quarta-feira, 9 de março de 2011

O palhaço que fazia chorar.

Senhoras e senhores, respeitável público, bem vindo ao mundo dos circos! Um mundo estranho, mas o qual vocês nunca poderão sair sem ri e gargalhar. Nesse mundo tudo é possível. Aqui toda cambalhota é por nossa conta. É claro que não sobrará piruetas. Sempre é se pode sentir o cheiro de pipoca. Todas as cores vivas e extravagantes de nossas casas feitas de lona. Sempre podemos tira um coelho da cartola ou flores, se você preferi. A sociedade vivia tranquila e majestosa, só havia um ser estranho: um tal palhaço chamado Bonnes.
Bonnes não era de muitos amigos e não costumava a fazer apresentações. Talvez não houvesse encanto no oficio. Certo dia, esse que marcou cada habitante de Circolândia, o palhaço diferente fugiu de nossas terras sem mais retorno.
Em uma terra distante era carnaval e todos já apresentavam suas mascaras sobre o rosto. Enquanto a banda levantava o bloco com as marchinhas. A única obrigação era a felicidade. As serpentinas iam ao céu ainda nublado de tantas águas que se vinha sobre o verão. Eram urros e vozes embriagadas com a alegria. E uma tal Mocinha já sentia as dores de um amor, lá no meio, espremida e embargada no formigueiro de euforia.
Bonnes caminhava pelas ruas e fugia da alegria. Já estava cansado de qualquer barulho, e por ser palhaço, ele jamais poderia chorar. Tinha curiosidade de saber o que seria oposto dos sentimentos, queria um dia derramar lágrimas, mas não conseguia. Mas Bonnes tinha um plano em mente. Aquela era a festa da alegria e logo chegaria ao fim, foi então que pensou em fazer seu espetáculo. O plano não podia falhar.
Enquanto a banda passava e chamava os que estavam à toa na vida. O estandarte empinado como um pavão exibia seu excesso de escândalo sobre a multidão. As cores não mais se escondiam, elas podiam ser todas em uma. E as senhoras já não tinham cansaço, nenhum homem se lembrara de contas mensais, todos os amores foram perdidos e assim abria-se a avenida. O palhaço espreitava pelos cantos a hora de começar o espetáculo.
Era o fim. Quarta-feira de cinzas. Só restavam fantasias rasgadas ao chão. O bumbo e a bateria já não faziam barulho e nem se quer havia tumulto. Só havia uma menina. A mocinha desiludida de amor com o vestido florido rasgado. Um vestido polido, cetim, frágil assim como era as vias de cada forma de sonhar. Lá pelos cantos havia um mendigo feito animal a catar os cacarecos que mal podia se achar.
O palhaço se espantou, finalmente aquele lugar era diferente de sua terra. Lá os risos e gargalhadas eram tão constantes. Ali, todas as cores tinham um fim e um prazo a chegar. Era uma alegria feita como o vestido florido para acabara sobre cinzas.
O palhaço ia ao centro de todo resto e começava seu espetáculo. Só a mocinha poderia enxerga suas cores tímidas. Ele punha a mão ao rosto e tentava força lágrimas deixando a mão cair sobre a face, assim só fazia mais elasticidade. Ele nada sabia a não ser esconder e escorregar as mãos no rosto. E nem havia graça e gozação em cada gesto. Poderia vir um guarda para tira-lo? Era um louco? Estava atrapalhando? Só restam trapos aos palhaços que se vestia com o rasgado vestido. E naquela terra não havia como provar seu talento, pois nem sequer um papel moeda o palhaço tinha. Então, ele não poderia perder mais tempo. Tirou do bolço uma flor e foi até a mocinha desiludida de amor. Entregou em suas mãos. E para qualquer espanto de todos os seres dessas terras, uma lágrima brotou do olhar, bem no canto e trouxe um clarão ao coração do palhaço. Ele fez alguém chorar.
A mocinha mal conhecia a vida, mas podia dizer que a dela era aquele encardido vestido. Era qualquer trapo. Era um final de amor. Um menino que a machucou poderia ri em qualquer outro bloco agarrado com qualquer outra. Então, vai que os sonhos são assim? Vestidos acabados e resgados. Findava-se tudo. A bailarina menina tropeçada no próprio rodopio. Uma mulata conquistada pelo vira-lata. Um malandro convertido de suas maldades. Uma pequena cidade sem claridade. Fantasias que voltavam para o barracão. Então uma pequena procissão. E a fé só restou. Nossos pedidos ao céu ainda nem chegou. A vida é esse vestido que você guardará para outro carnaval e nem se lembrará da quarta-feira. E fará dos últimos dias um instante. Um instante de qualquer sonho que não se pode acordar.
E o palhaço? Sei que ele anda por aí e também um coisa tenho certeza: Só houve um dia em que ele foi realmente feliz. O dia em que ele pode encontrar as lágrimas daquela mocinha porque só a lagrima é a liberdade.




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A obra O palhaço que fazia chorar de Vinícius Luiz foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada.
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terça-feira, 1 de março de 2011

Os fantasmas do teatro.

O mais famoso e atraente ator procurava um lugar para se esconder. Seu nome era Roger Micos e imediatamente fugia da multidão de fãs e flash.
Havia um ensaio marcado dentro de uma espelunca encardida e abandonada. Uma sala de teatro velho. Era propositalmente, para entrar no clima da peça disse seu diretor empenando o nariz. Ninguém entraria ali, Mario, isso é um lixão! O diretor fez um gesto com a mão como que pedia silêncio. Chegado ao local, os dois teriam que esperar mais um dos grandes atores. A produção já estava estalada no local, mas faltava o principal deles. O mais brilhante e consagrado: John noone ( era assim que gostava de ser chamado, seu nome era joão, mas era chique ter nome gringo). Então John chega e todos se calam no misto de silêncio. O diretor rapidamente tarda em mostra os dentes e afetos esnobes. John nunca precisou justificativas, trabalhava onde queria, afinal era um grande ator.
Então nossos deuses começam seu ensaio depois de uma hora de concentração de John (era uma exigência do contrato). A mocinha que exibia as tetas gemia “oh my god”, os atores contracenavam a cena da morte e o brega se encarnava numa produção american. Não esquecemos que no Brasil nada preistan! Ok?
Foi quando lorde John se preparava para a cena da morte de seu personagem e...
- Diretor, estive pensando e acho que meu personagem não devia morrer.
- Como assim, John, estava previsto no roteiro, você leu o roteiro antes e aceitou o personagem-Dizia com ar incrédulo pondo a mão a retirar seu ray ban.
- Fale com o roteirista, ora. Meu personagem deve se vingar. Essa é a paradigma da estória-
Na verdade John não sabia o que era paradigma, mas sempre usava essa palavra para se sentir intelectual.
- Mas John, não há como. Estamos todos prontos e o que há de dizer o roteirista?
- Nem mais nem menos... Eu me recuso a trabalhar num texto assim.
O ator saiu do recinto sem nenhum receio enquanto o diretor ia atrás implorando aos berros. Alguns segundos, o diretor volta e começa a dá um ataque que lhe cabe o papel. Isso é culpa de vocês seus imprestáveis berra apontando para a produção. Chega por hoje, estou farto! Repetia aos urros e balançando os braços como se tivesse com os pulsos quebrados e ia pela porta dos fundos.
Depois que toda produção se foi, Roger Micos ensaiava seu texto sozinho no teatro mofado e cheio de tralhas. Não existia mais ninguém no ambiente a não ser sua presença. Roger tinha em mente ficar no lugar de John, era sua hora de brilhar mais forte. Foram quando as cortinas fecharam sozinhas. As velas apagaram. Será um serial killer? Aí que chique! Subia uma fumaça... E derrepente as cortinas abriam. Um espectro estava sentado na multidão vazia segurando um crânio de uma caveira. Roger logo pensou “Isso é uma piada”. O espectro trajava um figurino muito encardido e andava desengonçado. Exibe o crânio ao céu segurando como se fosse bola de boliche. E abriu a boca.
-Pensou que ia falar ser ou... Nada! – o espectro riu. – Gostou dos efeitos especiais? Veio de Hollywood .
O espectro mastigava alguma coisa e tinha um olhar perturbado. Ficava olhando a caveira como se tivesse fitando uma joia preciosa. Sempre caminhando desengonçado e ria feito besta. E sobe no palco e começa a atuar dizendo:
- Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
O Roger não conseguia falar e a boca aberta ainda perplexa. No meio de uma pausa e com os dedos sobre o a altura do rosto. O espectro então continua:
-Quero antes o lirismo dos loucos!!! O lirismo dos bêbados!!! O lirismo difícil e pungente dos bêbados!!! O lirismo dos clowns de Shakespeare!!! – o espectro parecia um bêbado a gargalhar no meio das pausas. Esticava as mãos e gritava mais alto:
- Não quero saber do lirismo que não é libertação!!!
A única palavra que Roger ajuntou foi...
- Mas, mas... O que é isso?
Gargalhava o espectro clow. Olhava o crânio e dizia:
-Fugindo dos fãs? Ohh, não se assuste!! Sou um bom ator também.
- Quem é você? Como entrou aqui?!
O espectro começa a se locomover e o olhar para os cantos do chão. E chiou num sussurro:
- Sou um qualquer... Eu moro aqui há alguns anos! Um dia levantei esse crânio e disse “ser ou não ser, eis a questão?”. Mas nada demais, estava procurando o botão do meu figurino... Você viu por aí?
- Mas a produção não me disse de outra peça por aqui....
O espectro juntou o dedo indicador na boca e sibilou. Começou a dizer:
- Não percebeu ainda? Vive fugindo de você mesmo. A arte é cheia de fantasmas, não percebeu que minha presença é tão assombrada. Sempre quis fazer esse papel, mas agora faço no além- se aproximou do rapaz junto de seu corpo.
O Roger se afastou com certo nojo dizendo:
- Como assim... Não pode ser... Só pode ser brincadeira de algum fã louco, produção!!! Eu só quero paz, estou cheio de seguranças, cheio de tumultos. Só desejo fazer um ensaio sozinho.
O espectro olha para o crânio e diz com toda ironia:
- Só têm eu e você aqui. Não sou seu fã e aliais interpreto melhor que você. Sempre fui feio, nunca precisei recorrer minha aparência para chegar aos principais papeis. Sou diferente de você, nunca transei com nenhum diretor para entrar nos projetos.
O Roger fica pasmo. Seu tom de pele muda e o sangue sobe a mente. Aquilo era demais, era um calunia das mais pesadas. Aí coitadinho, chame as fãs pata xingar muito no twitter!
Roger começa a pensar no que dizer, afinal não tinha nenhum advogado por perto. E então:
- Como assim? Quem é você para falar assim comigo? Irei te processar, seu merda!! Nunca te vi por aí. Sou mais famoso que você e estou nas capas de revistas!!
O espectro ri. Ergue o crânio e diz:
- Sempre com escândalos para aparecer, por que seu talento não fala por você? Existe gente melhor que você!! Eu sou um morto!! O fantasma de Hamlet do passado, um espectro! Você será visitado por mais dois fantasmas antes da meia noite... E irá passar a entender a arte! A arte tão corrompida, maus tempos para a arte! Tão comercial e tão agradável...
O espectro começa a criar fumaças a sua volta. Com um devaneio, Roger expele seu suor. As luzes começam a cair. A capa do espectro balançava ao vento, de onde vinha o vento? Gargalhadas. E o espectro grita de novo erguendo as mãos:
- Sonho é esse mundo artístico... Tantos sonhos babacas e baratos vendidos numa tela! Queira o pesadelo, a arte é um assombro!
Roger sentiu medo, fechou os olhos a dizer a si mesmo:
- Isto só pode ser um sonho!
- Sabe de quem é esse crânio, Roger? Seu!!- gargalhava mais o fantasma louco e pronunciava sinistramente:
- Queira ter medo, morri aqui onde você está... Pode ser contemplado por um sonho de muitos atores. Morre em pé num palco! E que o espetáculo continue...
As luzes se apagaram. Cortinas fechadas. Roger tentava procurar seu celular para clarear o breu. Seria aquela sala de teatro assombrada? Roger tinha somente uma certeza, sair dali. A mão sobre o bolço havia celular, mas com a bateira descarregada. O desespero tomou conta de Roger.
Uma música toca do outro lado da cortina. Um choro sobre o violão. Tango. Lastimas e lagrimas. Cortinas se abrem e um foco de luz. Sobre um homem tocando violão nas cadeiras da plateia. Era barbudo. Parou e começou a beber numa garrafa. Parecia não ter presa e nem vontade das coisas a sua volta. E começou o diálogo:
- Música, meu caro!! Precisamos ouvir com a alma...
- Mais um dos fantasmas idiotas... - disse o Roger, tentando arrumar uma forma de fugir rapidamente.
-Não, mais um das celebridades iludidas! Que tal uma foto? Qual é o nome daquilo que você não vive sem? Foto shop! Rostos brilhantes e angelicais! Não estamos num evento, não há credencial, nem exclusividade, não glamour! Está tão preocupado em passar um mundo perfeito?- interroga o bêbado tocando violão.
- Eu preciso ensaiar, não quero saber de vocês... Deixe-me, pare, por favor! Por favor!! – Pedia misericórdia Roger.
- Aí, a arte é assombrada! E preciso escutar os fantasmas falando ao ouvido! Escute... – O homem tratou de dá mais um gole na cachaça que asquerava o lugar.
-Cale essa maldita boca... – Roger levantou-se e saiu a correr até a porta, girou a maçaneta e descobriu que estava travada. O jovem ator mergulha o corpo a escorregar na porta, um sinal de perda aparente. Foi quando ele escutou ao longe a voz bêbada dizer:
- O mundo gira em torno de um maldito papel por que temos que ser iguais? Veja a música, quantos de nos calamos a boca, quantos de nos não cantamos mais a liberdade... Quantas musas tamparam nossos lábios, Cadê meus amigos? Preciso ser extravagante e se vestir diferente para agradar! Nossas músicas não dizem a vida!!- Parecia que o homem chorava.
Roger foi ate o palco, estava disposto a brigar. Mas o monologo ainda era do fantasma bêbado.
- Na televisão sempre as mesmas bandas e as mesmas pessoas... Você só precisa de um rosto bonito para agradar! Eu choro com isso... Como vou tocar no rádio? Não tenho gravadora!
- O mundo sempre foi assim... Você precisa de alguém para te lavar até lá. E assim... Interesses, uma troca, essa é a forma de sobreviver.
- Você só não é mais idiota que seus fãs. Que nojo admirar alguém como você... Eles gritam se humilham por um mero mortal. Alguém que nem respeita a caveira. Alguém que não grita e nem tem eco. Uma sombra. Eles fingem ser seu amigo, ele brigam por você, eles tiram fotos com seus amigos e sua família. Eles amam tudo, menos seu trabalho- Joga as cartas o bêbado que parecia bem lúcido ao se tratar de assuntos tão sérios.
- Respeite meus fãs, seu filho da puta!- Disse com ódio o jovem ator.
O bêbado joga a garrafa no chão e indaga:
- ué... Não era você que se escondia deles? Não era você que reclamava e falava mal deles?
O ator engoliu um seco estava de frente com todos seus fantasmas. Agora só faltava ter com o demônio.
- Arte não converte ninguém... A arte desconverte!
As cortinas se fecham. Faltava apenas um fantasma e ainda o espetáculo era tão escuro. Tão escuro!
Cortinas se abrem. E lá estava um poeta de sangue. Caminhava, ele era o mais sombrio de todos. Não havia sinal de humor. E começou seu santo discurso:
- A poesia, poesia morre e renascer a cada dia. Ela é mais que nos possamos imaginar!! Tá olhando o quê?– o poeta começa a ri sozinho.
- Eu me matei com muito orgulho... Viver nesse mundo é morrer em pé!
-Quem ia lê você? Seu louco... Olha o seu estado?- acusa o dedo o ator.
- Prefiro ser assim que ser esses rostos na televisão, prefiro ser fantasma!- diz o poeta.
- Nos temos dinheiro, entramos nas festas, somos queridos!- rebati Roger.
- Nos fantasmas somos reais! Você fantasia...- o poeta caminhava em direção ao palco, subia a pequena escada. Chegava perto dele e o ator encarou bem nos olhos a dizer:
- vocês estão mortos.
O poeta olha mais profundo nos olhos a dizer na mais breve pausa:
- será?! O que vai acontecer se você perder sua beleza? O que vai acontecer? Seus fãs vão te apoiar né? Irá fazer mais filmes e novelas? Beleza acaba... O morto enterra seus mortos, somos mortos! A diferença é que fantasmas sabem disso melhor que vivos. Isso nos deixa vivo! A arte nos traz vida! A poesia nos renasce, Somos vivos!
Pausas.
- Somos vivos, mas não somos vistos. Quantos textos espalhados! Quantos poetas calados! Quantas poesias no silêncio! Não temos espaço no meio de meio de mortos, mas assombraremos!- continuou o poeta.
- Pelo amor de deus, ninguém gosta de ler!!! Isso é cansativo, as pessoas querem vê programas e reality shows! As pessoas querem barracos, ninguém entende essas coisas artísticas. As pessoas querem bundas e bíceps!- o ator estava já cansado de tudo aquilo e estava disposto a acabar com aquilo logo.
- Claro que as pessoas leem... Revistas de fofocas e best seller são os melhores! Gosto de ser mortos nessas horas, tantos amigos intelectuais nas televisões, né? Um dia, você cresce e esquece tudo. Tantos fodões! Essas artes não fazem barulho! Tantos donos das línguas, tantas regras gramáticas, né? Escrever é para os eleitos, aqueles que dominam o santo mistério da língua culta e da lei da norma. Orgulho domina nossos meios, nossas vias e coxias. Nossas salas acadêmicas. Onde está a liberdade da arte?
O poeta estava cansado. Parecia que iria a qualquer momento falecer de si mesmo. Mas ainda assim reuniu as ultimas palavras.
- A arte é uma resposta sínica. Fingimento. A poesia nunca será corrompida nessa sociedade sem planos!! A poesia pode ser dita por um analfabeto, por que ela foge a linguagens!
- Eu só queria falar uma coisa antes de ir, nos fantasmas seremos esquecidos! Não seremos lembrados, nossas vaidades não precisam disso! Tantos como eu estão por aí... Nossas poesias não são só papeis, fizemos de nosso sangue e de nossa carne uma. Seremos apagados da sociedade, não fazemos questão de estar nesses outdoors. Pagamos um preço por sermos assim... Escute a voz dos vivos poetas!- berrava o poeta.
Pode-se ouvir na sala do teatro algumas vozes, algumas músicas, alguns poemas malditos e frases entoadas. Eram muitos como um coro da santa paz. E jovem ator procurava por a mão nos ouvidos, estava perturbado e queria já acordar. Estava tendo profundas alucinações.
- vocês sempre querem ser os do contra... São hipócritas, vocês desejam o nosso lugar! Essa é verdade!- Gritava aos ecos o ator.
Poeta já não estava mais ali, só restava sangue ao chão. E só podia ouvir sua voz com que num áudio acústico.
- Para que arte? Fechem nossos teatros, nossas lonas, nossos saraus! Arte é cara, coisa de burguês! Nos fantasmas somos mimeses dos quadros sócias! Somos tão assombrados! Nossos sonhos não são mais planos, nem intuições em conhecimentos, a nostalgia não mais nos incita e não há movimentos. Adeus arte! Até mais jovem estrela, brilhe nesse mundo escuro! Nem o demônio levará essa sua alma...
Cortinas fechadas. Fim de espetáculo. Breu total.
O ator agora se rebatia, suava e abriu os olhos num solavanco. O ator acordou de um sono. Onde ele estava? Olhou o espelho, estava a dormir dentro do camarim no sofá. Entra um homem e diz: dez minutos na coxia. Começou a retocar a maquiagem. Alguém bote a porta.
- Entra!
O diretor olha o rapaz e diz:
- É a sua noite, quero que destrua a critica, que seja mais que o John. Vai receber os fãs no camarim hoje?
- Claro que não. Dê qualquer desculpa.
- Então... Bom espetáculo!
Olhou seu ultimo instante sozinho e estava pronto. E não havia mais caveiras em sua mente e nem um vestígio de fantasmas. Só pensava em uma única coisa: como era difícil ser famoso!



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