quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mapas das terras passadas.

Eram sonhadores daqueles em que a mãe dava beliscões de vez em quando. Viviam sempre filosofando coisas vãs e aparentemente sem sentido. Seu passa tempo preferido era olhar o mar juntos. Eram amigos que não se desgrudavam dias e noites.
Pensavam que por detrás das linhas dos oceanos existiam novas terras daquelas que só ficavam nos sonhos. Terras essas que eram douradas e poentes de sol, repleta de encantos de sereia, bichos de cinco patas e mulheres radiantes de beleza desnuda- Como era nos tempos do Éden.
Um desses amigos só pensava no mar como aventura, queria sentir as ondas, pois gostava do campo da incerteza. Já estava cansado da mesmice- aquela vida era extremante igual ao restante dos humanos. No seu imaginário, sonhou um dia montar uma caravela e alcançar a terceira margem do mar- onde haveria o encontro dos rios e dos oceanos. Só assim poderia ele chegar à concha a qual ouvia desde pequeno o canto perdido das sereias nas águas escuras- Onde as terras misteriosas e profundas não podem ser mergulhadas nem uma vez, pois encontrar-se-á seu eu tão desabitado.
Então, não deram ouvidos aos sussurros, os três amigos nem prestavam atenção nos vizinhos que titubeavam malucos e loucos como nos dilúvios de Noé, construíram de vez um enorme barco e foram ao encontro do perdido. Um perdido deles mesmo para um encontro de apenas um.
Chegaram a tal terra e deslumbrados de tão beleza esqueceram-se do tempo. Descobrindo jazidas de ouro, riquezas inimagináveis que cresceram as artérias do puro coração. Deixando rastros de sangue.
Do paraíso vestiu-se purgatório onde fincaram uma enorme cruz de madeira em nome de todos os santos. Quem ia imaginar? Nem os três amigos podia imaginar que seus sonhos se tornariam escravidão, fome e cobiça. Enquanto uma parte pequena desfruta das grandes vantagens de descobridor querendo mais.
Nesses mapas desenhados pelos amigos não mais existia flores e belas arvores. Os rios aos poucos diminuía a intensidade do fluir. Então surgem chamas por todos os lados consumidas por uma vertigem de fumaça sobre céus que não mais refletem a cor dos mares- todos transmitem as cinzas do ser degradado. As mulheres perdem a inocência e trajam alguma roupagem veluda. Os três amigos não mais amigos, vivem de negócios e ódio e sangue. Negócios. Sangue. O sonhador louco se perdeu nas águas salgadas dos grandes navegadores. Porque navegar era preciso, é preciso. Viver? Viver é preciso? Viver é incerto e ninguém atinge. Então, as novas terras com fome voraz se tornam velhas terras.
Terras corrompidas por antigos ditadores dos tempos jurássicos justificadas pela bandeira da fé- Em nome Do deus e das aves quantas inquisições, quantas fogueiras, quantas torturas, quanto papel de pão foi escrito a arte, quantas repressões, quantas e quantas. Sobre um jazido feudo como nos contos de fada, surgem burgueses tão belos expandindo suas terras e ampliando seus lucros. Um mercado saturado de tantas ofertas e produtos. Surgem tantos sonhadores por pilhas de livros surrados. Aí que tédio narrar! Sonhadores brilhados de utopia sem perceber da ilusão do que é o novo que é velho. Para haver respeito aos demais camponeses, restos e baratas civilizatórias precisa-se a compra de um titulo. Então pobres artistas de alma e burguês exibem seus títulos sobre uma fachada em Ipanema, Barra ou qualquer sul. Mas esqueceram do brega que é querer atingir os nortes mundiais. Submundo descontextualizado.
Depois de queimar livros numa fogueira infinita- necessitamos de analfabetos. Mais? Muito mais! Quanto mais burros, melhor será o efeito do esquema dominó. Mais mortes inconscientes, mais filhos da revolução nas melhores universidades publicas- já que nossas escolas tradicionais católicas são feitas por nos mesmos. Manteremos o domino sobre a pirâmide sagrada onde só os escolhidos são eleitos e chamados.
Enquanto isso, um grande respeito brota em meu interior por esses barões de café donos de um monopólio de frota de ônibus. Esses senhores transporte também detém milhões de escravos que dependem desses lixos para chegar ao trabalho. Esse mesmo respeito me vem por esses grandes políticos eleitos por eles estampado nos seus jornais, pago por eles (senhores das novas terras)com luxuosas campanhas. Esses políticos que esquematizam a melhor maneira dos senhores café viveram felizes para toda eternidade. Amém!
Rapidamente, um montueiro de formigas tenta representação, mas os fogos dominam as cidades. Tudo é trevas e só se faz a expansão de rastros de sangue. Nada e ninguém podem fazer greve.
Os tiranos sentados confortáveis apertam o botão para que haja prisões dos desconfortáveis. Tiranos que tampam as vozes daqueles que gritam esfomeados com matérias inúteis nas capas de seus jornais verdadeiros e extremamente sérios.
Em nome de alguma entidade surgem templos sobre rochedos avançando por todas as novas terras como praga de plantação justificados por uma dor- trauma causado por esses bichos intitulados humanos. Agora surgem outros amigos, que não mais sonha com os mares, dispostos a atingir terras além-céu. E outros que já vende um lote dessas terras santas para os que só querem calma e sentimentos.
Assim e assim, nem mais ou menos assim, surgem sonhadores encantados por outras margens. Fatigados pela embragues do comum. Eles mesmos se esquecem do ridículo que é sonhar. Nessas terras habitadas exigem o normal.
O normal é contentar-se de doente e seguir um valor criado por uma vontade primeira- talvez essa mesma justificada por algum papiro inexistente divinamente humano. No fundo, todos os amigos e escravos tem um numero imaginário no pescoço. Todos vivem uma caverna de beleza ditada por um molde comum. Todos dão a morte suas almas para ser igual a todos. Uma grade invisível feita com as próprias mãos. Alguns ainda acham o qual ridículo e atrasado é o homem das cavernas e suas pinturas nas grutas. Outros riem com deboche irônico da politica dos romanos no coliseu. Orgulho preenchido por ter um carro voador? Só por ter atingido a lua? Porque descobriram uma vacina que os torna imortais?
Coisa pratica e vê um telejornal é acreditar em uma verdade. Sentar no sofá e só se importar com o programa de domingo. Ir todas às vezes numa semana na academia e planejar uma dieta para atingir aquele corpo helênico. Isso é ser feliz por completo, não pensar muito, ou quem sabe, destruir toda a estrutura sistemática das novas terras e ser torna um barão. Então você dará a todos eles um pão para que não grite mais e um circo para ocupar a mente. Esqueça de vez o quanto é ridículo esse nariz vermelho!
Três amigos cruzaram o mar em busca do novo. Sonhadores que não existem e nem existiram, mas movimentam uma linha imaginária. Somos algum sonho de três amigos do passado que nem nos imaginou. Depois de tantos planejamentos, teses, livros, dogmas e autocontrole tudo chega nisso? Nessa bosta. É isso que chamam de futuro presente? Futuro é coisa de gente iludida. Morto é o senhor do tempo cansado de rolar nas paginas as mesmas areias passadas e repetidas. Sonhamos um sonho de alguém que nem existi mais, sonhos são comprados com o próprio corpo e despidos das propriedades da alma. Vendem agora na tela outros baratos que nem terras velhas nos levam. Esses amigos sonhadores nem imagina no pesadelo que se tornamos. Então pra que sonhar? Alguém me belisca!
O futuro da à tapa uma face palhaça.
Um amigo se perdeu. Ele só queria o mar. Ninguém nunca mais ouviu falar dele. Um dia descobriu a imensidão de chegar à outra linha que se escondia dentro dos mares. Linha que ninguém teve coragem de ir. Chamaria isso de esperança ou fuga?



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A obra Mapa das Terras passadas de Vinícius Luiz foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada.
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