sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Um rio desperta sobre as margens.

Poucas coisas me fazem ter vontade de escrever, mas não poderia deixar passar despercebido esse motivo que é mais que uma razão. Não meu leitor, não terá nenhum efeito literário ou super grandioso. Será apenas mais um assunto ignorado. Vivi intensamente a política esses meses. Temos 68% aprovando a gestão do nosso atual prefeito do rio de janeiro contra expressivos 28% da candidatura de Marcelo Freixo. O que nos traz certa apreensão ou tristeza, porque esperávamos um segundo turno e mais chances de democracia. Mas não ocorreu, foi exatamente isso que me fez refletir: qual é o balanço disso tudo?

A diferença é essa palavra chamada balanço. São os 68% que dizem o balanceamento dos cálculos, números, porcentagens, protocolos contratuais, vinte partidos, quinze minutos de TV, milhões em campanha mais que publicitaria, interesses pessoais, ceticismo, aparências, efeitos visuais, copa, estratégico, automobilismo, olímpiadas e a velha forma de fazer acontecer para os que dizem que tem algo acontecendo, os que lucram com algo e os que acham que política é time de futebol. Os que insistem em dizer existir apenas uma força jovem torcida que ganha e a outra que perde, ignoram que todos perdem ou todos ganham, ignoram o espaço, as outras visões e até mesmo as experiências de vida.

Por outro lado temos grande numero de rejeição, votos nulos e 28% que somados passariam tranquilamente o balanço anterior. Uma campanha movida por um único partido social, articuladora, sem interesses pessoais e totalmente voluntária, sem salários de 1.500 reais aos militantes (maior até que um professor do município), movida pela força de mudar, pelo cansaço de não fazer nada e olhar calado greves, mensalões; uma campanha que enche a lapa com 15 mil espontaneamente de baixo de chuva, que move artistas que se calaram durante muito tempo, um campanha que era invisível no horário eleitoral, um minuto de televisão e que talvez não tenha mais de 2 milhões ao todo. Essa campanha movida pela emoção, pela ética de não sujar o que está imundo, de não calar o que se faz silencio comprado, de ascender o que aparentemente apagou-se.

Pensei tudo isso e fiquei um tempo parado, escutando todos os militantes falarem. E pensei o que isso tudo mudou em mim? Quem é os verdadeiros perdedores? Lembrei-me de umas das coisas que essa campanha me trouxe: lágrimas, sonhos e amigos. Quando pequeno, tudo era mais fácil de acreditar... Bastava falar de um velhinho que trazia presentes e logo eu era capaz de sonhar num noite em que todos sorriam. Quando cresci, o sistema e todo esse balanceamento que rege o mundo me trouxe certo ceticismo. Será que o mundo vai mudar? Será mesmo que o humano tem valor? Será que um pequeno grupo é capaz de mudar todo balanço de números, dinheiro, empreiteira e empresários? Tudo que eu passei a esperar do futuro era uma espécie de “sonho” que eles mesmos balanceavam, vontades teriam que ser por meio de um estudo ou razão que faria sonhar um número de casas, roupas, carros e aparelhos que mudariam com o tempo estipulado por eles. Quanto maior o quantitativo mais vencedor seria. Ao vê a figura dessa campanha de Freixo, pensar em todos numa sociedade, num futuro, ao vê muitos jovens acreditando, participando, deixando de estar apenas numa rede social, abrindo mão de um domingo parar panfletar no sol quente do Rio, vendo senhoras como Dona Deia, que teve muitas decepções politicas com força e vontade. Tudo isso ascendeu em mim à capacidade de sonhar perdida na infância. Esse sonho com candura e inocência.

Essa campanha me reaproximou de muitas pessoas que não via a tempo, estive frente ao passado, relembrei minhas origens, me fez perceber o que existe a minha volta. Não sou os 68% que ignora o mundo, os olhares, a corrupção, a desigualdade e a esperança. Faço parte da nova geração que se levanta, de um rio rebelde por varias causas, coisas que eu só lia em livros de histórias como caras pintadas e diretas já. Pude vê no meu comitê fotos de um PT antigo, de um sonho que significou uma vitória perdida, movimentos como o teatro de Boal surgirem lá dentro, pessoas que fundaram uma corrente socialista e viram morrer no mantado de Lula. Pessoas que fundaram o partido socialista e liberdade, incapazes de matar um inseto, com os olhos mais radiantes de brilho, são eles que dizem: “não sou homem para chorar, mas sou menino para apreciar as lágrimas” ou “não ganho um real, estou na rua pelo ideal”. Um ideal maior que o partido, maior que uma figura de Freixo, esse mesmo ideal que é a alma vencendo o limite do corpo e morte. São essas pessoas que abrem as portas de sua casa, gastam gasolinas de seus carros, vestem uma camisa soando nela, pingam lágrimas a finco e vê de perto renascer das cinzas um novo movimento social que aparentemente tinha fechado suas portas ou pendurado suas chuteiras. Quem é o perdedor? São esses que ignoram o que poderiam viver, fecham os olhos para o que acontece a sua volta, que evitam discutir assuntos tão atuais na sua cidade, são esses que se deixam vencidos pelo numero, que conhecem os problemas mas dizem que eles não existem. Perdedores são esses que perdem todo tempo ignorando que existe algo maior que interesse e seu próprio mundinho. Perdedores são esses que se esquecem dos outros, dos sonhos e da capacidade de contemplar o outro. O que nos movimenta é essa linha do horizonte inatingível, mas que nos faz caminhar ao nosso melhor lado. E vencer é chegar próximo ao nosso melhor, sendo também, conhecer uma faceta do amor. Só os vencedores não se cansam de caminhar, só os vencedores sabem que seu sonho de vê um mundo igual não há balanço matemático, quantitativo e real que o supere. Porque coisas de vencedores são muito menores e grandiosas suficientes para silenciar o tempo.

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