segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Vento nos versos.

Quem me dera ser vento.
Soprar nos quadrantes do espaço.
Esta nos lugares ao mesmo tempo.
Transpor mais o que passo.

Nas minhas direções
Vou sem rumo,
Das noites à manhã
Quando me percebo, sumo.

E assim meus versos vão
Na mais vã banalidade.
A tentativa de transpor um sentido,
Um momento ou qualquer vaidade.

Mas eles se tornam vento
Numa desordem de mim.
Não há o que prever no desalento
Só o que sentir. Vento aqui.

Às vezes, eles se tornam ventania
Partem sobre agonia.
Todos os sentidos transcritos
Não sinto. Grito. Vento aqui.

Então, meus versos vão embora
Para qualquer acaso.
Não haverá o que enxergar. Só a brisa sentir.
Por fim consigo: vento aqui!



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A obra Vento nos versos de Vinícius Luiz foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada.
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A lua sentir nela.

Já havia tempo em que Circe não sentia a vida como devia, depois de um longo tempo fardada a um sono por um feitiço. Ela que nos tempos primórdios medievais resolveu que era melhor se auto enfeitiçar para fugir das perseguições da inquisição.
Escondida em uma caverna escura e íngreme dormia seu corpo e foi então que seu feitiço foi quebrado por uma longa monotonia de segurança. Circe podia sentir seu ar quente encher os pulmões e ganhar novo sentido ou não? A mulher ainda aparentemente jovem levantou-se como num susto e então pode lembrar-se dos últimos instantes pós-sono. Talvez o mundo já fosse outro, talvez a vida já se repetisse em suas vias ou o marasmo tomasse conta dos tubos vitais de cada ser vivo. Foi quando saiu de uma medíocre caverna da qual estava intacta e sonífera nas frestas das paredes podia vê as sombras de mundo inanimado. Pode sentir nua novamente e tocou na boca para bocejar. A primeira coisa que fitou foi à lua tão clara e branca. A mesma que clareava seu ritual de sono naquela noite de um sabbath tão escuro e tenebroso.
Circe olhou à volta e foi então que saudosamente cumprimentou a lua cheia que deixava seu corpo de forma clara em uma penumbra. Era uma divindade sagrada. Era a natureza pungente.
Sentiu fome e sede. Foi quando sentiu um cheiro de um animal bem próximo entre os matos como numa velocidade de piscar os olhos, a mulher golpeou a fronte do pequeno veado campestre com um pedaço de tronco. De fato pode logo saborear as carnes ainda crua e saciar uma sede de tantos anos com um sangue ainda fresco e quente. Circe sentia o ar vivo das coisas, sentia a vadia alegria de viver e de estar pronta para o acaso.
Foi quando a mulher deitou no morro e pode sentir a grama sobre o corpo, olhou o céu como se pudesse comprimir a distancia de sua ralé existência. A lua ainda olhava como uma fera perseguindo a presa. Foi quando Circe se perguntou será que existe mulheres ainda como ela? Como era a raça humana? O que aconteceu com o mundo?
A mulher levantou-se com a curiosidade domando dentro e foi com a pressa de querer entender as questões na mente. Atravessou a floresta até chegar aos indícios de civilização.
Era uma espécie de vilarejo, havia luz e objetos estranhos. Homens saiam de dentro deles como se fossem engolidos por um bicho de quatro rodas. Alguns já exibiam um pesar de cansaço e derrota. Era estranho vê tantos quadros gigantes com homens sorrindo em tetos de grandes casas e na verdade nenhum aparentemente tinha aquilo no rosto. Circe assustou-se com a pressa de tantos e o sentimento frio de alguns como se não existisse nada a sua frente. Foi quando Circe resolveu ficar uns dois dias para espiar as relações humanas.
Voltou à floresta, desiludida, despreparada e no caos de si mesma. O mundo já não era o que dormira e o mundo não dormia, o mundo era um gigante cobra a se engolir. Em Nenhum deles havia uma chama que era essencial à existência. Dentro das crianças já não havia magia, dentro das relações havia sempre uma troca e ela pode vê uma nova perseguição das fogueiras. Passará uma festa ou duas. Mas não havia sentido nas comemorações. Nenhuma lenda poderia sobreviver diante da falta. Não mais comemoravam o nascimento do deus e a deusa trajava outras vestes azuis. Alguns deles pareciam tão convictos de suas crenças e estava pronto a lançar qualquer um a fogueira. Outros diziam de lago de enxofre e tal de satã. Era uma eterna disputa de quem era o melhor. Parecia que o mundo dormia em um eterno gelo, alguns só se sentiam satisfeitos com o sangue alheio e a escravidão de si mesmos. Circe entendeu que o mundo era o mesmo, mas as proporções eram maiores.
A lua ainda a percutia e era para lá que seus antepassados iam Já cansados da terra. Ela olhou todas as estrelas como se elas pudessem clarear um infinito escuro de seu ser. Circe já não tinha vontade de ali estar e de ali pertencer. Sentiu que seu corpo não era para aquele tempo, mesmo condenado ao feitiço para vencê-lo. Foi quando um gato a encarou entre as folhagens a sair. A lua deixa claro o lugar, mas não tão claro as coisas menos tocadas pelo físico. O gato rosou a pele da mulher e Circe retribuiu com um leve poupar de mão.
Sobre as velas, Circe estava pronta para seu ultimo ritual. Deveria retornar ao mundo dos seres encantados,lá naquela lua era o portal, com a ponta de um galho vez um circulo ao solo. Já não mais era o amor que a impulsionava sobre a lua cheia. Circe estava pronta para se entregar ao mundo da deusa. Com o punhal se fez sacrifício e o sangue rolou sobre o circulo. Circe pode voltar ao mundo da lua.
Bem, bem longe a lua ainda vigiava. A lua ainda perseguia aqueles que sonhavam. Aqueles que cruzam as mãos e se entregam a paixão. Aqueles que contemplavam o mar na solidão. Sim, o mundo já não tinha espaço para a magia. A natureza ainda resiste e diz estou aqui.
Lá a lua invadia um quarto, um sonho e um afagar. O gato miava entre os vilarejos, entre as casa com um tom sinistro. A lua era a sentinela de um gato místico com seus mios. E uma menina tinha pena do gatinho deitada na sua cama e pedi aos céus para passar a dor do gato. Mas não era dor de doer, era dor de existir. Lá no quarto, a menina olhava a lua. E não é que a magia ainda resistiria?





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