo
no silêncio de mim e de outros.

Um feixo de luz crescente
ofusca os olhos
flutuando todo o meu sentir.

O peixe que morreu afogado.

Eriel era um menino muito pequeno, que trazia no peito poucas lembranças que vivia na mente, mal sabia que dentro desse lugar poderia outras coisas levar. Talvez por essa razão jamais poderia esquecer desse episódio: quando sua mãe lhe deu de presente um peixinho dourado, tão pequeno e indefeso.
Quando chegava da escola, quase todos os dias, ia com pressa e extrema ansiedade vê-lo. Até que certo dia quando chegou, encontrou o aquário vazio. Perguntou sua mãe o que tinha acontecido, e ela muito sem jeito disse que ele havia morrido.
Mas o que era morrer exatamente? As coisas desapareciam do nada? A mãe pegou o menino Eriel pelo braço, e levou-o até o jardim. Sentaram juntos num pequeno banco perto das flores, sem muito que esconder, sem onde rodear, disse:
- filhinho, os seres vivos morrem. Eles acabam, como se fosse balão de gás que estoura.
O menino Eriel estava nas nuvens e como o nada caiu.
A gente estoura mamãe?- perguntou.
-Não é bem assim, eriel, nós acabamos de alguma forma e perdemos a vida. O peixinho acabou para nós.
- ele sumiu mamãe? Foi viajar como a tia disse? Aquela viajem longa.
Foi quando a mãe e Eriel foram até a cerca das flores, e lá estava o peixinho, meio que frio, parado, sem se mover. A mãe fez o buraco e o menino botou com carinho ele dentro, e desse modo enterraram ele perto das flores coloridas.
- Nunca mais vou vê ele, mamãe?
- não, filho, nunca mais.
As palavras começaram a tomar sentido para o menino. Nunca mais tinha um peso de milhões de dinossauros Rexes. A mãe pegou nos braços, e ninou no colo, esperando uma reação de desconforto da sua parte. E ele ali começou a pensar na sua mãe. Enfim, por um determinado dia, eles iriam acabar, estourar como um balão.
- mamãe...- chamou baixinho.
- O que meu filho?
- O peixinho morreu afogado?
A mãe parou perplexa. As mãos nos cabelos do menino, acariciando respondeu:
- sim, morreu afogado.
Havia escutado em algum lugar, que as pessoas que entravam no rio se afogavam. Mas no aquário também poderia acontecer, né?
- Mamãe, a gente nunca vai tomar banho de rio e nem de aquário! – disse o jovem menino.
- mas filhinho, as pessoas morrem de qualquer jeito. Dormindo, felizes, tristes, na rua, em casa.
O menino começou a chorar, era inevitável, ele iria morrer, e o pior, nunca mais poderia vê sua mãe.
- filhinho, não chora...
Ela só falava desse modo, repetiu isso umas duas vezes. As palavras são curtas, as únicas que ele encontrou naquele momento foram essas:
- Mãe, queria viver para sempre.
O tempo passou e o menino esqueceu. O aperto havia passado, e as palavras que pesavam começaram a serem leves como os balões de gás, quando foi ao jardim, no lugar do buraco havia encontrado uma bela flor. E como muita ansiedade chamou a mãe.
Ao vê aquilo, a mãe disse:
- veja filho, o peixinho se tornou uma flor.
Então quando sentia o aperto, o menino Eriel olhava as flores que cresciam, elas transformavam seu sentimento em constante alegria.
Com o tempo todas as flores do mundo, ele levava no seu olhar. Todas as cores tinham um significado assim como cada perfume.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Aqui vive uma Musa.

Sebastiana. Sim, é o feminino de Sebastião. A única coisa que sei que é o santo padroeiro do Rio de janeiro. Mas não é esse o meu foco, quero contar a história de alguém que não conheço. Mas como fazer isso? Pelo menos não conheço profundamente, apenas alguém que vi algumas vezes na vida.
Certa vez quando moleque botei no cassete o vídeo de meu aniversário de um ano. Lá na imagem pessoas já falecidas que nunca conheci e outras tantas que nunca vi, mas que talvez sejam vivas. Algumas totalmente mudadas. Inclusive eu mesmo, um pequenino branquelo de cachos bem dourados com terrível mania de pegar tudo do chão e por na boca. Mais desde cedo, algo me chamou a atenção: uma mulher de lenço na cabeça, negra e acanhada. Parecia bicho do mato. Sempre com a mão na boca para ri de alguma gracinha, perto dela, um rapaz que parecia ser seu filho. Vestidos de maneira simples e até simples demais.
O tempo passa na comunidade do Dendê. As coisas mais remotas da mente são as tardes raiadas de vento e sol, contornos da tarde e crianças saindo da escola. Minha mãe ia me buscar e subíamos a ladeira. Sempre a frente havia uma mulher, negra e com lenço na cabeça, já demostrava sinais do tempo, caminhante de maneira rasteada. E dos lábios de minha mãe sempre ouvia “Pobre Sebastiana, trabalhadeira”. Lembro que havia outros personagens talvez esquecidos como Tio Altino que sempre sentava numa cadeira de balanço na porta para pegar vento, com aquelas mãos calejadas de alguma roça no interior do Brasil que podia sentir pelo aperto da mão. Sempre esperava eu passar para oferecer doces com um riso simpático.
Lembro-me também das mães desesperadas chorando a morte de seus filhos mortos pelo tráfico. Dias tristes com sangue e tiroteios.
Até que um dia acordei e tinha uma nova ajudante na minha casa. Era Sebastiana, sim, aquela senhora. Ela sempre muito tímida. Tentava olhar para os olhos dela e só via uma espécie de tristeza. Desvio para encobrir os cantos. Lembro que quando ela ia lá a casa, minha casa ficava limpinha, mais tão limpa que nunca imaginei que alguém fosse capaz de ser tão caprichoso. Imaginava como seria a casa dela, pequena, polida, cheiro de óleo de madeira, com alecrim e ervas plantadas. Ela sempre me chamava de tico. Até hoje não sei explicar o porquê disso.
Sebastiana talvez fosse uma dessas mães que perde seus filhos nas drogas. Viciados, eles fogem de morro, por ameaças de traficantes. Já que eles não são capazes de sustentar seus fantasmas. Lá no centro, eles viram menores abandonadas cheirando cola de sapateiro. Fugindo dos agentes da FEBEM, já que esses são tão cruéis. Então esses meninos de alguma maneira trágica morrem. Sem chances de saber o que é um conto de fada, o que é ser criança, o que é esperar o papai Noel, o que é dizer “feliz dia dos pais”, sem saber como é o cheiro de pipoca dentro de uma tela na espera do novo filme da Disney. Talvez Sebastiana fosse dessas mulheres que trabalhou quando criança nos canaviais, que não sabe ler, que teve pais tão ignorantes que não souberam o que é carinho, talvez fosse irmã de vinte irmãos, quem sabe sofreu abusos sexuais e só soube uma linguagem da vida, apenas uma, trabalhar, trabalhar.
Certo dia, esqueci-me desses detalhes pois nunca perguntei minha mãe essas coisas, é claro, esse narrador tomou seu rumo, foi pra longe desse cenário. Alguns personagens perdidos. Cresceu em todos os aspectos e estarrecido de viver encheu de si. Caminhava, pensando nos afazeres quando saia do banco. Avistava uma senhora já tão senhora caminhando, com um lenço na cabeça e cheia de bolsas de mercado. Resolveu ajuda-la, tomou de suas mãos as bolsas e disse: levo a até o ponto para senhora. Ela com cabelos tão grisalhos murmurou: Brigado, meu filho, vou caminhando. É claro, dona Sebastiana já nem se lembrava de mim. Então ela foi. Sempre me lembro dela desse modo, andando à pé, toda vez que pego algum transporte levo esse exemplo. Sempre ladeirando a vida, sol à fio, lá estava a figura humana de lenço na cabeça.
Então penso no que escrever. Fico tentando elaborar personagens complexos, mais todos são tão inúteis diante de Sebastiana. Diante de Marias, diante de Altinos e de Tião. Só de pensar que nesse cenário carioca, nessa dificuldade de se manter de pé, lá está Sebastiana caminhando com os pés numa ladeira. Um Tião em algum canavial ergue os braços com a enxada nas mãos. Tantos Brasis ladeirando.
Talvez existam Mulheres tão preocupadas com o rumo da dieta, se a calça escandalosa de sexta vai entrar no final do mês, existam ainda mulheres promovidas por escárnios, outras pelo flash e o tornear das pernas. O tamanho do biquíni. Pouco importa. Mas Sebastiana é aquela que sempre vi andando à pé, vindo de algum trabalho, com cara de cansada e sempre vencida pelo tempo.
Com esse poder de escrever gravo aqui Sebastiana. Não é uma dessas musas tradicionais, com todo respeito à garota de Ipanema, Iracema e Madalena. Em meio à multidão, resiste esse rosto, apenas o outro, dentro dos outros, que deveria ser uma foto, essa que se chamaria “serei o que deveria me chamar” ou “o instante que me poderia ser”. Então Todos os dias elas resistem, apesar de não ter nenhuma delas na capa da veja, é claro, nenhuma delas pode ser a loira da cerveja, a capa dos jornais ou a coqueluche do inverno. Apenas fotos que poderia ter perdido o instante, mas que apenas insiste em renovar-se. Ali novamente, um sorriso mal visto, um bocejar cansado, um ônibus lotado, alguns minutos poucos somados. Silêncio.
Então quando atravesso o sinal e vejo Sebastiana com o lenço de chita na cabeça, rodada como baiana e cansada como Assum preto- percebo que tenho que fazer algo, logo ela será esquecida e engolida pela roda viva, pelas entranhas capitais juntos dos restos- cinza e um futuro amago. Junto dessas cinzas escrevo um “S” bem tímido com risos tapados pelas mãos.
Aqui jaz, não. Aqui vive Sebastiana. Aquela musa que me faz perceber o quando tenho que andar, e é claro, isso só não basta, tem que ser com as minhas próprias pernas.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Achados e perdidos

No telefone. Um final de semana em que era final do campeonato carioca. Flamengo e Vasco.

-hei, rapaz, jura juradinho que não vai me deixar?
- eu acho que não conseguiria isso, mas juro.
- eu tenho medo de te perder.
- Eu tenho medo de não me achar.


Abrir um e-mail com o coração acelerado subindo a boca.

Amor, porque vc foi some assim? Parece q vai me abandonar, às vezes sinto isso. Vc sempre com a cabeça na lua, deveria uma vez atender esse cel maltito ou responder as msg’s. Saudades das nossas noites, sentir suas pernas entre as minhas e de ouvir suas reclamações do mundo.
Vou te vê na terça que vem.
Bjs
AM
On Thu, 2 Feb 2009 12:54:33 -0200, AM wrote


Trabalhador da loja de flores. Paris. Ele, estrangeiro ilegal brasileiro. Ela, francesa. Ele, nem ao menos sabia escrever na sua língua materna, ela por sua vez, erudita aluna de um Liceu de artes.

Fico vendo os casais felizes. Hoje é dia de são Valentim, pessoas compram bombons e lindas flores. Todas as flores que arrumo têm um toque especial, detalhe e atenção. Fico imaginado a cena diferente para cada rosto. Nunca pensei que fosse bom nisso.
Ela sempre vem, compra tulipas amarelas e anda como graça. Fico com vontade de ler por cauda dela, sempre cheia de livros debaixo dos braços. Mas nunca falarei com ela, porque não sei a língua dela.
Todos que vem aqui parece felizes. Só os que vêm de preto que não. Sempre com cara de pensamento. Nunca sei o que falam, o que pensam, às vezes, tenho vontade de falar porque sinto saudades do Brasileiro. Para lembrar como era falar no Brasil. Sinto falta do feijão. Do arroz. Quando chego em casa começo a gritar para vê se ainda existo porque quando pego o metro sinto nada. Ninguém olha para cara de ninguém.
Quando amanhece fico feliz, porque a menina dos livros passa lá. Um dia mais feliz meu foi quando ela olhou para mim como se entendesse tudo. Apenas olhou por mais tempo, sem presa de cliente e pegou o ramo. Virou a esquina e nunca voltou.


O pensamento do amante nas horas sem conseguir dormir.

E nessas horas que penso em você. E sei que você tá nem aí para mim. Nessas horas que sinto mais saudades de você. Nessas horas que a gente deseja ter alguém para pensar no travesseiro. Nessas horas crio uma casa perto de praia ou perto da campina dos contos de fada. Nessas horas espero você voltar e te abraço. Nessas horas imagino coisas que queria fazer. E você lá sempre do meu lado, feliz, fazemos poupança do sorriso.


A resposta do amante.

Porque você quer me vê? Está carente né? Pois bem, você diz que me ama, mas darei o sexo barato a você. Ao menos pague o programa. Pague a web cam que eu assisti quando se exibia. Pague as horas que perdi com você. Tem pessoas que não merece que gastemos o tempo. É assim que me sinto, objeto descartável seu.
E você sempre exibindo dizendo que era humilde. Sempre querendo atenção. Começando com o muito, esquecendo que quantidade não é qualidade. O muito que de tão barato acaba sendo pouco. Miseravelmente descartados pelas futilidades do destino. Adeus biscate!
Att.
RR
Date: Sat, 4 Feb 2009 11:43:39 -0800


A última lembrança dos pedaços de alguém. Apenas um alguém sem identidade.

Oi,
Quando você acordar estarei longe, bem distante, e facilitarei para que você nunca saiba meu rastro. Talvez se eu pudesse entraria em sua mente como forasteiro e arrancaria todas as lembranças que me fizeram em sua vida. Uma a uma como arrancar uma pétala da flor quando surge o primeiro amor.
Fiz questão de vender o apê fodido que transamos enlouquecidamente tantas vezes. Nossos suores misturados e o sussurro de não me deixe. É isso que olho. Porque nunca levei a serio teus planos, nunca vi o que vejo nas pessoas e nos filmes com a gente. Jamais poderia continuar ali vivendo na nossa imagem ou com risco de você ir atrás de mim. A gente nunca teve necessidade de dizer as coisas um pro outro, coisas do tipo eu te amo, coisas que pessoas comuns dizem e querem. Talvez não precisávamos, ou quem sabe, somos capazes de sobreviver sem nós mesmos.
Então, juntei forças, e disse a mim que seguiria em frente sem qualquer vestígio seu. Jamais poderia viver vendo você agarrado com outra mulher. Sabe nunca te contei, mas aquele dia que fingi não sentir absolutamente nenhum ciúme quando conversei com você perto de sua mulher. Tive vontade de fugir dali gritando, chorar e perguntar a Deus porque você fez isso comigo. Será que nunca te passou pela cabeça que queria você perto dos meus braços? Que era duro dividir o peso de ter mais idade que você? Que é tão complexo não ter você no meu domínio e olhar sua presença nos braços de outra? Que não poderíamos suportar os conflitos que surgiriam se descobrissem nossa relação amorosa?
Sabe, ontem joguei na cama todas minhas fotos e documentos. Tudo que me diria quem sou, pois precisa saber quem eu era. Precisava entender porque repentinamente sua aparição na minha vida trouxe em mim a perda de quem eu era antigamente. Porque eu fazia tantas coisas que não faria para ter você mais perto? Inutilmente, sabemos que nunca adiantaria essas artimanhas, nem com todo esforço dos metres.
Todas essas perguntas foram minhas amigas e fieis companheiras nesse apê. Elas foram cruéis quando deitava a cabeça na fresta do travesseiro. E sempre foi melancólico ir até sua presença. Você nunca se tocou, nunca ao menos percebeu o quanto era egoísta em querer abraçar o mundo todo e me manter por perto. Meus fragmentos machucados e seu ego cheio por vê um cordeiro fitando os olhos em ti. Era duro carregar tudo isso nos ombros. Quando decidi largar o mundo e deixei o globo rolar por nossos pés a baixo. E você nem ao menos sabe que era um dos eixos preferidos que mantinha essa órbita girando e ainda de pé. Era um dos mundos que tinha na minha mente e eu, pobre de mim, perdido numa dessas tensas florestas, sem saber nenhuma noção de cartografia.
Sempre me perdia nas suas curvas, seus traços misturados ao meu suor, abrir suas calças e te tocar. Olhar seus olhos revirados de tesão. Subir em cima de você, e começar no histerismo, os sons ofegantes que cresciam juntos com seus movimentos sobre meu corpo. Sei que você gostava de ficar cansado. Nossas pequenas mortes, nossa textura de pele misturada. De tirar todo qualquer resquício de sentido, tudo intenso mesmo e sem folego. Você sempre me dizendo para deixar rolar, mas não, meu coração era a terra onde ninguém habita. A pele que habitava uma única estrela solitária a milhões de galáxias que expandiam, atravessava cosmos e constelações. O seu sempre será o lobo pirata em busca de tesouros e terras para explorar. De porto a porto. O meu nem sabia velejar. Apenas menti para ele que pisei no seu chão, que ali era meu lugar, mas não, sabia no fundo que você iria. Mas sempre vou antes, cansei do desprezo.
Talvez você não me entenda um dia, talvez nem queira olhar para meu rosto e sinta que seja o dono da razão. Ao certo ninguém é vencedor nesse jogo do amor, ninguém prejudicou ninguém, fizemos o nosso melhor, tiramos a rainha e o peão do xadrez. As peças foram para caixinha e se tornaram iguais.
Jamais esquecerei essa ultima transa, sua ultima palavra, seu boa noite. Jamais esquecerei, pois era como se o tempo previsse que seria a ultima vez. Então deixo essa carta perto da travesseira como um elefante que se separa da manada porque sabe quando chega à morte. Essa carta define a morte de nós dois. A morte de uma coisa que nunca começou. Eu sempre tentei me afastar da manada, porque sabia que as coisas morriam aos poucos. Por tanto não me procure, foi eterno da maneira que ficou.
Com todo sentimento.
LP


Nosso reencontro: Um epitáfio de biscoitos chinês da sorte.

Perguntou se havia algum ressentimentimento.
Disse que jamais havia alguma.
Era como entrar numa gruta escura.
Gotas frias tornam-se Estalactites.
Assim como mentiras cristalizam-se em verdades.


A senhora noiva e o senhor tempo que resolveram se casar.

Ela fez uma lista dos amigos e de todas as pessoas que conhecia. Notou que algumas já estavam longe. Pensou no que cada um contribuiu para sua vida. Estava naquele exato momento reflexiva, pois essa seria a lista de seu casamento. Pensou em como era uma amiga relaxada e que perderá grandes pessoas, pois nem ao menos se preocupou em demostrar o quanto aquela pessoa era importante para ela. Sempre esquecia de ligar para as melhores amigas, era suficientemente egoísta, sabia disso, não precisava a mente avisar de vez em quando.
Então depois que passou a viver um romance, era natural o esquecimento da utilidade de cada pessoa. Passava horas pensando no futuro e na casa que comprou. Coisas de mulher como decoração e dieta. Pensava em cada projeto de filhos que a ocupava só de pensar.
Fechou os olhos cheios de lágrimas, caíra em si, naquele exato e único momento desejaria todos os amigos bem perto. Resolveu procurar o significado da palavra amizade no google e achou "é a aceitação de cada um como realmente ele é". Ficou ali, parada, imóvel sem saber o que sentia. Aquele sentimento era claro, profundo, suficientemente para suportar despedidas, palavras duras e realistas, divisão e tantas pedras e desgastes. O que sentia não era competição ou querer guardar uma caixa de relíquias. E pensou que respeitava muita gente daquela lista que talvez nem soubesse que era seu amigo. Então pensou que nunca foi à casa de alguns, nunca sentou com eles numa tarde e desvendou seus maiores temores. Alguns, sabia pelo gesto, pelo olhar. Outros, conhecia bem a residência tanto dela quanto a deles, cada resposta de cor preferida, do filme que poderia odiar, dos sabores no supermercado. Outros tantos bastavam à existência e um dia ter divido um momento.
Pensou que poucas jóias da lista valiam mais que cinquenta pessoas que estavam por perto. Poucos conheciam mais ela que ela mesma, mais que seus pais, mais que seu futuro marido. Alguns estavam lendo suas linhas nesse exato momento de algum lugar em que ela não poderia ir. Outros desejam estar com ela. E todos eles nem sabem e nem fazem ideia do quando são amados de uma maneira única, mesmo que ela os encontre e conte de forma estúpida e espontânea, eles nunca levariam a serio. A maioria acha que amor é só assistência e dedicação. Mas não quando se trata de amigos. Amizade transcende alguma coisa que não sei o nome. A gente nem precisa dizer mais nada, tudo é invisível e já basta.
Ela mergulhou em cada um no seu pensamento. Imaginou os lugares lindos que foi, as viagens, as comidas que provou, as sensações que teve e desejou no fundo da alma que eles estivem ali juntos. Sem mais, queria não apenas dividir as tristezas que são fáceis de compartilhar, mas não havia centelha de felicidade sem aquelas pessoas da lista. Era terrível imaginar todo tempo que viveu sem eles.
Mas sempre, sempre, o tempo gira, e o que resta é enviar cartas, a sensação de rasgar uma carta, saber que alguém que muito ama escreveu com as próprias mãos. Dedicou o tempo, mediu as palavras e pensou nas melhores. A sensação de esperar o tempo do carteiro, esse tempo que já não é um inimigo, um amigo que anda sempre em frente, diferente do tempo de querer tudo rápido e ao mesmo tempo, diferente do tempo que clica curti numa mensagem do facebook, medindo o tempo que postou no mural de alguma timeline a palavra “saudades” que se tornou comum. O tempo que mede qualquer distância, aqueles amigos tão longe, que continuam fortes, outros tão pertos que o tempo faz mais distante que as milhas, porque o tempo rasga tudo que foi mal costurado e tudo feito com a sensação de paciência é eterno de algum modo. Um tempo que chega tarde que nunca mais vai demorar.
É claro que o tempo invejoso como é, separa aqueles, eles casam, vão estudar, terão outros interesses. Parece ontem que jantamos juntos numa mesa e escutei suas reclamações, palpites, seus mistérios e sonhos. Mas não temos que lutar contra o tempo, ele sempre tá ali nos ensinando a seguir em frente sem parar, os ponteiros sempre girando, nunca indo para trás. Ela então percebeu que éramos apenas vítimas de querer trazer a tona coisas passadas e imagens que deveriam ser apagadas.
Ela um dia sentiu a sensação de abrir a caixa das correspondências e vê um cartão de natal como sua vó fazia quando era viva mesmo morando perto. Uma letra borrada de boas festas distante e próxima. A sensação de esperar por aquela noite e receber do papai Noel os presentes de boa menina. Não, o tempo jamais apagou. Amigos queridos que queria ter sempre ao lado, jamais havia abandonado, sentimentos um pouco possesivo são incompatíveis com a amizade. Mesmo não dividindo toda vida juntos, ela tinha a completa certeza que alguma consistência do tecido da alma guardava em suas mentes, pensamentos e sentimentos que os mantinham perto. Mais perto do que ela supunha. Mais perto, bem mais fundo sobre teias de aranhas.






terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A fé cega.

Há mais que força
Mais que a intensidade do olhar.
Há mais que brilho que se possa imaginar.
Dos olhos, ainda perto, melhor se vê.

Os olhos só veem longe,
Acostumados ao céu- topo.
Os olhos só fitam a distância.
Distancias que molda o ser- o alto.

Mais é preciso entender a simplicidade
Para melhor entender o enxergar,
Tudo que é grandioso se faz por
Pequeno (menor que a fé que se traz no peito).
Há mais reflexos dos nossos cacos.
Do alto, se vê longe distante.
E com queda logo se esquece
Os olhos se prendem a miragem.

Mais jamais queira entender
A forma de reter os olhos
Sem motivo aparente de viver.
Do alto, apesar de ser visto por todos,
Não a se apetece e nem por prece
Adianta a queda forte.

Quaisquer olhos guardam bem
Sua alma, seu recanto do canto
Que ao longe o horizonte nos encobriu

Olhos que admiro, olhos guardará.
Só se ganha vida na aurora
Dos olhos dos outros a nos clarear.

Já o tempo nem ceifa.
Já não há hora
E nem verbar.
Nos olhos alheios passará a eternidade sem precisar abri-los.




Correr contra o tempo

Se você não voltar não vou suportar.
Hoje em dia o relógio já nem aguenta o ponteiro
prego o tempo à ilusão de costureiro


























Brigar com o tempo é o vão do caos do cais da solidão.
Saudade no peito aberto disperso esquecer do tempo é mais que poético.

Não sei ser poeta, porque sempre rasgo folhas.

Escritos de um bar.

Não saberei do ontem
Nos raios dourados de outrora nítidos na face.
Tudo que me vem agora
E o que nos convém
Quem sabe ate lá
Ao entrar nos teus olhos
Possa me encontrar

Eu que quase não dedico
versos a alguém, já nem sei
ao menos o que é tê-los.
Tudo que sei é que aqui sentado tenho me invertido no teu eu calado.
Dispersos do agora vamos aos palmos de nosso horizonte.

Já não temos medo do mundo
Somos um com eternidade
E se existe verdades, não temos compromisso delas.

Tudo que sei é que o pouco que tive
Perdi ao te avistar em mim.

Passarão passarinho

lá estão as imagens
pobres tiragens
o carro buzina
a moça exibe seu corpo.
A senhora quer limites
Todos querem passar.

O ônibus
O menino de mochila
As sombras
Alguém que berra
Um que xinga
Todos querem passar.

A calçada já nem tem espaço
Já mem me dou ao cansaço
As avenidas entupidas
Todos querem passar.

Ninguém pensou
Na noite que fazia, pobre dia.
A lua mordida morre em poesia
Sai da frente, vai passar a tia!
E vai enchendo as vias.
Todos querem passar.

Todos tem pressa para objeto
Que estampa o outdoor.
A pressa de um sorriso
Pay-per-view da TV.
Todos querem a remessa.
Mito do melhor.
A fresta vazão dos murmúrios de festa.

Parte minha doe em mim.
Passo correndo, passo rindo sem ri.
Todos morrendo por aqui.
Não ao vencedor, não há batatas!
Eu apenas remoendo em magoas.
Tenho a calma de nenhuma pressa.
O que me resta pro lado me virar.
Nessa vil tentativa: deixo todos passar!





Eucínico.com

Papel branco que escrevo e amasso.
Quadrado frio e tantos Backspace's.
Fios de madrugadas curto essa vibe web
Palavras que espero, só silêncios que nos encobre.
Olhares distantes na fresta de nossas telas vazias.
Já nada me fez ou faz. Logo atualizo tudo isso.

E depois te fazer meus pés facebook
Meus olhos tua web cam
compartilho coração sentimentos nulos.
140 caracteres sem características.
Então fico com a poesia,
com poucas palavras digo tudo que sinto.
E ainda sobrevivo mudo nesse mundo.