sábado, 7 de maio de 2011

Prólogo das coisas desabitadas.

Quando leres estes versos
lembra-te do que sentes.
Procure na palma de suas mãos
O que tens de melhor.

Nas vias da vida
desenrola um rolo de croché de todas as linhas.
Seja um gato despercebido das brincadeiras.

Se balanças o rabo
quando me leres nos teus versos:
Sentiras-me poema.

Precisa ouvir-te e buscar
no fundo dos teus eus desabitados.
Talvez, quando leres isto tudo já serás
manhãs, me és tardes. Crepúsculo.

Quando me leres amarais cem vezes,
sem o sê-lo. Cem sentir.
E quem sabe ao entardecer dirá palavrões.
Então purgará por sem ditos.

Amarais realmente, mas o mundo condena.

Quando me leres
pensará em filosofia
Ou nas festas das tuas juventudes.
Levantará de manhã cansado da rotina
e só então pensará na morte, me exaltará.

E quem sabe ao me ler
já pode ser noite das peles fritadas.
Escaldadas de sol. Talvez me sinta.
Só então medo e angustia.

Quem sabe me lerá
com pudor das volúpias?
Quem sabe entre seios
poderá revigorar-se dos tédios?

Entre partidas nádegas.
Entre meias palavras ditas.
Entre concertos e velhos
já não atritará nessas mentiras.

Ao certo, nunca me lerá igual.
Esqueça-te. Apaga tuas linhas. São inúteis.
Ao me ler daqui a cem anos
só fará em ler-te.

Assim vamos como rastros
sem qualquer rumo.
Procuramos pistas
dessas peças que pregaram.

Assim vamos como mimeses
dos nossos palcos
como plateia sem aplausos,
como quadros a nos pintar.

Assim vamos tecendo
o molde de poeta
com o próprio sangue-
escrito nos versos do corpo nú.

Assim damos o acaso
dos nossos suores.
Noites em claro
esperando parir.

Quando me ler
luta contra teus olhos.
Apaga tudo que foi dito.
Assim nem me verás mais: assim...

Passaram-se décadas.
Quando me lerdes
Já é tempo
e só então, olhará o redor.

Assim nascemos sobre dores de parto
Só para nos partir. Só assim
Iras me ler.

Assim acordes e colcheias
nos fazem palavras grafadas.
Guardadas não como tesouro, mas
com a intensidade das coisas da alma.

Assim as breves notas
com o canto dos líricos.
Sopro.
Musica lacrada por ti.

Quando me ler qualquer dia
pode procurar a musa.
Não achará só uma, mas duas...
Rosas despedaçadas.

Pode achar ruim ou não.
Pode sentir o que tens em mão
Assim já o é, já não é.
Somente será...

Assim tentamos preencher o vaco
com pedaços de ser assim.
Assim quando lemos
lutamos para mais um dia nos esquecer.

Somente quando ler isso. Olhe os reflexos
desses singelos versos que não o é se não o lerdes.
Ele nada tem, se você não trouxer e se não o levar.
Todas as linhas são espelhadas em ti.

Assim entenderá de vez: Quando me lerdes poderá verdadeiramente se vê dentro.



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