quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Aqui vive uma Musa.

Sebastiana. Sim, é o feminino de Sebastião. A única coisa que sei que é o santo padroeiro do Rio de janeiro. Mas não é esse o meu foco, quero contar a história de alguém que não conheço. Mas como fazer isso? Pelo menos não conheço profundamente, apenas alguém que vi algumas vezes na vida.
Certa vez quando moleque botei no cassete o vídeo de meu aniversário de um ano. Lá na imagem pessoas já falecidas que nunca conheci e outras tantas que nunca vi, mas que talvez sejam vivas. Algumas totalmente mudadas. Inclusive eu mesmo, um pequenino branquelo de cachos bem dourados com terrível mania de pegar tudo do chão e por na boca. Mais desde cedo, algo me chamou a atenção: uma mulher de lenço na cabeça, negra e acanhada. Parecia bicho do mato. Sempre com a mão na boca para ri de alguma gracinha, perto dela, um rapaz que parecia ser seu filho. Vestidos de maneira simples e até simples demais.
O tempo passa na comunidade do Dendê. As coisas mais remotas da mente são as tardes raiadas de vento e sol, contornos da tarde e crianças saindo da escola. Minha mãe ia me buscar e subíamos a ladeira. Sempre a frente havia uma mulher, negra e com lenço na cabeça, já demostrava sinais do tempo, caminhante de maneira rasteada. E dos lábios de minha mãe sempre ouvia “Pobre Sebastiana, trabalhadeira”. Lembro que havia outros personagens talvez esquecidos como Tio Altino que sempre sentava numa cadeira de balanço na porta para pegar vento, com aquelas mãos calejadas de alguma roça no interior do Brasil que podia sentir pelo aperto da mão. Sempre esperava eu passar para oferecer doces com um riso simpático.
Lembro-me também das mães desesperadas chorando a morte de seus filhos mortos pelo tráfico. Dias tristes com sangue e tiroteios.
Até que um dia acordei e tinha uma nova ajudante na minha casa. Era Sebastiana, sim, aquela senhora. Ela sempre muito tímida. Tentava olhar para os olhos dela e só via uma espécie de tristeza. Desvio para encobrir os cantos. Lembro que quando ela ia lá a casa, minha casa ficava limpinha, mais tão limpa que nunca imaginei que alguém fosse capaz de ser tão caprichoso. Imaginava como seria a casa dela, pequena, polida, cheiro de óleo de madeira, com alecrim e ervas plantadas. Ela sempre me chamava de tico. Até hoje não sei explicar o porquê disso.
Sebastiana talvez fosse uma dessas mães que perde seus filhos nas drogas. Viciados, eles fogem de morro, por ameaças de traficantes. Já que eles não são capazes de sustentar seus fantasmas. Lá no centro, eles viram menores abandonadas cheirando cola de sapateiro. Fugindo dos agentes da FEBEM, já que esses são tão cruéis. Então esses meninos de alguma maneira trágica morrem. Sem chances de saber o que é um conto de fada, o que é ser criança, o que é esperar o papai Noel, o que é dizer “feliz dia dos pais”, sem saber como é o cheiro de pipoca dentro de uma tela na espera do novo filme da Disney. Talvez Sebastiana fosse dessas mulheres que trabalhou quando criança nos canaviais, que não sabe ler, que teve pais tão ignorantes que não souberam o que é carinho, talvez fosse irmã de vinte irmãos, quem sabe sofreu abusos sexuais e só soube uma linguagem da vida, apenas uma, trabalhar, trabalhar.
Certo dia, esqueci-me desses detalhes pois nunca perguntei minha mãe essas coisas, é claro, esse narrador tomou seu rumo, foi pra longe desse cenário. Alguns personagens perdidos. Cresceu em todos os aspectos e estarrecido de viver encheu de si. Caminhava, pensando nos afazeres quando saia do banco. Avistava uma senhora já tão senhora caminhando, com um lenço na cabeça e cheia de bolsas de mercado. Resolveu ajuda-la, tomou de suas mãos as bolsas e disse: levo a até o ponto para senhora. Ela com cabelos tão grisalhos murmurou: Brigado, meu filho, vou caminhando. É claro, dona Sebastiana já nem se lembrava de mim. Então ela foi. Sempre me lembro dela desse modo, andando à pé, toda vez que pego algum transporte levo esse exemplo. Sempre ladeirando a vida, sol à fio, lá estava a figura humana de lenço na cabeça.
Então penso no que escrever. Fico tentando elaborar personagens complexos, mais todos são tão inúteis diante de Sebastiana. Diante de Marias, diante de Altinos e de Tião. Só de pensar que nesse cenário carioca, nessa dificuldade de se manter de pé, lá está Sebastiana caminhando com os pés numa ladeira. Um Tião em algum canavial ergue os braços com a enxada nas mãos. Tantos Brasis ladeirando.
Talvez existam Mulheres tão preocupadas com o rumo da dieta, se a calça escandalosa de sexta vai entrar no final do mês, existam ainda mulheres promovidas por escárnios, outras pelo flash e o tornear das pernas. O tamanho do biquíni. Pouco importa. Mas Sebastiana é aquela que sempre vi andando à pé, vindo de algum trabalho, com cara de cansada e sempre vencida pelo tempo.
Com esse poder de escrever gravo aqui Sebastiana. Não é uma dessas musas tradicionais, com todo respeito à garota de Ipanema, Iracema e Madalena. Em meio à multidão, resiste esse rosto, apenas o outro, dentro dos outros, que deveria ser uma foto, essa que se chamaria “serei o que deveria me chamar” ou “o instante que me poderia ser”. Então Todos os dias elas resistem, apesar de não ter nenhuma delas na capa da veja, é claro, nenhuma delas pode ser a loira da cerveja, a capa dos jornais ou a coqueluche do inverno. Apenas fotos que poderia ter perdido o instante, mas que apenas insiste em renovar-se. Ali novamente, um sorriso mal visto, um bocejar cansado, um ônibus lotado, alguns minutos poucos somados. Silêncio.
Então quando atravesso o sinal e vejo Sebastiana com o lenço de chita na cabeça, rodada como baiana e cansada como Assum preto- percebo que tenho que fazer algo, logo ela será esquecida e engolida pela roda viva, pelas entranhas capitais juntos dos restos- cinza e um futuro amago. Junto dessas cinzas escrevo um “S” bem tímido com risos tapados pelas mãos.
Aqui jaz, não. Aqui vive Sebastiana. Aquela musa que me faz perceber o quando tenho que andar, e é claro, isso só não basta, tem que ser com as minhas próprias pernas.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Achados e perdidos

No telefone. Um final de semana em que era final do campeonato carioca. Flamengo e Vasco.

-hei, rapaz, jura juradinho que não vai me deixar?
- eu acho que não conseguiria isso, mas juro.
- eu tenho medo de te perder.
- Eu tenho medo de não me achar.


Abrir um e-mail com o coração acelerado subindo a boca.

Amor, porque vc foi some assim? Parece q vai me abandonar, às vezes sinto isso. Vc sempre com a cabeça na lua, deveria uma vez atender esse cel maltito ou responder as msg’s. Saudades das nossas noites, sentir suas pernas entre as minhas e de ouvir suas reclamações do mundo.
Vou te vê na terça que vem.
Bjs
AM
On Thu, 2 Feb 2009 12:54:33 -0200, AM wrote


Trabalhador da loja de flores. Paris. Ele, estrangeiro ilegal brasileiro. Ela, francesa. Ele, nem ao menos sabia escrever na sua língua materna, ela por sua vez, erudita aluna de um Liceu de artes.

Fico vendo os casais felizes. Hoje é dia de são Valentim, pessoas compram bombons e lindas flores. Todas as flores que arrumo têm um toque especial, detalhe e atenção. Fico imaginado a cena diferente para cada rosto. Nunca pensei que fosse bom nisso.
Ela sempre vem, compra tulipas amarelas e anda como graça. Fico com vontade de ler por cauda dela, sempre cheia de livros debaixo dos braços. Mas nunca falarei com ela, porque não sei a língua dela.
Todos que vem aqui parece felizes. Só os que vêm de preto que não. Sempre com cara de pensamento. Nunca sei o que falam, o que pensam, às vezes, tenho vontade de falar porque sinto saudades do Brasileiro. Para lembrar como era falar no Brasil. Sinto falta do feijão. Do arroz. Quando chego em casa começo a gritar para vê se ainda existo porque quando pego o metro sinto nada. Ninguém olha para cara de ninguém.
Quando amanhece fico feliz, porque a menina dos livros passa lá. Um dia mais feliz meu foi quando ela olhou para mim como se entendesse tudo. Apenas olhou por mais tempo, sem presa de cliente e pegou o ramo. Virou a esquina e nunca voltou.


O pensamento do amante nas horas sem conseguir dormir.

E nessas horas que penso em você. E sei que você tá nem aí para mim. Nessas horas que sinto mais saudades de você. Nessas horas que a gente deseja ter alguém para pensar no travesseiro. Nessas horas crio uma casa perto de praia ou perto da campina dos contos de fada. Nessas horas espero você voltar e te abraço. Nessas horas imagino coisas que queria fazer. E você lá sempre do meu lado, feliz, fazemos poupança do sorriso.


A resposta do amante.

Porque você quer me vê? Está carente né? Pois bem, você diz que me ama, mas darei o sexo barato a você. Ao menos pague o programa. Pague a web cam que eu assisti quando se exibia. Pague as horas que perdi com você. Tem pessoas que não merece que gastemos o tempo. É assim que me sinto, objeto descartável seu.
E você sempre exibindo dizendo que era humilde. Sempre querendo atenção. Começando com o muito, esquecendo que quantidade não é qualidade. O muito que de tão barato acaba sendo pouco. Miseravelmente descartados pelas futilidades do destino. Adeus biscate!
Att.
RR
Date: Sat, 4 Feb 2009 11:43:39 -0800


A última lembrança dos pedaços de alguém. Apenas um alguém sem identidade.

Oi,
Quando você acordar estarei longe, bem distante, e facilitarei para que você nunca saiba meu rastro. Talvez se eu pudesse entraria em sua mente como forasteiro e arrancaria todas as lembranças que me fizeram em sua vida. Uma a uma como arrancar uma pétala da flor quando surge o primeiro amor.
Fiz questão de vender o apê fodido que transamos enlouquecidamente tantas vezes. Nossos suores misturados e o sussurro de não me deixe. É isso que olho. Porque nunca levei a serio teus planos, nunca vi o que vejo nas pessoas e nos filmes com a gente. Jamais poderia continuar ali vivendo na nossa imagem ou com risco de você ir atrás de mim. A gente nunca teve necessidade de dizer as coisas um pro outro, coisas do tipo eu te amo, coisas que pessoas comuns dizem e querem. Talvez não precisávamos, ou quem sabe, somos capazes de sobreviver sem nós mesmos.
Então, juntei forças, e disse a mim que seguiria em frente sem qualquer vestígio seu. Jamais poderia viver vendo você agarrado com outra mulher. Sabe nunca te contei, mas aquele dia que fingi não sentir absolutamente nenhum ciúme quando conversei com você perto de sua mulher. Tive vontade de fugir dali gritando, chorar e perguntar a Deus porque você fez isso comigo. Será que nunca te passou pela cabeça que queria você perto dos meus braços? Que era duro dividir o peso de ter mais idade que você? Que é tão complexo não ter você no meu domínio e olhar sua presença nos braços de outra? Que não poderíamos suportar os conflitos que surgiriam se descobrissem nossa relação amorosa?
Sabe, ontem joguei na cama todas minhas fotos e documentos. Tudo que me diria quem sou, pois precisa saber quem eu era. Precisava entender porque repentinamente sua aparição na minha vida trouxe em mim a perda de quem eu era antigamente. Porque eu fazia tantas coisas que não faria para ter você mais perto? Inutilmente, sabemos que nunca adiantaria essas artimanhas, nem com todo esforço dos metres.
Todas essas perguntas foram minhas amigas e fieis companheiras nesse apê. Elas foram cruéis quando deitava a cabeça na fresta do travesseiro. E sempre foi melancólico ir até sua presença. Você nunca se tocou, nunca ao menos percebeu o quanto era egoísta em querer abraçar o mundo todo e me manter por perto. Meus fragmentos machucados e seu ego cheio por vê um cordeiro fitando os olhos em ti. Era duro carregar tudo isso nos ombros. Quando decidi largar o mundo e deixei o globo rolar por nossos pés a baixo. E você nem ao menos sabe que era um dos eixos preferidos que mantinha essa órbita girando e ainda de pé. Era um dos mundos que tinha na minha mente e eu, pobre de mim, perdido numa dessas tensas florestas, sem saber nenhuma noção de cartografia.
Sempre me perdia nas suas curvas, seus traços misturados ao meu suor, abrir suas calças e te tocar. Olhar seus olhos revirados de tesão. Subir em cima de você, e começar no histerismo, os sons ofegantes que cresciam juntos com seus movimentos sobre meu corpo. Sei que você gostava de ficar cansado. Nossas pequenas mortes, nossa textura de pele misturada. De tirar todo qualquer resquício de sentido, tudo intenso mesmo e sem folego. Você sempre me dizendo para deixar rolar, mas não, meu coração era a terra onde ninguém habita. A pele que habitava uma única estrela solitária a milhões de galáxias que expandiam, atravessava cosmos e constelações. O seu sempre será o lobo pirata em busca de tesouros e terras para explorar. De porto a porto. O meu nem sabia velejar. Apenas menti para ele que pisei no seu chão, que ali era meu lugar, mas não, sabia no fundo que você iria. Mas sempre vou antes, cansei do desprezo.
Talvez você não me entenda um dia, talvez nem queira olhar para meu rosto e sinta que seja o dono da razão. Ao certo ninguém é vencedor nesse jogo do amor, ninguém prejudicou ninguém, fizemos o nosso melhor, tiramos a rainha e o peão do xadrez. As peças foram para caixinha e se tornaram iguais.
Jamais esquecerei essa ultima transa, sua ultima palavra, seu boa noite. Jamais esquecerei, pois era como se o tempo previsse que seria a ultima vez. Então deixo essa carta perto da travesseira como um elefante que se separa da manada porque sabe quando chega à morte. Essa carta define a morte de nós dois. A morte de uma coisa que nunca começou. Eu sempre tentei me afastar da manada, porque sabia que as coisas morriam aos poucos. Por tanto não me procure, foi eterno da maneira que ficou.
Com todo sentimento.
LP


Nosso reencontro: Um epitáfio de biscoitos chinês da sorte.

Perguntou se havia algum ressentimentimento.
Disse que jamais havia alguma.
Era como entrar numa gruta escura.
Gotas frias tornam-se Estalactites.
Assim como mentiras cristalizam-se em verdades.


A senhora noiva e o senhor tempo que resolveram se casar.

Ela fez uma lista dos amigos e de todas as pessoas que conhecia. Notou que algumas já estavam longe. Pensou no que cada um contribuiu para sua vida. Estava naquele exato momento reflexiva, pois essa seria a lista de seu casamento. Pensou em como era uma amiga relaxada e que perderá grandes pessoas, pois nem ao menos se preocupou em demostrar o quanto aquela pessoa era importante para ela. Sempre esquecia de ligar para as melhores amigas, era suficientemente egoísta, sabia disso, não precisava a mente avisar de vez em quando.
Então depois que passou a viver um romance, era natural o esquecimento da utilidade de cada pessoa. Passava horas pensando no futuro e na casa que comprou. Coisas de mulher como decoração e dieta. Pensava em cada projeto de filhos que a ocupava só de pensar.
Fechou os olhos cheios de lágrimas, caíra em si, naquele exato e único momento desejaria todos os amigos bem perto. Resolveu procurar o significado da palavra amizade no google e achou "é a aceitação de cada um como realmente ele é". Ficou ali, parada, imóvel sem saber o que sentia. Aquele sentimento era claro, profundo, suficientemente para suportar despedidas, palavras duras e realistas, divisão e tantas pedras e desgastes. O que sentia não era competição ou querer guardar uma caixa de relíquias. E pensou que respeitava muita gente daquela lista que talvez nem soubesse que era seu amigo. Então pensou que nunca foi à casa de alguns, nunca sentou com eles numa tarde e desvendou seus maiores temores. Alguns, sabia pelo gesto, pelo olhar. Outros, conhecia bem a residência tanto dela quanto a deles, cada resposta de cor preferida, do filme que poderia odiar, dos sabores no supermercado. Outros tantos bastavam à existência e um dia ter divido um momento.
Pensou que poucas jóias da lista valiam mais que cinquenta pessoas que estavam por perto. Poucos conheciam mais ela que ela mesma, mais que seus pais, mais que seu futuro marido. Alguns estavam lendo suas linhas nesse exato momento de algum lugar em que ela não poderia ir. Outros desejam estar com ela. E todos eles nem sabem e nem fazem ideia do quando são amados de uma maneira única, mesmo que ela os encontre e conte de forma estúpida e espontânea, eles nunca levariam a serio. A maioria acha que amor é só assistência e dedicação. Mas não quando se trata de amigos. Amizade transcende alguma coisa que não sei o nome. A gente nem precisa dizer mais nada, tudo é invisível e já basta.
Ela mergulhou em cada um no seu pensamento. Imaginou os lugares lindos que foi, as viagens, as comidas que provou, as sensações que teve e desejou no fundo da alma que eles estivem ali juntos. Sem mais, queria não apenas dividir as tristezas que são fáceis de compartilhar, mas não havia centelha de felicidade sem aquelas pessoas da lista. Era terrível imaginar todo tempo que viveu sem eles.
Mas sempre, sempre, o tempo gira, e o que resta é enviar cartas, a sensação de rasgar uma carta, saber que alguém que muito ama escreveu com as próprias mãos. Dedicou o tempo, mediu as palavras e pensou nas melhores. A sensação de esperar o tempo do carteiro, esse tempo que já não é um inimigo, um amigo que anda sempre em frente, diferente do tempo de querer tudo rápido e ao mesmo tempo, diferente do tempo que clica curti numa mensagem do facebook, medindo o tempo que postou no mural de alguma timeline a palavra “saudades” que se tornou comum. O tempo que mede qualquer distância, aqueles amigos tão longe, que continuam fortes, outros tão pertos que o tempo faz mais distante que as milhas, porque o tempo rasga tudo que foi mal costurado e tudo feito com a sensação de paciência é eterno de algum modo. Um tempo que chega tarde que nunca mais vai demorar.
É claro que o tempo invejoso como é, separa aqueles, eles casam, vão estudar, terão outros interesses. Parece ontem que jantamos juntos numa mesa e escutei suas reclamações, palpites, seus mistérios e sonhos. Mas não temos que lutar contra o tempo, ele sempre tá ali nos ensinando a seguir em frente sem parar, os ponteiros sempre girando, nunca indo para trás. Ela então percebeu que éramos apenas vítimas de querer trazer a tona coisas passadas e imagens que deveriam ser apagadas.
Ela um dia sentiu a sensação de abrir a caixa das correspondências e vê um cartão de natal como sua vó fazia quando era viva mesmo morando perto. Uma letra borrada de boas festas distante e próxima. A sensação de esperar por aquela noite e receber do papai Noel os presentes de boa menina. Não, o tempo jamais apagou. Amigos queridos que queria ter sempre ao lado, jamais havia abandonado, sentimentos um pouco possesivo são incompatíveis com a amizade. Mesmo não dividindo toda vida juntos, ela tinha a completa certeza que alguma consistência do tecido da alma guardava em suas mentes, pensamentos e sentimentos que os mantinham perto. Mais perto do que ela supunha. Mais perto, bem mais fundo sobre teias de aranhas.






terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A fé cega.

Há mais que força
Mais que a intensidade do olhar.
Há mais que brilho que se possa imaginar.
Dos olhos, ainda perto, melhor se vê.

Os olhos só veem longe,
Acostumados ao céu- topo.
Os olhos só fitam a distância.
Distancias que molda o ser- o alto.

Mais é preciso entender a simplicidade
Para melhor entender o enxergar,
Tudo que é grandioso se faz por
Pequeno (menor que a fé que se traz no peito).
Há mais reflexos dos nossos cacos.
Do alto, se vê longe distante.
E com queda logo se esquece
Os olhos se prendem a miragem.

Mais jamais queira entender
A forma de reter os olhos
Sem motivo aparente de viver.
Do alto, apesar de ser visto por todos,
Não a se apetece e nem por prece
Adianta a queda forte.

Quaisquer olhos guardam bem
Sua alma, seu recanto do canto
Que ao longe o horizonte nos encobriu

Olhos que admiro, olhos guardará.
Só se ganha vida na aurora
Dos olhos dos outros a nos clarear.

Já o tempo nem ceifa.
Já não há hora
E nem verbar.
Nos olhos alheios passará a eternidade sem precisar abri-los.




Correr contra o tempo

Se você não voltar não vou suportar.
Hoje em dia o relógio já nem aguenta o ponteiro
prego o tempo à ilusão de costureiro


























Brigar com o tempo é o vão do caos do cais da solidão.
Saudade no peito aberto disperso esquecer do tempo é mais que poético.

Não sei ser poeta, porque sempre rasgo folhas.

Escritos de um bar.

Não saberei do ontem
Nos raios dourados de outrora nítidos na face.
Tudo que me vem agora
E o que nos convém
Quem sabe ate lá
Ao entrar nos teus olhos
Possa me encontrar

Eu que quase não dedico
versos a alguém, já nem sei
ao menos o que é tê-los.
Tudo que sei é que aqui sentado tenho me invertido no teu eu calado.
Dispersos do agora vamos aos palmos de nosso horizonte.

Já não temos medo do mundo
Somos um com eternidade
E se existe verdades, não temos compromisso delas.

Tudo que sei é que o pouco que tive
Perdi ao te avistar em mim.

Passarão passarinho

lá estão as imagens
pobres tiragens
o carro buzina
a moça exibe seu corpo.
A senhora quer limites
Todos querem passar.

O ônibus
O menino de mochila
As sombras
Alguém que berra
Um que xinga
Todos querem passar.

A calçada já nem tem espaço
Já mem me dou ao cansaço
As avenidas entupidas
Todos querem passar.

Ninguém pensou
Na noite que fazia, pobre dia.
A lua mordida morre em poesia
Sai da frente, vai passar a tia!
E vai enchendo as vias.
Todos querem passar.

Todos tem pressa para objeto
Que estampa o outdoor.
A pressa de um sorriso
Pay-per-view da TV.
Todos querem a remessa.
Mito do melhor.
A fresta vazão dos murmúrios de festa.

Parte minha doe em mim.
Passo correndo, passo rindo sem ri.
Todos morrendo por aqui.
Não ao vencedor, não há batatas!
Eu apenas remoendo em magoas.
Tenho a calma de nenhuma pressa.
O que me resta pro lado me virar.
Nessa vil tentativa: deixo todos passar!





Eucínico.com

Papel branco que escrevo e amasso.
Quadrado frio e tantos Backspace's.
Fios de madrugadas curto essa vibe web
Palavras que espero, só silêncios que nos encobre.
Olhares distantes na fresta de nossas telas vazias.
Já nada me fez ou faz. Logo atualizo tudo isso.

E depois te fazer meus pés facebook
Meus olhos tua web cam
compartilho coração sentimentos nulos.
140 caracteres sem características.
Então fico com a poesia,
com poucas palavras digo tudo que sinto.
E ainda sobrevivo mudo nesse mundo.